Duas das vacinas contra o novo coronavírus consideradas mais promissoras serão testadas no Brasil.
Uma delas, desenvolvida pela Universidade de Oxford, terá testes clínicos conduzidos no Brasil pelo Instituto D’or de Pesquisa e Ensino, da Rede D’or e pela Universidade Federal de São Paulo, a Unifesp. A estrutura média e equipamentos são financiados pela Fundação Lemann.
A vacina de Oxford utiliza uma estratégia de imunização que já deu certo em outras vacinas, como as que neutralizam ebola e MERS. A técnica, segundo publicou o G1, utiliza um adenovírus que também causa doenças respiratórias, mas modificado, para não causar reações graves. Em seu interior, o material genético do coronavírus é inserido. Uma vez no corpo humano, o organismo aciona as células de defesa para combater a doença.
São pelo menos três etapas diferentes na fase de testes clínicos para provar que a vacina é segura, gera anticorpos e não provoca efeitos colaterais sérios.
A pesquisadora da Unifesp, Sue Ann Costa Clemens, que comanda o estudo no Brasil afirma que como a solução de uma vacina é urgente, o processo de regulação da substância é mais flexível.
“Não se espera a análise completa de uma fase para se entrar na próxima fase, mas isso não quer dizer que as fases não sejam completadas; o estudo inteiro vai ser completado, a análise vai ser feita como no processo normal”, comenta.
Vacina chinesa
Outra vacina que terá testes clínicos no Brasil é a chinesa, que ocorre em parceria com o Instituto Butantan.
O método de imunização também é fruto de uma vacina anterior, a criada contra a Sars, também ocasionada por um tipo de coronavírus.
“Todas essas vacinas que estão mais aceleradas, elas herdaram um processo de vacina para outros coronavírus; mas não estamos perdendo nem qualidade cientifica nem qualidade ética e isso é uma boa noticia para todos, porque estamos conseguindo fazer tudo muito bem e muito mais eficientemente”, afirma Ricardo Palacios, médico de Pesquisas Clínicas do Instituto Butantan.
Apesar de ainda não existir nenhum estudo conclusivo, a indústria farmacêutica já está produzindo doses das vacinas.
“É um processo muito arriscado a vacina, mas agora devido ao risco que a doença faz, tanto os governos quanto as grandes empresas estão dispostos a investir mais dinheiro e arriscar mais pra acelerar esse processo”, afirma Ariane Cruz, pesquisadora pela University College of London.
A brasileira Mariângela Simão, vice-diretora-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), acredita que a ciência vai descobrir não uma, mas várias vacinas contra a Covid-19.
“Então é provável que se tenha mais do que um tipo de vacina disponível daqui um ano e um ano e meio. E é provável que elas tenham características diferentes por exemplo: você pode ter vacina que funcione bem para jovens e não funcione bem para pessoas acima de 65 anos”, afirma.
“E se dá mais de uma certo vai ser muito bom porque temos mais fábrica disponíveis para produzir mais vacinas para o mundo”, completa Ricardo Palacios.
Tempo recorde
O esforço de diversas iniciativas para a criação de uma vacina eficiente e segura não têm precedentes. O resultado: a vacina contra o coronavírus pode ser a mais rápida desenvolvida em toda a história.
Para comparação, a OMS recebeu em 31 de dezembro o primeiro alerta de um novo tipo de coronavírus em circulação. Seis meses depois, já são cerca de 140 vacinas em estudo; destas, 15 na fase de testes em humanos.
A vacina contra a meningite, por exemplo, levou mais de 90 anos entre a descoberta da doença até a regulamentação. A da polio, 47 anos. Hepatite, 16. A do sarampo, uma das mais rápidas, 10 anos.
Segundo a OMS, fases mais adiantadas da pesquisa da vacina podem ser finalizadas até o fim de 2020 – e não é só o tempo de descoberta de uma imunização eficiente que é inédito.
“Acho que isso nunca aconteceu na historia da humanidade que haja uma consolidação dos movimentos em torno de ter um produto que seja eficaz, seguro e que seja um bem público global, o que se quer dizer com isso, que o objetivo máximo tem que ser que não é ter lucro em cima disso, é paa proteger as populações, proteger a economia e todas as questões que estão sendo afetadas por essa pandemia”, conclui Mariângela Simão.
Com informações do G1.