
O Senado dos Estados Unidos aprovou na noite de terça-feira (28) um projeto de lei que prevê o fim das tarifas impostas pelo presidente Donald Trump ao Brasil, sobretaxas que atingem produtos como petróleo, café e suco de laranja.
A resolução, de caráter principalmente simbólico, expõe a insatisfação de parte do Congresso com a política tarifária do republicano e reflete o novo clima diplomático entre os dois países.
Apesar do aval do Senado, o texto dificilmente avançará na Câmara dos Deputados, controlada pelos republicanos, que recentemente aprovaram regras internas que permitem à liderança barrar projetos sobre tarifas. Mesmo que o texto fosse aprovado, Trump ainda poderia vetar a proposta.
Projeto é de autoria do senador Tim Kaine
A proposta foi apresentada pelo senador democrata Tim Kaine, da Virgínia, que afirmou que o objetivo é provocar um debate sobre “a destruição econômica causada pelas tarifas”. Segundo ele, a medida busca anular as tarifas de até 50%impostas a produtos brasileiros desde agosto, com base em um estado de emergência nacional declarado por Trump.
“As votações são uma maneira de forçar o Senado a debater a destruição econômica causada pelas tarifas”, afirmou Kaine.
O projeto revoga o mecanismo utilizado por Trump, baseado na Lei de Poderes de Emergência Econômica Internacional (International Emergency Economic Powers Act – IEEPA), e contesta a justificativa do governo americano para impor as taxas.
Os autores argumentam que não há situação de emergência econômica com o Brasil, já que a balança comercial é superavitária para os Estados Unidos.
Votação apertada e resistência republicana
A resolução foi aprovada por 52 votos a 48, evidenciando divisões dentro do próprio Partido Republicano.
Cinco senadores republicanos — Susan Collins (Maine), Mitch McConnell (Kentucky), Lisa Murkowski (Alasca), Rand Paul (Kentucky) e Thom Tillis (Carolina do Norte) — se juntaram aos democratas para aprovar o texto.
Outros senadores, como Chuck Schumer (Nova York), Jeanne Shaheen (New Hampshire) e Ron Wyden (Oregon), também defenderam o projeto. Em discurso antes da votação, Kaine citou o aumento nos preços de produtos como o café como um dos motivos de preocupação: as sobretaxas, segundo ele, prejudicam tanto consumidores americanos quanto exportadores brasileiros.
Críticas à política econômica de Trump
Nos Estados Unidos, aliados de Trump têm demonstrado crescente desconforto com os efeitos da política comercial do presidente. O Escritório de Orçamento do Congresso (CBO), órgão apartidário, alertou recentemente que as tarifas podem aumentar o desemprego e a inflação, além de reduzir o crescimento econômico em 2025.
Ainda assim, a aprovação no Senado é vista mais como uma mensagem política do que como uma mudança concreta na política tarifária. O texto seguirá para a Câmara, mas deve ser barrado antes mesmo de ir à votação.
Contexto: Lula e Trump discutem tarifas em encontro na Malásia
A movimentação no Senado ocorre poucos dias após o encontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump, realizado no domingo (26) na Malásia. A reunião, que durou cerca de 45 minutos, foi descrita como cordial e abriu espaço para o início de negociações bilaterais sobre as tarifas.
“O que importa em uma negociação é olhar para o futuro. A gente não quer confusão, quer resultado”, afirmou Lula.
Trump respondeu dizendo que o encontro foi “muito bom”, mas ponderou: “Eles gostariam de fazer um acordo. Vamos ver, agora mesmo estão pagando cerca de 50% de tarifa.”
Na segunda-feira (27), representantes comerciais dos dois países se reuniram pela primeira vez. Participaram o chanceler Mauro Vieira, o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Márcio Rosa, e o embaixador Audo Faleiro, que definiram um calendário de reuniões focado nos setores mais afetados.
Segundo o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, ainda não há data para uma nova rodada de conversas. Lula também propôs a suspensão temporária das tarifas durante o período de negociação, como ocorreu com México e Canadá.
Brasil contesta justificativa americana
O governo brasileiro entregou a Trump um documento contestando os argumentos usados pelos EUA para impor as tarifas. Segundo Lula, os Estados Unidos acumulam um superávit de US$ 410 bilhões na balança comercial com o Brasil nos últimos 15 anos.
“No G20, só três países têm superávit com os EUA: Brasil, Reino Unido e Austrália”, destacou o presidente.
O encontro terminou com a promessa de manter o diálogo aberto e a possibilidade de visitas oficiais recíprocas, ainda sem data definida.
Repercussão no setor empresarial
A Confederação Nacional da Indústria (CNI), a Amcham (Câmara Americana de Comércio) e outros representantes do setor privado classificaram a reunião entre os presidentes como um “avanço concreto” e demonstraram otimismo quanto à redução das tarifas.
“Esperamos concluir em pouco tempo uma negociação bilateral que trate dos setores afetados”, afirmou o chanceler Mauro Vieira.
Enquanto a proposta de Tim Kaine dificilmente se tornará lei, o gesto político fortalece a pressão sobre Trump e reforça o papel do Brasil nas discussões sobre comércio internacional em um momento de instabilidade global.
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