Cresce a cada dia a lista de empresas ocidentais que estão revendo seus negócios na Rússia após o país invadir a Ucrânia. As medidas anunciadas até agora vão desde uma pausa temporária nas vendas de produtos, até abandono de negócios em parcerias com os russos, a debandada começou nos setores de energia, petróleo e gás. Os ramos de aviação, financeiro, cibernético e produção de automóveis também aderiram à onda de rupturas com a economia russa.
O governo americano tem pressionado o mundo ocidental e o Japão a boicotar negócios com a Rússia, evidentemente com a narrativa de punição devido à invasão das tropas de a Moscou a Kiev. Entretanto os interesses geopolíticos estão à frente dos humanitários, e os Estados Unidos continuam promovendo seus espetáculos de guerra em diversos pontos do mundo desde o final da Segunda Guerra Mundial, utilizando os seus poderes para alcançar os objetivos do seu Estado.
Continua firme com seus propósitos de dominação e submissão usando a narrativa de defesa da democracia, para invadir nações soberanas, destruir terroristas opositores mesmo que necessite criar milícias armadas, judiciais, legislativas e empresariais, desde que defendam suas cores e com sua poderosa máquina de propaganda consegue convencer a opinião pública mundial com a esperança de dias melhores, mas não deixam claro pra quem.
A pressão sobre as finanças e a produção de uma grande economia inevitavelmente causará problemas diversos para muitas nações. Crises financeiras, rupturas de cadeias de fornecimentos e desabastecimentos, vão provocar instabilidades em muitos mercados. A nação comandada por Putin tem grandes reservas de minérios e é responsável por quase metade do gás fornecido a Europa rica, o que poderá ser uma bomba no colo do cidadão europeu que não assinou os tratados de punição.
A energia é apenas um dos insumos estratégicos que os asiáticos ofertam ao mundo, tem também fertilizantes com potássio, que são elementares na produção agrícola e países grandes produtores como o Brasil depende da importação da Federação Russa para atender a demanda na produção de grãos e está limitado pela brevidade da atividade. Infelizmente mais uma população que será afetada pelo conflito, essa é diferente da Europa, pois tem recursos naturais abundantes para fugir da dependência, mas sofre com a ingerência dos governos que fazem um capitalismo às avessas.
A imprensa do ocidente está em êxtase apostando no isolamento do gigante asiático, mas a realidade demonstra alguns movimentos de alinhamento comercial de nações importantes aos russos, talvez analisando o risco de ficar sem trigo e milho que é a base alimentar de suas populações. Os países árabes, Índia, Irã, Brasil e Indonésia estrategicamente já estão buscando ajustar suas moedas para manter suas relações de Comércio.
A poderosa China deve abocanhar todo o mercado recusado por europeus e norte americano. Tem grandes companhias bem estruturadas e com capacidade operacional elevada em todas as áreas de atuação e vão encontrar infraestruturas prontas, o que deve beneficiar a região e o autocrata Putin. Um bom combate e quem ficar neutro poderá colher bons frutos.
O dólar norte americano deve perder a confiança como reserva de valor para as nações e levando a uma nova guerra cambial e o fim da hegemonia da atual moeda de referência global. Isso pode ser uma carta poderosa no jogo geopolítico entre a República Comunista da China e Estados Unidos da América. A China que pode e deve além de desfazer de suas enormes reservas em dólar, constituírem uma cesta de moedas na Ásia para facilitar as trocas na região. Além de aumentar os fundos em ouro e até ativos digitais.
A diversificação de fundos de reserva estatais e até privados em outros ativos será uma tática de sobrevivência, e o confisco do governo americano passou a ser uma realidade para quem tem reservas em dólar norte americano, pois basta entrar em conflito com os interesses do império ianque. Os riscos de um excesso de liquidez no ocidente já são visíveis na linha do horizonte dos mercados globalizados. Pois bem o posicionamento com muita resiliência do governo brasileiro pode até desagradar aos mais eufóricos, mas temos que saber jogar nesse tabuleiro do mundo multipolar e não ser usado como massa de manobra por nenhuma potencia global.
“A paz, estado de harmonia, como a gente imagina, não é fruto da generosidade humana entre os países. É uma concessão do mais forte. Ele concede a paz nas condições que lhe convém”.. General brasileiro Sérgio Etchegoyen
Everton Araújo é brasileiro, economista e professor.
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