Os tomates ainda estão verdes, mas já aguçam a curiosidade das crianças. Para o pequeno Eduardo Henrique Maia Rios, da turma G4 da professora Beatriz Maltauro – ou ‘profe’ Bia, essa, na verdade, é a grande graça. “O que eu mais gosto da horta é ver as coisas crescerem”.

Na Emeb Prefeito Vasco Antonio Venchiarutti, do Caxambu, escola do Eduardo e da ‘profe’ Bia, as crianças aprendem desde cedo a se alimentarem de forma saudável e para isso contam com uma ajuda e tanto: a educação. Parte dos alimentos preparados na merenda escolar é plantado e colhido ali mesmo, pelos alunos, por meio de um trabalho de cuidado com o meio ambiente e de apresentação das hortaliças.

“Quando a criança participa do processo, do plantio, da rega, do cuidado, aquilo se torna muito significativo pra ela. Então ela vai ter vontade de experimentar porque ela participou de todo o processo. Isso incentiva a criança”, conta a professora.

Segundo a nutricionista Priscila Brazão Lumazini, o cuidado com a alimentação desde os primeiros anos de vida é essencial, pois é quando os hábitos alimentares são criados. “Essa é a importância de oferecer uma alimentação rica em nutrientes aos pequenos, baseada em alimentos in natura, como frutas, legumes e verduras, e reduzida em alimentos industrializados”. Estes hábitos, para Priscila, favorecem uma vida mais saudável, prevenindo e controlando a obesidade, evitando complicações à saúde, como diabetes tipo 2, hipertensão, doença renal, dentre outras.

Priscila ainda reforça que os hábitos de incentivo realizados pela escola devem ter continuidade em casa. Para a Giovanna Comparone Balestrin, do G4, este não parece ser um problema. “Eu queria comer tomate, mas minha mãe disse que meu pai já tinha comido tudo”, fala.

Mesmo não gabaritado, o pequeno Eduardo do G4 é um especialista quando o assunto é plantar e colher. Ele ajuda a ‘profe’ Bia no plantio e cultivo, mas deixa escapar que também aproveita o momento de mexer na terra para fazer um pouco de bagunça. “Ah, eu faço os dois”.

As PANCs

A implantação das Plantas Alimentícias Não Convencionais ou PANC na dieta escolar é outra iniciativa de Prefeitura de Jundiaí para que os alunos da rede municipal tenham uma alimentação ainda mais nutritiva. Além das que são oferecidas na merenda vindas do Vale Verde, espaço de plantio e colheita de vegetais orgânicos que vão direto para as Emebs, 30 escolas já têm hortas específicas para o cultivo da PANC. Ao todo, 25 espécies do grupo de não convencionais são plantadas no município, entre elas, a capuchinha, a mais bonita da horta segundo a pequena Giovanna.

“Eu e meus amigos gostamos de comer capuchinha, com arroz, com feijão”.

Na tarde desta quarta-feira (16), a merendeira Inês a preparou com um patê, servida no pão para as crianças. Hora ou outra, alguém ignorava o lanche e ia direto para a planta, colocando as folhas na boca e sentindo o sabor característico da PANC de flor colorida.

Segundo a diretora, Selma, nem todas as crianças comem todas as hortaliças, especialmente as PANCs, mas apresentar as folhas e vegetais ainda nessa idade é como plantar uma sementinha – papel que toda a equipe escolar tem desenvolvido. “Toda semana quando chegam as PANCs, a merendeira Inês vai até a sala, apresenta, deixa que as crianças cheirem, toquem, sintam a textura. Ela ainda criou o Relógio das PANCs, que é uma roleta em que crianças colocam o ponteiro correspondente a PANC que vai ser consumida no dia. Tudo isso pra incentivar”, conta.

“Apesar das PANCs não fazerem parte da alimentação habitual dos brasileiros atualmente, são altamente nutritivas e resgatam nossa biodiversidade e os valores de uma alimentação mais sustentável. Assim, a sua apresentação às crianças, além de promover mais variedade alimentar e enriquecimento de nutrientes, exerce uma função cultural e econômica”, defende a nutricionista Priscila.

A gestora da Unidade de Gestão de Educação (UGE) Vasti Ferrari Marques complementa. “O projeto Inova na Horta – o qual as PANCs estão inseridas – proporciona um resgate da culinária do tempo das avós, das bisavós, que utilizavam muitas dessas plantas naturais, tanto cozidas como cruas. Nós também acreditamos que, a partir desta iniciativa, está havendo uma redescoberta de novos caminhos. As famílias voltaram a cozinhar em casa, a descobrir novos sabores, novas formas de colocar em prática a vida saudável”, conclui.

A pequena Giovanna aconselha.

“Gi, como é que você sabe que a capuchinha é gostosa?”, pergunta a ‘profe’ Bia. “Eu experimentei”, fala despretensiosamente. E talvez seja essa a receita para uma alimentação mais saudável: experimentar.