Homem acendendo vela no escuro
Foto: Reprodução/ UOL Notícias

Em audiência pública, nesta quarta-feira (8), na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados, especialistas no setor elétrico afirmaram que a crise energética deste ano foi agravada pelo acionamento tardio de usinas termelétricas. Segundo eles, os reservatórios das usinas hidrelétricas vinham se esvaziando desde o ano passado, quando mais usinas termelétricas, afirmaram, deveriam ter sido acionadas para preservar água para este ano.

Por meio de representantes enviados à audiência, o Ministério de Minas e Energia e a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANS) contestaram a avaliação. “Tem uma hidrologia ruim? Tem, mas ela não é o único fator. Houve alguns problemas de gestão. Desde novembro, outubro, todo mundo sabia que os reservatórios estavam baixando, e as termelétricas não funcionaram a plena capacidade ou a uma capacidade maior. E o mais surpreendente: em fevereiro, se diminuiu ainda mais a geração térmica e só em maio que elas foram autorizadas a despachar”, afirma Maurício Tolmasquim, professor da Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e ex-presidente da Empresa de Pesquisa Energética, estatal responsável pelo planejamento energético.

Luiz Pinguelli Rosa, professor de Planejamento Energético da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e ex-presidente da Eletrobras, disse que o nível de chuva do ano passado já demonstrava a necessidade de acionamento das térmicas. “A crítica que eu faço é que isso demorou. Há indícios de que não estava bem a hidrologia desde o ano passado. As curvas mostram que a afluência [entrada de água nos reservatórios das hidrelétricas] já mostrava declínio e seria prudente que medidas fossem tomadas com antecedência. Por exemplo, ligação de termelétricas, em particular as mais baratas”, afirmou Rosa.

O governo e a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), por meio de seus representantes na audiência, negaram a demora. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) não enviou representante.

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O Superintendente de Fiscalização dos Serviços de Geração da Aneel, Gentil Nogueira de Sá Júnior explicou que, quando as hidrelétricas de Belo Monte e do complexo do Rio Madeira estão operando a plena capacidade, essas usinas “enchem” a capacidade de transmissão do setor elétrico, o que traria alguma dificuldade para alocar geração térmica.

Nogueira de Sá Júnior afirmou, ainda, que o governo teve primeiro que conseguir flexibilizar algumas restrições energéticas e ambientais de determinadas bacias hidrográficas para depois acionar mais térmicas.