Connect with us

Opinião

Só teremos boa política com humildade e olhar para enxergá-la

Por Raquel Loboda Biondi, jornalista e atualmente assessora legislativa na Câmara de Jundiaí

Published

on

Atualizado há

Raquel Loboda Biondi
Raquel Loboda Biondi, jornalista e atualmente assessora legislativa na Câmara de Jundiaí (Foto: Divulgação)

Se eu tivesse que oferecer ‘uma palavra’ a quem, um dia, pretenda se envolver com política ou a quem tenha pretensões eleitorais sem uma experiência prévia em cadeiras públicas, eu diria: “venha humilde, chegue para aprender.”

Do mesmo modo, eu diria a nós eleitores, como alguém que pessoalmente não se retira desse aprendizado, que também temos papel crucial sobre a boa política, tão cobrada e esperada em tempo já arrastado de descrença.

Porque quando, como eleitores e cidadãos, generalizamos e reproduzimos a adorada frase “tudo farinha do mesmo saco” podemos, sem perceber, resistir à observação necessária sobre aqueles que fazem e devem fazer diferente. Quando não treinamos nosso olhar para ver a diferença, também não valorizamos as tentativas – sejam elas pequenas ou grandes – de construção e diálogo que, de fato, representam o que é política.

Se olharmos sempre com o vício de maldizer ou obter vantagem, sobretudo sem procurar saber sobre o que estamos falando, somos parte eficiente dessa relação penosa e cíclica que só alimenta a própria política desgastada pelo voto dos que não buscam cobrar outras posturas com profundidade. Ou seja, se alguém que tente fazer diferente não receber nosso olhar apurado ou não se comunicar, corremos o risco de elegermos ‘mais do mesmo’ pelo ato de ignorarmos justamente o que dizemos buscar: o diferente.

Sabemos que o interesse político enfraquecido é mais um resultado inegável da sociedade desigual que vivenciamos diariamente, associado a condutas realmente lamentáveis, desanimadoras e também viciadas em velhas práticas. Neste contexto discrepante, sem acesso à educação para todos, dificilmente temos discernimento e meios de interpretação crítica usuais sobre o que vemos. Porém, considero importante o alerta principalmente a nós, privilegiados, que temos esse acesso a tudo e não procuramos saber sem nos despirmos da arrogância de achar que já temos resposta para tudo ou de já colocarmos uma capa negativa sobre toda informação relacionada à política.

Aqui, cabe voltar aos que se pretendem a cargos eletivos que cito no primeiro parágrafo. Pois pelo mesmo risco da arrogância, alguns entoam serem representantes da ‘nova política’ e, infelizmente, não percebem que contribuem com um slogan vazio à negação da própria política, que empurra discursos de gestões privadas ao que se deve fazer no setor público sem o cuidado e estudo aprofundado sobre o que de fato pode se aplicar como método preciso entre esses dois mundos, em tantos aspectos, particulares. Para que o novo seja diferente, ele deve justamente assumir a política e não anulá-la, desclassificá-la, e, assim, fazer-se oportunamente por meio dela. Precisamos de boas condutas na política e não jogá-la na vala do senso comum, com promessas sem conhecê-la. Só mudamos aquilo que conhecemos de alguma maneira.

Com todo respeito às diferentes motivações que levam alguém a essa corrida eleitoral, eu diria, sobretudo aos cheios de opiniões: “venham para conhecer, livre de achismos, dispostos a entender como se relacionam os poderes, como se conquistam arduamente e a longo prazo resultados, como se traça delicado o caminho do convencimento, como são contraditórios os desejos humanos e como não é simples, portanto, representar sem chamar pra perto, sem conversar, sem ouvir.”

Mesmo que tenhamos na bagagem o mais aperfeiçoado idealismo, quando chegamos à prática, aprendemos dia a dia a valorizarmos as brechas, nem sempre fáceis de encontrar, em que conseguimos com verdade aliar a bandeira erguida dos ideais à realidade das pessoas, das nossas contradições humanas e sociais, do que é preciso no duro.

Quando estamos distantes ou almejamos postos, é mais fácil apontar, dissertar sobre medidas e soluções. E isso não é um problema. Aliás, eu diria também: “venham com suas certezas, convicções e propósitos”, mas acrescentaria o senso dialético imprescindível: “somem às ideias próprias, a abertura para eventualmente mudá-las. Saibam dividir, venham para se questionar, para rever o que trazem na cartilha, para duvidar, para encontrar e deixar ir”, porque com todo amor às boas rodas de conversa, às boas intenções, a política real é paradoxalmente sútil e complexa quando se quer mesmo alcançar a ponta e transformar vidas. Na prática, tudo pode e deve ser revisto para que de fato funcione. Não há qualquer medida eficiente sem conhecermos profundamente para quem ela será aplicada e sem ouvirmos as reais necessidades desses possíveis afetados.

Então, reforçaria: “venham sabendo da existência da frustração, da dificuldade, porque nada se consegue sozinho e tudo na política é construção. Desapeguem das máximas que não beneficiam de fato alguém. Compreendam as mudanças, as diferentes cabeças, as dinâmicas já postas e as que virão. Atravessem. Unam grupos, nem que sejam poucos e de poucas pessoas. Não se pode sempre falar com todos. Ninguém é unânime. Mas não desprezem o que não parece numeroso. Não brinquem com o que não acham comovente pra si e é essencial para o outro. Não anulem o que não vos causa espanto. Perguntem se não souberem. Avancem se estiverem seguros. Não venham só com regras partidárias nacionais decoradas, com as bandeiras engessadas, sem adaptar para o que se vive no bairro, na rua, na cidade. Não reproduzam, multipliquem. Sejam voz, mas em conjunto: ecoem. Venham para olhar para si e olhar o mundo. Não venham pela glória e sim pelo trabalho. Não para serem um, mas para serem muitos. Venham pra inovar sim, mas responsáveis: informem a capacidade real. Falem do que é possível, do executável, das limitações. Encarem essa fronteira inevitável. Venham e voltem atrás quando for preciso. Ouçam para além do que já ouviram. Façam e usem a coragem de aprender como única arma diária.”

Em um ano importante como esse, o que menos precisamos é do desdém sobre o que perto ou longe, move nossos dias: a política real, que tenta unir pessoas a propósitos. Ela pode não ser ideal, ter muito a caminhar, mas esse processo não nos isenta, nem como eleitores, nem como possíveis postulantes. Essas, aliás, não são respostas prontas, são percepções do hoje que afirmo para, quem sabe, um dia também rever e mudar.

Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam necessariamente as ideias ou opiniões do Tribuna de Jundiaí.

Opinião

O impacto do rombo fiscal no déficit da balança de pagamentos do Brasil

Artigo escrito por Rafael Cervone, presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP).

Published

on

O déficit fiscal do setor público brasileiro, além de pressionar a inflação, dificultar a redução das taxas de juros, suscitando uma política monetária contracionista, e afetar o poder de investimento do Estado, tem outro efeito colateral grave: o saldo negativo do balanço de pagamentos em 2024, apesar do expressivo superávit comercial no período. O rombo impõe a necessidade de financiar…

Continue Reading

Opinião

A insegurança da mudança

Artigo por Elton Monteiro, empreendedor, mentor, investidor e especialista em IA. Mais de 20 anos de experiência em tecnologia e inovação.

Published

on

Toda grande mudança assusta. Sempre foi assim. Quando a Revolução Industrial trocou a força de trabalho manual por máquinas, muitos temeram pelo fim dos empregos. Quando os computadores chegaram aos escritórios, houve pânico – quem precisaria de tanta tecnologia? Depois veio a internet, que prometia revolucionar a comunicação, mas também trouxe receios sobre privacidade, controle e o desconhecido. Agora, estamos…

Continue Reading
Advertisement
Pular para o conteúdo