Professor Maurício, do Sebo Jundiaí, prepara agora o Museu do Brinquedo
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Entrevistão

Professor Maurício, do Sebo Jundiaí, prepara agora o Museu do Brinquedo

Com mais de 5 mil itens, Museu do Brinquedo será aberto a todos, mas alunos e crianças sem condições de pagar poderão entrar de graça

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Maurício, como todo entusiasta da cultura e memória jundiaienses, tem a Ponte Torta como um dos maiores símbolos da cidade (Foto: Paulo Grégio)

O Tribuna de Jundiaí mostra, no Entrevistão deste domingo (21), a história do professor Maurício Ferreira, 59 anos. Este jundiaiense, morador na Vila Rio Branco, é fundador e atual diretor do Sebo Jundiaí, que com muito trabalho e respeito à memória e à historia se transformou no maior acervo do interior do Brasil, com mais de 120 mil livros e quase 80 mil quadrinhos à disposição do público.

Formado em Direito e docente há 25 anos em duas instituições de ensino, ele relembrou fatos marcantes das quase duas décadas de Sebo Jundiaí, das imagens que marcaram a história, do amor por Jundiaí e também dos planos futuros, que incluem até a inauguração do Museu do Brinquedo em Jundiaí.

Confira o bate-papo:

Tribuna de Jundiaí – Você administra o Sebo Jundiaí há muitos anos. Num mundo onde tudo agora se tornou virtual, como é trabalhar neste ramo?

Maurício Ferreira – Trabalho há 19 anos com o Sebo Jundiaí, um trabalho longo e que, no início, sofreu um pouco porque não havia a cultura das pessoas em adquirir produtos de segunda mão. Quando começaram as vendas virtuais, as lojas não tinham costume de fazer estoque, aí as pessoas iam até lá e não tinha o que queriam. E lá mesmo, quando isso acontecia, passaram a indicar o Sebo. Um livro que pagariam 50 reais, aqui custava 15 reais em boas condições e totalmente higienizado. Eu também vendo pela internet desde que comecei, estamos na maior plataforma de vendas deste tipo do Brasil. Ali são oferecidos produtos mais raros, como um livro autografado, por exemplo. Saem bem rápido, mesmo sendo mais caros. Mas quem gosta de garimpar sempre prefere ir até o Sebo, tenho clientes de São Paulo, Campinas e de Bragança Paulista, por exemplo.

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Mais de 120 mil livros e quase 80 mil quadrinhos fazem parte do acervo do Sebo Jundiaí (Foto: Arquivo Pessoal)

Tribuna – Sua página no Facebook com fotos antigas tem mais de 45 mil seguidores e um acervo de dar inveja. Como foi criar e organizar tudo isso? Qual é o tempo que te sobra no dia para trabalhar com essas imagens?

Maurício – Você se torna responsável por aquilo que cativa, como diz ‘O Pequeno Príncipe’ (clássico da literatura mundial). A página hoje é vista por pessoas de mais de 100 países, como Estados Unidos e Itália, que têm mais acessos. Aqui, depois de Jundiaí, temos internautas de São Paulo, Várzea Paulista e Campo Limpo Paulista, respectivamente, como os que mais acessam os conteúdos. Confesso que, no início, cheguei a acordar de madrugada para dar conta de tudo, pois durante o dia tinha quatro aulas de manhã e mais cinco à noite. Fico muito feliz e lisonjeado, também, quando as pessoas que moram fora do País fazem questão de me procurar para dizer que as fotos os fizeram recordar de alguém ou alguma história marcante. Numa dessas oportunidades, uma senhora veio do Japão para Jundiaí e agradeceu muito por fazê-la recordar dos tempos antigos. Outro que me emocionou muito foi um senhor de quase 90 anos. Ele chorou depois do filho lhe dar uma foto do tempo de escola dele, que estava no acervo. Na época, a família do idoso não pôde comprar a foto. Me identifiquei porque, na minha época de escola, também eram tempos difíceis. Não tenho imagens quando criança e isso nos traz uma curiosidade: as fotos nos dizem muito sobre o momento econômico que vivíamos no Brasil. Não temos registros mais antigos, por exemplo, dos bairros de periferia nas décadas de 1950 a 1970. Encontramos mais facilmente as fotos da região central, porque os comerciantes da época tinham câmeras fotográficas. As fotos dos anos 1980 também nos dizem muito: naquela época, Jundiaí era infestada de crianças pobres, que iam para as ruas pedir dinheiro para comer. Trabalhavam como flanelinhas, engraxates, carregadores de sacola… tudo por uma moeda. Hoje elas têm vários benefícios sociais, têm comida na mesa e estudo garantidos. É muito interessante ver as fotos por este viés econômico.

 

“Não tenho imagens quando criança e isso nos traz uma curiosidade: as fotos nos dizem muito sobre o momento econômico que vivíamos no Brasil. Não temos registros mais antigos, por exemplo, dos bairros de periferia nas décadas de 1950 a 1970. Encontramos mais facilmente as fotos da região central, porque os comerciantes da época tinham câmeras fotográficas”

 

Tribuna – E você, que está muito ligado à história, prefere a Jundiaí do passado ou a de agora?

Maurício – Ah! A vida, hoje, é muito melhor. Não tínhamos classe média no Brasil, né? Ou você era rico ou era pobre, tinha automóvel e mesa farta ou, como em casa, não tinha dinheiro nem para comprar um doce quando era criança. Lembro que a gente andava bastante a pé porque guardava aquele valor da passagem do ônibus para comprar um lanche, um suco. Tem muita gente que olha as fotos da página e diz que gostaria de viver naquela época, pelo glamour. Eu digo que hoje, em relação a tudo isso, estamos até que bem. Sinto falta, só, de um amor maior em relação ao nosso patrimônio. Na Argentina, por exemplo, todo cidadão zela e cuida do patrimônio. Aqui, infelizmente, você não vê isso. Amar a cidade é ter a certeza de que ela é sua, cuidar dela.

 

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Três marcos de Jundiaí: a Gelatina, o Foguetão (ao fundo) e o Bolão (Foto: Acervo Maurício Ferreira)

Tribuna – De todos os itens reunidos no Sebo Jundiaí e no acervo digital de imagens, tem algum especial para você?

Maurício – Tenho, claro! A foto do Parque da Uva, de 1973, feita pelo Orlando Crepaldi. Foi ali onde nasci e morei, essa é uma das preferidas. Imagine ter o Parque da Uva como quintal de casa! Tem uma imagem do fotógrafo Janczur, também, que é de 1954. Nela aparecem as novas joias que o prefeito Vasco Antônio Venchiarutti nos presenteou: o Bolão, Parque da Uva e a avenida Jundiaí. E uma foto do Centro antigo, dos anos 1940, da ‘Praça da Matriz’ em frente à linda fonte luminosa. Ali, aos finais de semana, ocorria o ‘footing’ (passeio em determinado local, para paquera): em volta da fonte, moças andavam em sentido horário e moços em sentido anti-horário. Essas são as minhas preferidas, mas há muitas outras legais, com histórias muito bacanas. A foto da Gelatina (antigo brinquedo do Parque da Uva), feita por um fotógrafo amador, que publiquei numa noite e teve mais de 180 mil interações. As imagens também servem de pesquisa para quem está fazendo TCC, seja da graduação até Doutorado. A página virou um arquivo público de Jundiaí.

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Casa onde morava o professor ficava na divisa do Parque: quintal (Foto: Acervo Maurício Ferreira/Janczur)

Tribuna – No ano passado você estava contratando idosos para trabalhar, algo que é difícil de se ver hoje em dia. Por que resolveu fazer isso?

Maurício – Uma das primeiras pessoas que trabalhou comigo (no Sebo) foi um aposentado. E ele me surpreendeu demais! Sempre tive experiências profissionais maravilhosas, pois eles agregam demais, são responsáveis, atendem muito bem os clientes e muitos se interessam por este tipo de mercado. Me surpreendo sempre que faço os anúncios (de vaga de emprego) porque já recebi um engenheiro aeronáutico e outro que tinha administração e estava fazendo filosofia interessados na vaga. Por conta da pandemia, o Sebo está funcionando só pela internet, mas assim que possível faremos novas seleções.

 

“A foto da Gelatina (antigo brinquedo do Parque da Uva), feita por um fotógrafo amador, que publiquei numa noite teve mais de 180 mil interações. As imagens também servem de pesquisa para quem está fazendo TCC, seja da graduação até Doutorado. A página virou um arquivo público de Jundiaí”

 

Tribuna – É possível fazer planos para 2021 com tudo o que estamos vivendo? Teremos novidades do Sebo Jundiaí?

Maurício – Agora em 2021 era para inaugurarmos o Museu do Brinquedo, com mais de 5 mil itens, mas tive de abortar por causa da Covid. Mas assim que possível, Jundiaí ganhará mais este presente. Haverá a cobrança de um ingresso simbólico, apenas para a manutenção do espaço, mas as escolas que se interessarem em levar os alunos para conhecer o espaço e aquelas crianças que não têm condições de pagar entrarão gratuitamente. Estou preparando algumas surpresas e itens que fazem parte também da minha história, como uma bicicleta Monareta Dobramatic do Natal de 1972, comprada na loja Credi Tranquilo, totalmente restaurada. Vai ser muito legal!

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Alunas passando pela rua do Rosário, ao lado da Catedral, na década de 1950 (Foto: Acervo Maurício Ferreira/Janczur)

Tribuna – Hora do Raio-X: Quem é Maurício Ferreira?

Maurício – Nasci em 1962 e sou colecionador desde os meus 6 anos, quando guardava insetos vivos em vidros, tampinhas de garrafa, maços de cigarro e fotografias. Tenho lembranças muito boas do meu avô (José Ferreira da Silva), que trabalhava muito, sempre foi honesto. Eu morava ao lado do parque e lá tinham brinquedos pagos que eu não tinha dinheiro para brincar, meu avô nunca usou da função que tinha (era zelador do Parque da Uva) para ter algum tipo de vantagem, sabe? Isso eu sempre guardarei comigo! Me considero um cara sonhador, que ama Jundiaí e sua gente, tanto que não cabe no coração. Que tem muito respeito e reverência não só pelos meus ancestrais, mas por todos que construíram a história da cidade.

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