Depois dessas eleições, o que esperar dos próximos quatro anos?

Depois dessas eleições, o que esperar dos próximos quatro anos?

Neste domingo (28), a população brasileira escolhe o nosso futuro presidente pelos próximos quatro anos, com o segundo turno das eleições presidenciais. Em uma disputa entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), uma coisa é fato: ambos terão que enfrentar um Brasil polarizado e buscar um complicado apoio no Congresso Nacional.

Entrevistamos o cientista político Wagner Romão, do Departamento de Ciência Política do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, que falou um pouco sobre o que podemos esperar dos próximos quatro anos, independente do resultado. Confira:

Tribuna de Jundiaí: O que o novo presidente da República vai enfrentar após uma eleição em um país tão dividido?

Wagner Romão: A divisão em meio ao processo eleitoral é algo natural, esperado. A diferença hoje é que, após a apuração dos votos, não há mais garantia de que o candidato eleito realmente irá tomar posse ou mesmo ter o mínimo de tranquilidade para governar. Isso ocorreu em 2014, com o pedido de impugnação de Dilma promovido pela candidatura de Aécio Neves. E agora também a candidatura Bolsonaro ameaça não aceitar um eventual resultado adverso. A situação política permanece muito tensa e será fundamental que o candidato eleito busque promover o diálogo com o outro lado. Para o bem da democracia. 

Tribuna de Jundiaí: Como acredita que será a corrida por apoio no Congresso Nacional?

Wagner Romão: Nem Haddad, nem Bolsonaro terão vida fácil no Congresso Nacional. A fragmentação partidária no interior da Câmara e do Senado chegou a um nível nunca antes visto. É inevitável que eles negociem. Quem diz que não vai fazer indicação política está mentindo. O que se espera é que os acordos feitos sejam programáticos e informados com clareza à população. O novo presidente precisará conversar não apenas com os partidos políticos, mas também com forças da sociedade, como os empresários, os movimentos sociais, as igrejas e outros grupos.

Tribuna de Jundiaí: É possível conseguir governabilidade ou o novo presidente corre o risco de ser envolvido numa crise política como foi o governo Dilma?

Wagner Romão: As duas coisas são possíveis. Depende de habilidade política. Depende da capacidade do novo presidente em compor, em conseguir articular forças políticas. Terá mais dificuldade quem for intransigente. Em sistemas políticos como o brasileiro, o presidente precisa governar em conjunto com o Congresso Nacional. O que é necessário é sempre que a sociedade seja vigilante e não permita ser enganada. As eventuais alterações no programa apresentado nas eleições devem ser justificadas pelo novo presidente, com base na composição das forças políticas de sua base de governo.

Tribuna de Jundiaí: Você acredita que todas as propostas feitas pelos dois candidatos são plausíveis de se cumprir? 

Wagner Romão: As propostas variam muito. Há muita dificuldade com relação ao próprio orçamento federal. Se não tivermos medidas muito firmes que propiciem a gradual saída do Brasil da crise econômica e a recomposição da capacidade do Estado de investir em infraestrutura e políticas sociais, dificilmente teremos condições sociais de garantir estabilidade política. O desemprego continua muito forte e será imperativo retomar o crescimento da economia, ainda que sob o paradigma da sustentabilidade ambiental.

Tribuna de Jundiaí: Qual será o novo "desenho" político no Brasil após estas eleições?

Wagner Romão: Há uma mudança importante na política em nível nacional: não existe mais a polarização PT x PSDB, que dominou a política brasileira nos últimos 20 anos. O PT - mesmo com todas as dificuldades - está no segundo turno das eleições e fez a maior bancada de deputados federais. O PSDB se tornou um partido médio e a oposição ao PT se transferiu a um movimento político de caráter autoritário, de extrema direita. Precisamos esperar o resultado das urnas mas, aparentemente, deve permanecer uma disputa muito dura pelo comando político do país, ganhe quem ganhe. Parece-me que a sociedade civil deve permanecer atenta para que as liberdades democráticas prevaleçam e que a democracia vença.

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