Aos 72 anos de idade, a aposentada Edicleia de Arruda Zanini viralizou nas redes sociais ao conseguir finalmente realizar seu sonho de adolescência. No dia 25 de novembro, seu nome estava em segundo lugar no “listão” do vestibular da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
A aprovação de Edicleia aconteceu depois de seis anos que a idosa completou o ensino médio, aos 66 anos. Além disso, durante este período, a mulher ainda enfrentou um tratamento de câncer que durou três anos.
Após compartilhar a felicidade de ter sido aprovada na universidade para a família, uma das netas de Edicleia, a fotógrafa Alice Siqueira, postou a felicidade da avó ao receber a notícia. Até o momento, a publicação que viralizou tem mais de 120 mil interações.
“Minha avó leu o listão e pensava que era até exame médico. Depois se ligou e começou a chorar dizendo que era um bicho [gíria para calouro]”, conta Alice, orgulhosa.
Falta de oportunidade
Edicleia mora em Santa Maria e é mãe de três filhos. Ela conta que sempre sonhou em cursar a faculdade, mas precisou abandonar a escola muito cedo. Ainda adolescente, precisou começar a contribuir com o sustento da família e aos 20 anos se casou.
Com isso, precisou dedicar sua atenção aos cuidados e educação dos filhos, que cresceram e hoje são duas professoras e um oficial da Brigada Militar.
Em 2013, logo após conseguir sua aposentadoria, Edicleia retomou os estudos e completou o ensino médio por meio do EJA (Educação para Jovens e Adultos). Cerca de um ano depois de conquistar o ensino médio, pensou em prestar o vestibular. Mas, depois de descobrir um linfoma, teve que deixar o sonho de lado novamente. O tratamento quimioterápicos encerraram em 2018.
“Sempre tive vontade, mas faltou oportunidade. Precisei terminar o ensino médio em 2014, depois enfrentei um câncer, o que me fez adiar um pouquinho mais o sonho. Do ano passado para cá, melhorei e fiz o vestibular sem pretensão nenhuma. Tinha vontade, mas não esperava a aprovação”, conta a aposentada.
“Um sonho que ainda faltava eu realizar”
Mesmo finalizando o ensino médio com boas notas, o tempo que precisou parar de estudar para tratar do câncer baixou as esperanças de Edicleia. Ela contou com a ajuda dos filhos e dos netos para fazer a prova do vestibular.
A paixão por literatura clássica, como Machado de Assis e José de Alencar, que leu aos longos dos anos, a ajudou na hora de escrever a redação. “Os meus filhos sempre me incentivaram. Fiz o EJA e tive um bom desempenho com ótimas notas. Eu tenho gosto pela leitura e acredito que agora irei adorar estudar Letras. Amo os clássicos”.
Com as expectativas baixas, Edicleia conta que a aprovação foi uma completa surpresa. Ela não tinha nem conferido o e-mail, para saber se tinha passado ou não. Assim, um de suas filhas buscou o resultado e chamou a mãe para um almoço, para revelar a aprovação.
“Nem olhei no meu email. Fui à casa da minha filha e recebi a surpresa. Chegando lá, me mostraram o celular e até perguntei do que se tratava. Quando soube, comecei a chorar e tiraram as fotos. Fiquei muito emocionada e era um sonho que ainda faltava eu realizar”, conclui a aposentada.
Agora, Edicleia está ansiosa para iniciar o curso de letras e até comprou um computador para acompanhar as aulas à distância.
Inspiração na internet
Assim, ao receber a notícia, depois de chorar, Edicleia pintou os braços e o rosto como fazem os calouros das universidades e avisou toda a família. Alice, a neta que publicou a foto no Twitter, disse que muitas pessoas entraram em contato para dizer que a história foi inspiradora.
“A publicação não foi algo pensada, mas espontânea. Era para compartilhar somente com os meus amigos, não imaginava a repercussão. Estamos em um momento com tanta negatividade e pensei que eles iriam gostar. Muitas pessoas depois vieram até mim e contaram que ela serviu de inspiração para as mães ou avós que estavam fazendo o EJA”, conta a jovem.