Negro
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Um levantamento inédito da Fiocruz escancara a desigualdade na mortalidade juvenil no Brasil: jovens negros (pretos e pardos) representam 73% das mortes por causas externas, que englobam violências, acidentes e confrontos armados. Os dados fazem parte do 1º Informe epidemiológico sobre a situação de saúde da juventude brasileira: violências e acidentes, divulgado nesta segunda-feira (25).

O que são mortes por causas externas

De acordo com o estudo, causas externas são aquelas que não decorrem de doenças, mas de fatores externos, como homicídios, acidentes de trânsito, lesões autoprovocadas e até operações de guerra.

Entre 2022 e 2023, os registros do SUS e do IBGE mostram que:

  • 48,1% dos óbitos de jovens foram por agressões
  • 22,4% por acidentes de transporte
  • 10,2% por lesões autoprovocadas
  • 8,6% por eventos de intenção indeterminada
  • 7,3% por outras causas externas
  • 3,1% por intervenções legais e operações de guerra

Desigualdade racial

O impacto é ainda maior quando se recorta por raça. Jovens negros correspondem a 54,1% das vítimas notificadas e apresentam taxa de mortalidade de 185,5 para cada 100 mil habitantes; 22% acima da média da juventude e mais que o dobro da taxa de jovens brancos e amarelos.

Entre jovens de 15 a 19 anos, a diferença é gritante: negros (161,8) e indígenas (160,7) registram quase o dobro de óbitos em comparação a brancos (78,3) e amarelos (80,8).

Para o coordenador da Agenda Jovem Fiocruz, André Sobrinho, é preciso romper com a naturalização da violência contra a juventude periférica:

“A idade, a raça e o território precisam ser considerados em qualquer estratégia de enfrentamento da violência e isso diz respeito ao Estado como executor de políticas públicas, mas também às diferentes instituições sociais.”

Diferenças de gênero e idade

  • Homens jovens têm taxa de mortalidade oito vezes maior do que mulheres.
  • O grupo mais atingido são os homens entre 20 e 24 anos (390 mortes por 100 mil habitantes).
  • Já as mulheres são as principais vítimas das violências notificadas pelo SUS, sobretudo entre 15 e 19 anos.

O levantamento revela ainda que:

  • Mulheres são mais assassinadas dentro de casa (34,5%)
  • Homens têm maior risco nas ruas (57,6%)
  • O sexismo é a motivação mais frequente da violência contra jovens (23,7% das notificações)

Jovens com deficiência mais vulneráveis

Outro dado alarmante é que 20,5% das notificações de violência envolvem jovens com deficiência, acima da média nacional (17,6%). Entre os mais atingidos estão aqueles com transtornos mentais, de comportamento e deficiência intelectual.

Segundo Sobrinho, a violência contra a juventude está relacionada também às condições sociais e expectativas irreais impostas:

“É uma faixa etária cujas expectativas sociais depositadas falam de vigor, vitalidade, de ser produtivo. Mas, na realidade, vemos os jovens desafiados em trabalhos precários, conciliando jornadas extenuantes, com impactos na sua saúde física e mental. Os jovens PCDs, a depender do tipo de deficiência, sofrem ainda mais, estando mais vulneráveis às situações de violência.”

Próximos passos da pesquisa

Este é o primeiro de uma série de informes epidemiológicos que a Agenda Jovem Fiocruz (AJF) e a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) devem lançar em 2025, com foco específico na saúde da juventude brasileira.

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