Na inauguração do Viaduto São João Batista, governador se rendeu à caipirinha
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Sextou com S de Saudade

Na inauguração do Viaduto São João Batista, governador se rendeu à caipirinha

Passagem que liga a rua Dr. Torres Neves à avenida São João foi construída sobre as linhas de trem: primeiro viaduto de Jundiaí

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viaduto
Obras foram executadas com ajuda de moradores e comerciantes da Ponte São João (Foto: Acervo Professor Maurício Ferreira)

Há 70 anos, era inaugurado o viaduto São João Batista, na Ponte São João, evento que tive o prazer de participar e vivenciar várias situações.  Aos nove anos, no dia 24 de setembro de 1950, acompanhei a entrega dessa obra que tem uma história maravilhosa e todo um simbolismo. Ele foi o primeiro viaduto de Jundiaí.

Voltando um pouco mais no tempo, em 1948 o jovem arquiteto Vasco Antônio Venchiarutti foi empossado prefeito. Tinha 27 anos e parcos recursos para administrar naquela época, mas com uma visão dinâmica e moderna conseguiu projetar e executar muitas obras públicas que mudaram o urbanismo da cidade para sempre.

viaduto 1949

Em 1949, imagem das obras do viaduto feita pelo Janczur

Exemplos disso: o Parque Comendador Antônio Carbonari, Parque da Uva, que na reforma realizada em 2003 desfigurou-se e descaracterizou-se totalmente da concepção visual, arquitetônica e histórica; o Bolão – Praça Municipal de Esportes Dr. Nicolino de Lucca – projeto premiado no Salão Paulista de Belas Artes; a avenida Jundiaí; e também o viaduto São João Batista, que liga a rua Dr. Torres Neves à avenida São João, construído sobre as linhas de trem da Companhia Paulista e da Sorocabana.

Obra de arte

O viaduto tem 300 metros de extensão, 10 metros de largura e pouco mais de seis metros de altura. Foi construído em concreto armado, sem vigas, com fundações sobre estacas de concreto de 15 metros de comprimento. A construção dele foi essencial principalmente para a população, comércio e indústrias da Ponte São João – que tanto necessitavam naquele momento de um sistema viário melhor.

viaduto padaria

Padaria do casal Oswaldo e Leta Bárbaro, nos anos 1960 (Foto: Arquivo Mauro Traci)

Adhemar de Barros, que tinha sido eleito governador do Estado de São Paulo em 1947, esteve em Jundiaí para a inauguração, com toda pompa e solenidade que o cerimonial exigia à época. Foi recebido por correligionários e cidadãos adhemaristas na Padaria de Osvaldo e Leta Bárbaro, para uma boa prosa e degustação dos petiscos de Dona Leta – uma quituteira de mão cheia!

Da boa

O então governador, que gostava de um aperitivo, pediu a Osvaldo Bárbaro que lhe fizesse uma caipirinha com “pinga da boa” e, assim, tascou goela abaixo aquele drinque preparado com esmero.

adhemar de barros

Padre Ângelo, Murari e Oswaldo Bárbaro com Adhemar de Barros (Foto enviada por Célia Massoti Nacarato)

De tão boa que ficou a caipirinha, o governador pediu mais uma….. e outra…. e outra, mesmo sendo advertido pelos seguranças e assessores de que havia uma agenda para cumprir. De nada adiantou! O nobre governador já embriagado, com fala mole, trocando nomes e dizendo algumas frases sem nexo, partiu para a inauguração. Praticamente não falou e foi amparado a todo o tempo pelos seguranças.

O primeiro

Outro fato interessante nesse dia foi relatado a mim pelo saudoso Aguinaldo Loureiro de Lima, o querido Mandú. Ele era mágico, poeta, artista plástico e apaixonado pela vida, pela família e amigos. Figura típica e muito conhecida na Ponte São João. Em 1950, o menino Aguinaldo tinha nove anos e acompanhou de perto toda a movimentação da inauguração do viaduto. Ele queria logo passar pelo viaduto e ser um dos primeiros a fazê-lo.

viaduto ponte são joão

Inaugurado em 1950, viaduto foi construído com a ajuda de moradores e comerciantes da Ponte

Quando as autoridades já se preparavam para descerrar a faixa de inauguração, o menino aproveitou o descuido das autoridades, passou embaixo da faixa e saiu em desabalada carreira, com passadas largas e velozes para alguém daquela idade. Percorreu os 300 metros do viaduto antes de qualquer outro naquele dia e, quando chegou na outra extremidade cansado, ofegante e todo suado, gritou: PRIMEIRINHO!!!!!

Assim foi inaugurado nosso primeiro viaduto, uma história que não está nos livros mas se mantém viva na memória e no coração de muitos!

Dedico esse texto ao menino Mandú, que aos nove anos “inaugurou” essa obra e há poucos meses nos deixou, aos 75 anos. O menino envelheceu, mas nunca perdeu a criança que vivia em sua alma e coração!

Obrigado por nos acompanhar nessa viagem no tempo, espero que tenha gostado. Peço que ajude a preservar nossa história: envie fotos antigas e participe do grupo no Facebook.

Até a semana que vem!

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Clube 28 de Setembro carrega histórias de resistência e luta contra a discriminação racial em Jundiaí

Até hoje, o Clube 28 é referência de entretenimento, recreação e um marco na história negra de Jundiaí e do Brasil.

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Foto de antiga entrada do Clube 28 de Setembro, em Jundiaí
O nome do clube foi dado em homenagem à Lei do Ventre Livre, instituída em 28 de setembro de 1871 (Fotos: Acervo Maurício Ferreira)

Quem passa pela área central de Jundiaí já deve ter reparado naquele toldo preto, com o número 28 em vermelho e a sigla CBCRJ: Esse é o Clube 28 de Setembro. O centro cultural foi inaugurado no dia 1º de janeiro de 1895, a partir da iniciativa de um grupo de ferroviários negros, que se uniram para fundar uma agremiação…

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Mário Milani, o craque jundiaiense que ia aos treinos pilotando um avião

Apesar do destaque em grandes clubes brasileiros, a carreira dele não é muito conhecida. Por isso, prestamos essa homenagem

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Mário Milani
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Pipoqueiro Caxambu
Pipoqueiro na estrada de terra, no bairro Caxambu, na década de 1960: parte da história de Jundiaí (Foto: Acervo Maurício Ferreira)

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Na Jundiaí de 1930, bombas de gasolina ficavam nas esquinas

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Tempo em que se podia abastecer os carros e caminhões sem a necessidade de um posto de combustíveis (Foto: Acervo Maurício Ferreira)

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Meu amado avô Zeca: exemplo de cidadão a serviço da população

Era um homem com pouco estudo, muito trabalhador, detentor de espírito público e respeito pelo que pertencia ao povo

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Com meu avô e o primo Eduardo Massagardi (à direita) numa foto dos vários momentos juntos que passamos (Foto: Acervo Maurício Ferreira)

Nasci literalmente no interior da Prefeitura de Jundiaí, mais precisamente no Depósito Municipal que funcionou durante décadas na avenida Dr. Amadeu Ribeiro, no Anhangabaú, entre o Bolão e o Parque da Uva. Meu avô Zeca Ferreira e meu pai Ferreirinha (José Antônio) eram funcionários públicos e moravam nas casas da Prefeitura. Vim ao mundo, numa dessas moradias, pelas mãos de…

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