No dia 21 de março, o mundo celebra o Dia Internacional da Síndrome de Down, uma data que reforça a importância da inclusão e do respeito à diversidade. No universo da moda, a representatividade ainda avança a passos lentos, mas algumas histórias provam que é possível quebrar barreiras.

É o caso de Maria Júlia, conhecida como Maju, uma modelo que mora em Jundiaí e que superou desafios, enfrentou preconceitos e conquistou espaço nas passarelas internacionais. De um diagnóstico desafiador à realização do seu maior sonho, sua jornada é um exemplo de determinação, fé e transformação.

Desde criança, a moda sempre esteve presente na vida de Maju. Criar looks, estilizar roupas e desfilar em encontros familiares eram suas diversões favoritas. “Acho que a palavra vergonha nunca esteve no meu vocabulário”, conta a modelo, que desde cedo demonstrava uma relação natural com as câmeras e passarelas.

No entanto, como pessoa com deficiência – vivendo com Síndrome de Down -, ela cresceu sem ver representação no mundo da moda. A imagem de pessoas como ela aparecia apenas em campanhas com apelo emocional, e a ideia de construir uma carreira no ramo parecia inalcançável.

O maior desafio e a virada de chave

Em 2018, sua vida mudou drasticamente quando Maju recebeu o diagnóstico de meningite bacteriana. O prognóstico era desolador: os médicos alertavam para possíveis sequelas graves, incluindo a perda de membros, visão e audição. Durante o coma, teve um despertar inesperado que fortaleceu sua fé e a levou a verbalizar, pela primeira vez, seu grande sonho: ser modelo. “Deus fortaleceu a minha fé e a minha esperança”, relembra.

Enquanto ainda estava no hospital, sua mãe começou a pesquisar formas de profissionalizá-la. A recuperação veio de forma milagrosa, e, em 2019, ela já estava formada e pronta para brilhar na maior semana de moda sustentável da América Latina.

“Pode parecer uma resposta óbvia, mas o preconceito, as limitações financeiras e a forma como o mundo ainda enxerga pessoas com deficiência são os maiores desafios”, explica.

Desde o nascimento, Maju enfrentou projeções negativas sobre seu futuro, o que impactou sua família. Crescer em uma sociedade que ainda não se comprometeu com a inclusão foi um obstáculo a mais, especialmente em uma cidade grande como o Rio de Janeiro.

“O dinheiro não combate o preconceito, mas financia oportunidades, básicas para muitas pessoas, mas muito inacessíveis para pessoas como eu”, destaca.

Conquistas marcantes na moda

Apesar dos desafios, sua carreira tem sido repleta de momentos inesquecíveis. Maju foi destaque na lista Forbes Under 30, como a primeira embaixadora com síndrome de Down da L’Oréal Paris e representou o Brasil em semanas de moda internacionais em Milão e Londres. “Cada pequeno passo no caminho de uma vida com propósito é muito significativo!”, comemora.

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A moda está mais inclusiva?

Para ela, houve avanços, mas ainda há um longo caminho a percorrer. “Nosso olhar sobre a beleza ainda é muito limitado”, afirma. A moda tem um impacto profundo na autoestima das pessoas, especialmente das meninas mais jovens, mas os padrões irreais continuam sendo propagados.

“Ainda acho muito setorizado. Nossa presença precisa ser mais naturalizada. Sonho com o dia em que ter pessoas como eu na moda será algo tão comum que nem chamará mais atenção.”

Ser uma inspiração é algo que enche a modelo de alegria e responsabilidade. “Fui de encontro a muitas portas fechadas antes de conquistar meu primeiro sim”, lembra. Saber que outras pessoas se inspiram em sua história a motiva a continuar. “Deus me deu um propósito: falar sobre a importância de permanecermos fiéis aos sonhos que Ele planta em nossos corações.”

Para Maju, a moda é muito mais do que um destino. “Ela é um canal, uma ponte, uma oportunidade de usar minha voz, de me expressar, de me conectar e trazer mudanças.”

Sonhos para o futuro

Apesar de sua carreira brilhante, seu maior sonho é construir uma família. “Sonho em casar e ter a minha família, dividir minha vida, meu propósito e minha missão.”

Para aqueles que também sonham em atuar na moda ou em qualquer outra área, sua mensagem é clara:

“Não fomos criados para viver conforme as expectativas alheias. Nosso diagnóstico é uma característica, não uma sentença. Descubram o que amam, sonhem alto e vivam com propósito!”