Indicado pelo prefeito Luiz Fernando Machado (PSDB) para assumir a Unidade de Gestão de Mobilidade e Transporte, o coronel PM da reserva Aloysio Alberto de Queiroz Junior tem nas mãos uma missão das mais difíceis. Com reclamações recorrentes em relação aos atrasos e lotações nas linhas de ônibus, acidentes com vítimas fatais – principalmente de motociclistas – e uma parcela da população que espera por ciclovias e rotas mais caminháveis em Jundiaí, o novo gestor se apega ao planejamento, à equipe de profissionais da unidade e à participação dos cidadãos para vencer os desafios.
Uma das armas usadas nesta batalha pela paz no trânsito é o Plano Municipal de Mobilidade e Transporte, que foi discutido recentemente em audiência pública. Outra meta é intensificar a educação no trânsito, com projetos e conscientização de motoristas, motociclistas e pedestres, além de preparar as crianças para o futuro.
A aplicação de multas com radares, iniciada dia 5 de maio, também foi lembrada neste bate-papo do Entrevistão desta semana. Neste primeiro momento são 12 equipamentos, em pontos definidos pelo poder público e divulgados no site da Prefeitura. No total, serão 59 equipamentos de fiscalização – a implantação termina em setembro deste ano. Confira:
Tribuna de Jundiaí – Existem vários gargalos em todo o país e Jundiaí, obviamente, não está fora disso. As maiores reclamações no município estão relacionadas ao transporte coletivo e foram agravadas pela pandemia. Como o senhor avalia isso?
Aloysio Queiroz – O transporte coletivo é um desafio e merece toda a nossa atenção, sem dúvida, principalmente nesta época de pandemia, mas ele faz parte de um conjunto de problemas que temos de encarar. Veja que temos enfrentado, também, a questão dos acidentes de trânsito. Nossa atuação tem de ser multitarefa.
Se analisarmos, o transporte coletivo urbano tem a mesma dinâmica e está contextualizado com os problemas análogos aos demais meios de transporte coletivo: se você pegar um avião para um voo internacional, como você estará? Junto com os outros passageiros! Isso se aplica ao metrô, ônibus rodoviário, meio de transporte hidroviário… você estará do mesmo jeito, então isso não é só uma questão local.
Até por isso, temos acompanhado as discussões nacionais em relação ao transporte coletivo porque existe a necessidade que as esferas de governo (estadual e federal) contribuam para a solução deste problema. Em Jundiaí, temos buscado identificar as linhas mais problemáticas, principalmente as troncais, que ligam um terminal ao outro, onde existe a maior concentração de usuários e maior demanda.
Buscado, junto com as empresas, inserir novos carros e isso tem apresentado resultado positivo. Temos visto uma diminuição no número de lotações e uma diminuição no número de queixas pelo 156. Não é só desta forma que vamos resolver o problema, mas isso tem contribuído efetivamente para minimizar essas questões.
Outra coisa é reorganizar a dinâmica dos terminais, reforçando a campanha para que as pessoas respeitem o distanciamento social, utilizem máscaras e o álcool em gel. As pessoas precisam entender que elas também devem se proteger. Temos a nossa parcela de responsabilidade e estamos trabalhando, mas cada um tem de fazer a sua parte.
Há uma outra proposta, que ainda está em estudo, de reativar os ônibus articulados para servir em algumas linhas. A estratégia é que haja mais espaço dentro dos ônibus, mas estamos verificando se essas unidades têm condições de voltar a percorrer as linhas justamente para minimizar a problemática da lotação.
Temos tido o apoio e o acompanhamento do prefeito Luiz Fernando Machado, que está sendo extremamente requisitado na área da Saúde, e não poderia ser diferente, mas frequentemente acompanha nossas discussões e as alternativas que estamos buscando.
Veja que antes da pandemia, tínhamos uma média de 9 mil viagens por dia no transporte coletivo. Durante a pandemia, em 2020, foram 6 mil viagens. Atualmente, temos um total de 4,8 mil viagens por dia com uma frota aproximada de 310 carros.
O que nós estamos fazendo é buscar não reduzir o número de carros justamente para que as pessoas tivessem condições de fazer as viagens com menos lotação e com menos tempo dentro dos terminais e mais seguras, de acordo com a própria linha e que o trânsito também permita. Não é fácil fazer isso, mas é a nossa meta.
Tribuna – O Plano de Mobilidade, que teve audiência pública recentemente, é uma ferramenta não só para tratar de questões de locomoção, mas também no sentido de ajudar no desenvolvimento do município, correto?
Aloysio – Sim, tem razão. O Plano é uma ferramenta estratégica, que vai compor com o Plano Diretor e o Plano Plurianual, que está sendo feito pelo governo visando o quadriênio 2022/2025. Esses documentos tem que estar em harmonia, democraticamente ouvindo a população e integrando essas ferramentas.
O Plano de Mobilidade Urbana impacta diretamente o planejamento urbano, o meio ambiente, a produção, a logística da cidade, a circulação, o desenvolvimento e todos os sistemas municipais. Por isso temos nos debruçado bastante na sua elaboração e a empresa que está nos auxiliando neste processo tem bastante experiência nisso, pois já fizeram este trabalho em diversas cidades. Aliás, durante a audiência pública, eles fizeram uma análise da estrutura de governo de Jundiaí e elogiaram muito, reforçando inclusive que não viram isso outros municípios.
Isso ajuda muito e faz com que trabalhemos integrados, uma unidade de gestão atrelada às outras, principalmente na busca das soluções. Isso torna o Plano mais eficaz e objetivo, por isso na audiência participaram também as unidades de Infraestrutura e Serviços Públicos e de Planejamento Urbano e Meio Ambiente.
O Plano de Mobilidade foi estruturado para ter sete etapas. Já tivemos três etapas entregues, com coleta de dados, análise primária dos dados e o pré-diagnóstico, tudo apresentado na audiência pública. Teremos mais quatro entregas e uma segunda audiência, que acontece em junho. Uma das etapas previstas é a previsão orçamentária, porque nada é possível sem ter a previsão dos recursos e de onde se buscará isso.
Todo esse processo vai até dezembro, quando o Plano deverá ser finalizado, discutido na Câmara Municipal pelos vereadores. Com tudo se transformando naquilo que é desejado, teremos um projeto de lei que será discutido e votado em dezembro.
“Jundiaí é uma cidade antiga e com vias estreitas, fica difícil conciliar a necessidade de circulação dos veículos automotores nessas vias estreitas e com calçadas estreitas. Nossas calçadas no Centro, por exemplo, não têm 1,50 metro e o pedestre tem de disputar espaço com os carros. Isso é um problema sério, que precisamos enfrentar e está sendo discutido no Plano Municipal de Mobilidade Urbana.”
Tribuna – Outros modais foram discutidos na audiência pública e houve uma atenção em relação às ciclovias e aos pedestres. É importante criar alternativas para que as pessoas deixem de ficar dependentes do carro ou do ônibus?
Aloysio – Essa é uma tendência mundial, de dar preferência aos modais ativos, ou seja, aos meios de transporte que não se utilizam veículos automotores. Estamos falando principalmente da circulação de pedestres e bicicletas, note-se que temos no Brasil uma lei que disciplina tudo isso, que é a Lei da Mobilidade Urbana.
Dentro dessa política nacional, existe a necessidade de todos os municípios e estados em buscar soluções para que haja o estímulo à circulação de pedestres e bicicletas. Jundiaí é uma cidade antiga e com vias estreitas, fica difícil conciliar a necessidade de circulação dos veículos automotores nessas vias estreitas e com calçadas estreitas. Nossas calçadas no Centro, por exemplo, não têm 1,50 metro e o pedestre tem de disputar espaço com os carros. Isso é um problema sério, que precisamos enfrentar e está sendo discutido no Plano Municipal de Mobilidade Urbana.
Uma outra questão é do ciclista, que quando falamos sobre isso já se pensa apenas no ciclismo de lazer. As pessoas esquecem que muita gente usa a bicicleta como meio de locomoção, para estudar, trabalhar. Temos que oferecer condições mínimas de segurança e conforto para esse cidadão, por isso existe um esforço por parte da Prefeitura para criação de ciclovias nas vias urbanas. Não é fácil porque, como disse antes, muitas delas não têm espaço suficiente para criar esse modal compartilhado. Mas isso tudo está sendo discutido e estamos buscando soluções.
Tribuna – Como foi a transição entre a Polícia Militar, inclusive comandando um dos batalhões de Jundiaí, depois com políticas públicas voltadas à segurança no GGIM e agora em Mobilidade e Transporte?
Aloysio – Sou coronel da Reserva da Polícia Militar, passei 32 anos na PM e assumi diversas atividades lá dentro. Uma delas foi na Polícia Rodoviária, onde tive experiência na questão de operação e fiscalização de trânsito.
Nas unidades de área da PM, especialmente no 11º Batalhão que tive a honra de comandar, houve muitos momentos com atividades ligadas ao trânsito. Não é algo estranho para mim, mas tenho aprendido com uma equipe muito boa na unidade, tanto no trânsito quanto no transporte coletivo, além do apoio dos diretores e dos chefes de divisão. Isso tem facilitado bastante o trabalho, mas existe uma dinâmica diferente e temos de nos adaptar.
A experiência no GGIM (Gabinete de Gestão Integrada Municipal) de dois anos foi muito feliz, pois pudemos articular os esforços do governo com as instituições ligadas à segurança. Tive muito apoio dos comandantes, dos delegados, do delegado seccional. O próprio 12º GAC foi um parceiro muito importante, principalmente na pandemia, cedendo os militares para ajudar nas unidades básicas de saúde e com o Hospital de Campanha. Isso tudo facilitou minha adaptação na UGMT (Unidade de Gestão de Mobilidade Urbana e Transporte) e foi muito gratificante.
O convite (para assumir o comando da unidade) foi inusitado. O prefeito me chamou para conversar no gabinete e, no caminho, fui pensando que ele fosse me pedir para continuar ajudando em alguma área da segurança, até porque a minha colega Carla (Basson, tenente-coronel da PM e atual gestora de Segurança Pública) estava prestes a assumir a pasta. Quando cheguei e ele me disse que queria que assumisse o transporte, fiquei surpreso mas feliz e grato pela confiança depositada em meu trabalho.
Tenho me empenhado bastante para corresponder a isso e conto com um time muito bom. Os agentes de trânsito são dedicados, a equipe de fiscalização de transporte coletivo, os engenheiros e técnicos têm um volume de trabalho enorme e trabalham com muita dedicação. Isso tudo facilita o nosso trabalho. O que consigo enxergar aqui de todos os trabalhadores do governo é um pessoal diferenciado, extremamente capacitado.
Tribuna – Quais são os desafios que o senhor vê e qual o legado que quer deixar para contribuir com a vida das pessoas de Jundiaí?
Aloysio – Vou fazer de tudo para levar o melhor serviço possível para a nossa sociedade e para quem atua conosco, seja no transporte coletivo, na mobilidade, em todas as áreas. Corresponder à confiança que tive do prefeito Luiz Fernando Machado e toda sua equipe.
Um trabalho interessante que vai complementar todas as ações que estamos planejando é a educação de trânsito. Precisamos redimensioná-la, porque isso traz bons resultados. A PM sempre trabalhou com programas neste sentido e uma série de atividades que podem ser usadas para sensibilização das pessoas e preparar as crianças para o amanhã. A equipe entendeu a mensagem, temos vários projetos nessa área e em breve teremos novidades.
“Quem segue as regras e os limites nunca será multado. As normas existem para que todos transitem de forma segura. Recentemente, a área de Educação e Cultura fez um trabalho com crianças e foi perguntado a elas, nessas atividades, o que queriam para a cidade. Algumas respostas foram de que os carros passavam muito rápido na frente das casas ou das escolas e eles não conseguiam sequer atravessar a rua. Chegaram a pedir semáforo e agente de trânsito, então precisamos fazer frente a esse problema”
Tribuna – Os radares foram retomados no trânsito em Jundiaí, até pelo número de mortos e de acidentes de trânsito que tivemos nos últimos anos. Não basta apenas a conscientização em se tratando de maus motoristas?
Aloysio – É sempre bom lembrar a importância do respeito às leis de trânsito e à sinalização para evitar acidentes que deixam, além de vítimas fatais, pessoas com sequelas para a vida toda. A grande maioria dos acidentes é causada por imprudência e por excesso de velocidade.
Ao intensificar a fiscalização e a conscientização tanto de motoristas quanto de pedestres, o objetivo da UGMT é justamente evitar tantas ocorrências como as registradas nos últimos dias. Em 2021, nosso município está investindo na educação e na fiscalização no trânsito.
Estamos atuando para a preservação da vida. A própria instalação dos radares vem para ajudar, juntamente com outras ações como o Maio Amarelo. A UGMT já programa, inclusive, a continuidade das ações após o Maio Amarelo, também com uma programação mais específica para os motociclistas.
Quem segue as regras e os limites nunca será multado. As normas existem para que todos transitem de forma segura. Recentemente, a área de Educação e Cultura fez um trabalho com crianças e foi perguntado a elas, nessas atividades, o que queriam para a cidade. Algumas respostas foram de que os carros passavam muito rápido na frente das casas ou das escolas e eles não conseguiam sequer atravessar a rua. Chegaram a pedir semáforo e agente de trânsito, então precisamos fazer frente a esse problema.
Tribuna – Raio X: quem é Aloysio Queiroz?
Aloysio – É um cidadão que procura fazer o melhor para o benefício das pessoas. Fui cadete aos 16 anos na Academia do Barro Branco, formado e forjado para trabalhar em beneficio da sociedade e é o que tenho feito até hoje. Mesmo aposentado, não consegui parar de fazer isso e enquanto tiver fôlego vou continuar.
Fui juiz da Justiça Militar do Estado e comandante do 11º Batalhão de Polícia Militar do Interior. Tenho pós-graduação em Gestão de Políticas de Segurança Pública pela PUC-São Paulo e mestrado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública pelo Centro de Estudos Superiores da Polícia Militar do Estado, além de especialização em Direito Internacional dos Direitos Humanos pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha.
Sou separado, tenho 55 anos, três filhos e dois netos. Nasci em São Paulo, mas me considero jundiaiense porque moro aqui desde os 5 anos de idade.