A professora Gisele Masotti, da Emeb Benedicta Alzira de Moraes Camunhas, que fica no Fazenda Grande, decidiu ensinar sobre gentileza para os seus alunos de 4 anos, com o intuito de resgatar gestos simples de respeito entre as crianças e todos ao seu redor.
O que ela não imaginava é que o projeto renderia tantos frutos e transformaria totalmente o comportamento dos alunos em sala de aula e, até mesmo, em suas casas na relação com os pais e familiares.
O projeto “Gentileza: seja gentil” foi trabalhado durante todo o ano e foi dividido em várias etapas, que incluíram desenhos, leituras, vídeos e muita conversa para passar para os pequenos o real significado de gentileza.
“O projeto buscou criar relações mais saudáveis, resgatar gestos simples como dizer um bom dia, um obrigado, um desculpe. Mas o que eu mais queria mais é que saísse dos muros da escola, porque a gente vê muita violência, intolerância e agressividade entre as pessoas. As pessoas andam com pressa, sem ouvir o outro”.
Ela também trabalhou as emoções, de suma importância para que a gentileza possa ser praticada. “As crianças pequenas têm dificuldades de expressar e entender suas próprias emoções. É normal sentirmos raiva, mas o que fazer com aquela raiva? Também falei sobre o amor e o carinho com o outro. O que podemos fazer para o outro ser feliz?”, continua a pedagoga.
O trabalho ao longo do ano
Tudo começou quando Gisele começou a passar vídeos para os alunos, ainda no começo do ano letivo, explicando de forma lúdica sobre o que é ser gentil. Depois, ela trabalhou livros e rodas de conversa, momentos em que os alunos já verbalizavam e demonstravam que já sabiam como praticar a gentileza.
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Um dos exemplos mais nítidos de como eles passaram a praticar boas ações é a do respeito com o aluno Rafael, portador de síndrome de down, autismo e outros comprometimentos.
“Ele necessitava de um ambiente com o mínimo de ruído possível, então eu fiz uma roda e expliquei isso para eles, disse que se fizessem barulho ele choraria. E eles se sensibilizaram. Pelo resto do ano eles fizeram silêncio na sala, acolhendo o Rafael. E criança nessa idade a gente sabe como é, fala alto, gosta de se expressar. Foi maravilhoso”.
E a gentileza também ultrapassou os portões da EMEB: Gisele diz que os pais começaram a contar sobre os comportamentos gentis dos filhos, que verbalizavam sobre o projeto em casa.
“Foi quando eu pedi para que os pais escrevessem um relato sobre o comportamento dos filhos, se eles notaram alguma diferença. Os pais enviaram e eu não imaginava o quanto isso tinha repercutido fora da escola”, conta.
E as histórias positivas foram várias: filhos que ajudavam a guardar os brinquedos, a colocar roupa suja no cesto, que compartilhavam o brinquedo com os outros, que ajudavam a avó a fazer uma série de atividades, dentre outras ações diárias.
Depois, os alunos pediram para que a professora fotografasse as gentilezas que eles praticavam no dia a dia escolar. Dentre as práticas, Gisele cita exemplos de alunos que ajudavam os menores que não alcançavam a torneira do banheiro a lavar a mão, o colega que ajudava o Rafael a se balançar no gira-gira, o aluno que ajudava o outro que não sabia amarrar o cadarço, dentre outros.
“Um dos exemplos mais legais é o do aluno que parava o futebol para que o Rafael pudesse jogar bola. Ele gostava muito de bola, mas no futebol era aquela correria, então ele parava tudo para colocar a bola no pé do colega”, relembra.
Os pequenos também externaram tudo que aprenderam sobre gentilezas em ilustrações deles mesmos. Os relatos também foram vários: dar bom dia, dar carinho no ‘cachorrinho’ e até ir com a amiga tomar vacina.
No final do ano tudo foi exposto na escola: os relatos dos pais, as fotografias e os desenhos dos pequenos. E, para a mãe do pequeno Rafael, foi surpreendente.
“Ela me disse que não imaginava que os colegas gostavam tanto do filho dela e até chorou emocionada ao ver o quanto as crianças estavam acolhendo o Rafael”, conta.
Aprendizado para a vida
Para Gisele, o projeto é um aprendizado para a vida e certamente marcou muito os alunos. “Eu ensinei uma canção sobre gentileza para eles. Uma aluna que era da turma e está morando em Minas Gerais me mandou mensagem recentemente pelo celular da mãe dizendo que está sendo agredida pelos outros alunos. Ela cantou essa música no áudio e disse que ia ensinar a gentileza para eles”, conta a professora.
Agora, ela quer que a iniciativa ‘voe’ e alcance outras escolas. No início deste ano, Gisele apresentou todo o projeto em um evento voltado para professores da rede pública de Jundiaí e ela diz que muitos se interessaram em aplicar a temática na sala de aula.
Ela também ganhou, no ano anterior, um prêmio da Prefeitura de Jundiaí de profissionais inovadores dentro da rede pública de ensino.
“Eu fiquei muito feliz, ainda mais pela possibilidade de ampliação desse projeto. A educação pode sim mudar o mundo, ainda mais se começar pelos pequenos. Durante o projeto eu vi que eles passavam todo o ensinamento para os pais. Ao longo do ano eles foram dando sentido ao que é ser gentil, tornando-se mais acolhedores uns com os outros e mais tolerantes”, finaliza a educadora.