
Rafael Cervone, presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP) e primeiro vice da FIESP, demonstrou preocupação com a manutenção da política de juros elevados e defendeu, nesta segunda-feira (17), que o Comitê de Política Monetária (Copom) inicie imediatamente um ciclo de redução da taxa Selic. O colegiado se reúne pela quarta vez neste ano e encerra a deliberação nesta quarta-feira (19).
“A taxa exagerada já se reflete no emprego em nosso setor, que recuou 0,4% em abril, a primeira queda em 18 meses. Também impactam nas horas trabalhadas, que apresentaram redução de 0,3%”, destacou Cervone, citando dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgados no último dia 6.
Segundo ele, os números acendem um alerta para a desaceleração do setor: “O indicador de emprego costuma reagir de maneira lenta e gradual ao cenário econômico. Por isso, uma queda mensal de 0,4% é muito significativa e sinaliza uma desaceleração da indústria.”
Impacto social dos juros altos
Cervone criticou o efeito colateral da atual política monetária sobre o mercado de trabalho e o bem-estar social. “Trocar postos de trabalho formais por juros altos não é uma política sensata para um país que ainda convive com cerca de sete milhões de desempregados e aproximadamente 60 milhões de pessoas em situação de pobreza, conforme dados do IBGE”, pontuou.
A Selic, que chegou a 14,75% em maio — maior nível em quase 20 anos —, continua pressionando o setor industrial com queda na produção, redução na carga de trabalho e ociosidade do parque manufatureiro. Para o presidente do CIESP, não se trata de mera coincidência: “Esperamos que comece a cair.”
Por que a indústria sofre mais com juros altos?
O dirigente explica que, embora os juros elevados afetem toda a economia, o setor industrial é particularmente prejudicado por depender fortemente de crédito para investimentos e capital de giro.
“Máquinas, equipamentos, inovação e modernização tecnológica exigem financiamentos de médio e longo prazos. Com juros altos, o custo desses financiamentos torna-se proibitivo, desestimulando a expansão da capacidade produtiva e a atualização do parque industrial”, detalha Cervone.
Além disso, ele lembra que o capital de giro se torna mais caro, dificultando a manutenção de estoques, a compra de insumos e o pagamento de salários, o que afeta especialmente pequenas e médias empresas. A consequência direta são demissões e até o fechamento de unidades produtivas.
Juros altos também afetam o câmbio e o consumo
Outro ponto destacado por Cervone é a influência da Selic sobre o câmbio. A taxa atrai capital especulativo externo, valoriza o real e enfraquece a competitividade da indústria nacional diante dos produtos importados.
A política de juros altos também freia o consumo das famílias, encarecendo o crédito ao consumidor. “O efeito combinado de retração da demanda e majoração do crédito compromete tanto a produção quanto o emprego”, resume.
Equilíbrio entre controle da inflação e estímulo à economia
Para o presidente do CIESP, é urgente reavaliar o modelo atual de combate à inflação:
“Manter os juros em níveis elevados como ferramenta de combate à inflação tem um custo social e econômico danoso, que recai desproporcionalmente sobre a indústria e os trabalhadores formais. É necessário buscar um equilíbrio entre as políticas fiscal e monetária que assegure a estabilidade de preços sem asfixiar a atividade produtiva”, conclui.
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