Vereadores do movimento Cardume
Foto: Arquivo Pessoal/Movimento Cardume

Há um ano, Jundiaí viu nascer uma experiência inédita em sua Câmara Municipal: o Mandato Coletivo Cardume, eleito em 2024 pelo PSOL.

Formado por Henrique Parra, Carol Lemos e Patrícia Torricelli, o trio de covereadores (as) representa a consolidação política de um movimento que surgiu em 2019, reunindo ativistas e coletivos locais em torno de uma ideia simples e poderosa — fazer política de forma colaborativa, transparente e centrada no interesse público.

Vereadores do movimento Cardume
Foto: Arquivo Pessoal/Movimento Cardume

Em um cenário legislativo que, por quase uma década, esteve sem mandatos de esquerda, o Cardume se propôs a romper com o personalismo e a lógica individualista que dominam a política tradicional. O grupo apostou em uma prática baseada na escuta popular, na construção coletiva e na valorização da diversidade, estabelecendo novas pontes entre a sociedade civil e o poder público.

Neste primeiro ano de atuação, o Cardume afirma ter transformado princípios em resultados concretos. Mas, acima de tudo, o mandato se tornou um laboratório vivo de democracia participativa, enfrentando resistências, aprendizados e desafios institucionais próprios de quem tenta reinventar o modo de fazer política.

Na entrevista a seguir, Henrique, Carol e Patrícia refletem sobre o primeiro ano de mandato, comentam os bastidores da construção coletiva, os desafios dentro da Câmara e as perspectivas para o futuro de Jundiaí — uma cidade que, nas palavras deles, pode ser exemplo
de “democracia mais viva, mais justa e realmente participativa”.

Como cada um de vocês definiria o propósito do mandato coletivo Cardume e o que esperavam ao assumirem este desafio?

Vereadores do movimento Cardume
Foto: Arquivo Pessoal/Movimento Cardume

[Henrique, Carol e Patrícia]: O nosso Mandato é resultado do encontro e do trabalho conjunto de diversos ativistas e coletivos jundiaienses que desejavam recolocar os interesses comunitários e sociais no centro da discussão da política municipal. Quando o Movimento Cardume foi fundado em 2019, vivíamos um momento político onde o individualismo, o preconceito e o ressentimento prevaleciam aos interesses coletivos e humanitários. Foi com o propósito de construir uma política mais diversa, transparente, de combate aos privilégios e de luta por igualdade e qualidade de vida para o povo que o Mandato do Cardume foi eleito em 2024. Assim, entendemos nosso Mandato como um instrumento de escuta, de luta coletiva e de amplificação das vozes que quase nunca são ouvidas na Câmara Municipal.

Vereadores do movimento Cardume
Foto: Arquivo Pessoal/Movimento Cardume

Quando assumimos, tínhamos ciência dos desafios que esse método de construção coletiva traria para o cotidiano, porém também tínhamos a certeza de que a experiência acumulada nos anos anteriores de atuação do Movimento, mesmo sem Mandato, seria nosso pilar de sustentação para promover um mandato diferenciado e de destaque, com resultados para o bem comum, como tem acontecido. Além disso, ser o primeiro mandato do PSOL numa Câmara Legislativa que há pelo menos oito anos não tinha a presença de mandatos de esquerda mostrava-se um desafio a ser enfrentado com ética e solidez programática.

Como se deu o processo de articulação dentro do coletivo — quem toma decisões em que momentos? — e como vocês lidaram com as diferenças internas de visão, caso tenham surgido?

[Carol]: O diálogo e a articulação são os fundamentos do Cardume , e também os nossos maiores desafios. A gente funciona de um jeito diferente: tudo é decidido via consenso entre os quatro integrantes do Mandato. Não existe esse negócio de “quem teve mais voto ganha”. A gente se reúne toda semana para planejar, conversar e decidir os rumos do Mandato. É um processo mais demorado, mas muito mais rico e democrático.

Em temas e decisões estratégicas, não deixamos de consultar nossos conselheiros externos e os grupos/movimentos que estão alinhados e trabalhando naquela temática, bem como os Grupos de Trabalho que construímos ao longo desses anos. Assim entendemos nos aproximar ao máximo de um Mandato Coletivo.

Além disso, no Mandato, cada um(a) do trio de covereadores(as) é responsável por um tema amplo, como educação, meio ambiente, mobilidade, saúde, assistência social e por aí vai. Isso ajuda a dividir as tarefas e dar protagonismo para quem está mais por dentro de cada área. Quando surge uma decisão mais do dia a dia, o porta-voz do tema toma a frente e indica aos demais as possíveis soluções, que são deliberadas em consenso.

E claro que as diferenças de visão acontecem, e a gente acha isso natural e saudável. Tudo está aberto ao debate. A gente conversa, registra as divergências e escolhe juntos o caminho que mais faz sentido com os nossos valores e com o programa do PSOL. É assim que a gente garante que o Cardume siga coerente, coletivo e fiel ao que acredita.

Qual foi a reação mais surpreendente que vocês encontraram — dentro da política tradicional, da imprensa ou da população — ao anunciar que fariam um mandato coletivo?

[Patrícia]: A mais surpreendente foi, sem dúvida, a ideia de dividir poder. No campo da política tradicional, ainda é muito difícil compreender que a representação pode ser exercida de forma colaborativa e compartilhada, sem que isso signifique perda de autoridade. Muita gente reagiu com desconfiança, questionando quem decide, quem assina ou quem manda.

Mas com o passar dos meses, nossa postura firme e transparente começou a causar reação de encantamento e reconhecimento. As pessoas tem percebido e reconhecido a postura independente de cada um e ao mesmo tempo vê unidade no trio. Uma tentativa real de romper com o personalismo e de fazer política com escuta, diálogo e afeto.

Em termos operacionais: quais foram os obstáculos institucionais na Câmara Municipal para um mandato coletivo? Que uma pessoa eleita enfrenta formalmente ao tentar seguir decisões coletivas?

[Carol]: O maior obstáculo para um mandato coletivo é, sem dúvida, o regimento interno e a cultura da Câmara, que foram pensados para um político só, não para um grupo. No papel, quem é reconhecido oficialmente é o vereador eleito, no nosso caso, o Henrique. Só ele pode votar, falar no plenário e ter acesso a certas informações mais restritas. Já nós, os outros membros do Cardume, somos vistos como assessores ou, no máximo, como ativistas que participam de um projeto diferente.

Covereadora Carol
Foto: Arquivo Pessoal/Movimento Cardume

No começo, eu e a Paty sentimos mais de perto essa resistência, principalmente por sermos mulheres. Existe ainda uma dificuldade enorme de aceitar um modelo coletivo de mandato e em Jundiaí isso é ainda mais forte. Foram oito anos sem oposição de esquerda, e de repente chega um mandato coletivo do PSOL, propondo uma nova forma de fazer política. Naturalmente, isso incomoda e causa estranhamento.

Mas o que a gente sempre coloca em primeiro lugar é o trabalho. A gente sabe o que está fazendo, sabe que é um coletivo e que, mais cedo ou mais tarde, esse jeito de governar vai ser entendido e respeitado. É um processo.

Agora, não dá pra negar que o ritmo da Câmara é outro: é um espaço que valoriza decisões rápidas, individuais. E no Cardume tudo passa pela conversa, pelo debate. Isso exige mais tempo, mais escuta, mais cuidado. Um mandato coletivo multiplica as demandas porque cada decisão envolve mais gente e mais reflexão, mas também multiplica a potência e a qualidade do que a gente entrega pra cidade.

Em que medida vocês conseguiram “fazer política de gabinete” (receber demandas, dialogar com população nos bairros) de forma descentralizada em uma pessoa só?

[Patrícia]: A descentralização tem sido um dos nossos maiores aprendizados. Desde o início, estruturamos o Gabinete das Escolas e o Gabinete no SUAS, justamente para garantir presença nos bairros, nas escolas e nos espaços comunitários, para sair um pouco da Câmara, sem perder a referência coletiva.

Cada um de nós assume frentes de escuta e acompanhamento, mas tudo retorna para o coletivo, onde as decisões são tomadas em conjunto. Isso exige rotina, registro e confiança. Assim, conseguimos manter uma atuação territorial viva, sem depender exclusivamente da figura do vereador formal. É mais trabalhoso, mas também mais potente: o mandato se espalha, e o gabinete passa a estar onde o povo está.

Como tem sido a relação de vocês com os demais vereadores — de partidos tradicionais, de oposição ou de base do governo?

[Henrique]: Nossa relação com os demais vereadores é boa, pautada no respeito e no diálogo. Não precisamos concordar (na verdade, muitas vezes discordamos), nem temos o mesmo compromisso (nós não estamos na base do Prefeito e nossa missão é fiscalizar), mas acreditamos que todo mundo tem o dever de respeitar as demais pessoas e manter a civilidade. É o que fazemos diariamente.

Vereador Henrique Parra
Foto: Arquivo Pessoal/Movimento Cardume

Vocês veem colegas da Câmara que se mostraram receptivos à lógica coletiva ou ao tipo de atuação que vocês propõem?

[Carol]: Logo de início, já foi possível identificar quem seria mais ou menos receptível a essa proposta de mandato coletivo. Mesmo assim, é possível afirmar que ainda há uma dificuldade generalizada em compreender a posição e funcionamento de três covereadores(as) em um Mandato. Essa dificuldade tem várias camadas: passa pela ideologia de cada pessoa, pelo Estatuto e funcionamento da Câmara Legislativa e pela falta de histórico de mandato coletivos em nossa cidade (excesso de visão individualista).

Ao mesmo tempo, alguns avanços pontuais também podem ser identificados, já que a nossa atuação propositiva, focada em dados e na escuta da sociedade civil organizada, cria pontes. A receptividade não é necessariamente à ‘ideologia coletiva’, mas sim à qualidade da atuação e à legitimidade que trazemos dos movimentos sociais, o que inspira respeito e, em muitos casos, abre caminho para alianças pontuais em projetos de interesse comum para Jundiaí.

Em que temas ou matérias vocês tentaram construir alianças interpartidárias até agora? Como foram essas negociações?

[Patrícia]: Temos buscado alianças em defesas de caráter público, sempre baseado no direito das pessoas e na justiça social. Em qualquer tema dialogamos com diferentes bancadas, inclusive de partidos com os quais temos divergências ideológicas profundas. Explicamos todos os detalhes e pedimos o apoio.

Nossa postura tem sido sempre de diálogo propositivo, sem abrir mão de princípios. Quando a pauta toca a vida real das pessoas, sempre existe apoio. O aprendizado é que pontes podem ser construídas sem apagar as diferenças.

Covereadora Patricia
Foto: Arquivo Pessoal/Movimento Cardume

Quais das pautas que vocês levantaram durante a campanha (transparência, clima, educação, saúde etc.) já foram transformadas em projetos ou estão em andamento?

[Henrique]: Fiscalizar a Saúde Pública da cidade e ajudar a reduzir filas, Mais recurso para a Assistência Social e Educação especial de qualidade para as crianças. Essas três grandes bandeiras têm sido foco do nosso trabalho, com alguns avanços importantes. Além dos quase 4 milhões de reais em emendas parlamentares para reduzir fila de espera de cirurgias minimamente invasivas de lesões pré malignas, atendimento odontológico sob sedação para crianças com necessidades especiais, fila de diagnóstico TEA, fila de audiometria e aparelho auditivo, fila de crianças com refração ocular, temos fiscalizado constantemente UBS, PAs e o São Vicente.

A lei de transparência da educação inclusiva foi aprovada, para facilitar o acompanhamento e fiscalização das famílias. E toda a articulação para aumentar o Orçamento da Assistência Social parece que vai resultar em quase 16 milhões de reais a mais, por ano, para as políticas dessa área.

Houve algum ajuste ou correção que vocês já fizeram no modelo de funcionamento coletivo (rotinas, comunicação, tarefas) ao perceber algo que não estava funcionando bem?

[Patrícia]: Sim, vários. O mandato coletivo é vivo, e isso significa revisar constantemente o modo de trabalhar.

No início, tentávamos fazer tudo juntos, em todas as pautas, e percebemos que isso era inviável. Passamos a adotar referências temáticas, ou seja, cada um dos trio acompanha mais de perto determinadas áreas, mantendo o debate coletivo nas decisões estratégicas, por exemplo: eu com a educação e educação inclusiva.

Também aprimoramos nossa comunicação interna, com reuniões de alinhamento para as pautas das sessões, projetos, gravações e postagens da semana e a avaliação semanal, o que acaba criando rotinas semanais mais claras e canais de registro de encaminhamentos. A horizontalidade não é espontânea: ela precisa de método e de tempo. Aprendemos a valorizar as pausas, o cuidado e a escuta dentro da própria equipe.

Se pudessem voltar ao início do mandato: que conselho diriam a si mesmos?

[Henrique, Carol e Patrícia]: Se pudessemos voltar lá pro começo do mandato, diríamos: “vocês chegaram até aqui pra realmente mudar a vida das pessoas, então mantenham o foco e a persistência”. Fazer política de forma coletiva é bonito, mas também é desafiador. No começo, talvez tivessemos investido mais tempo explicando pra a população, a imprensa e até os colegas da Câmara como funciona um mandato coletivo. Isso teria evitado muitos mal-entendidos e ajudado a mostrar desde o início que o nosso jeito de trabalhar é diferente, mas legítimo.

Outra coisa que aprendemos é sobre ter paciência estratégica. A política institucional é lenta, e nem tudo dá pra resolver de uma vez. Se pudesse dar um conselho ao Cardume do início, seria pra não se desgastar com cada pequena burocracia, mas guardar energia pras lutas grandes, aquelas que realmente transformam a vida das pessoas. No fim das contas, o que vale é seguir acreditando que dá pra fazer política de outro jeito com diálogo, coragem e muita persistência.

O que mais os surpreendeu nessa experiência parlamentar até agora — seja positivamente, seja negativamente?

[Patrícia]: Positivamente, o que mais surpreende é a força das redes de solidariedade e apoio popular. Quando o mandato se coloca com coerência e transparência, as pessoas se aproximam, colaboram, mandam ideias, ajudam a fiscalizar. Isso dá sentido à política.

Negativamente, ainda impressiona o peso das estruturas hierárquicas e burocráticas dentro da política institucional. Há uma resistência enorme a tudo que desafia o modelo individual e concentrado de poder.

Mas seguimos acreditando que o mandato coletivo é, ao mesmo tempo, ato de resistência e um exercício permanente de fazer diferente dentro do possível.

Como vocês veem Jundiaí ao final dos quatro anos de mandato? Que mudanças concretas gostariam de poder apontar?

[Henrique, Carol e Patrícia]: Ao final dos quatro anos, queremos olhar para Jundiaí e ver uma cidade com uma democracia mais viva, mais justa e realmente participativa. Queremos poder dizer que conseguimos fortalecer a participação cidadã, trazendo e inspirando pessoas e grupos sub representados para política institucional, ocupando esses espaços.

Queremos implantar políticas públicas para a população em situação de rua e avançar na regularização fundiária e na moradia social. Ver resultados concretos na mobilidade e na sustentabilidade — um transporte público mais eficiente e com tarifa zero, menos carros nas ruas, mais áreas verdes preservadas e uma gestão de resíduos mais responsável.

No fim das contas, o desejo é que Jundiaí veja o Cardume como um exemplo exitoso do fazer política de forma coletiva, transparente, ético e com foco na população trabalhadora. Que o nosso jeito de fazer política inspire outros mandatos e continue ecoando na cidade mesmo depois que esse ciclo acabar.

Vereadores do movimento Cardume
Foto: Arquivo Pessoal/Movimento Cardume

Há metas mensuráveis (quantitativas ou prazos) que vocês definiram para dizer: “conseguimos cumprir essa etapa”?

[Henrique]: Sim. definimos 18 grandes metas para esse primeiro ano de mandato, dentre as quais podemos destacar: Conseguir R$ 2 milhões em emendas para a cidade (já conseguimos R$ 5 mi); Fiscalizar a entrega do PA da Vila Arens; a revitalização no Centro; Garantir aumento de recursos no Orçamento para a Assistência Social; Implantação do Banho e Tosa Social para população em situação de rua trabalhar; Garantir o atendimento de qualidade e integral às pessoas com deficiência no ambiente escolar; Aprovar lei de transparência da educação especial de Jundiaí, dentre outros.

O modelo de mandato coletivo que vocês usam poderia inspirar outras cidades ou outras experiências políticas no Brasil: vocês gostariam de disseminar essa ideia? Como?

[Carol]: Com certeza, sim. Eu tenho muito orgulho desse mandato e de estar ao lado do Henrique, Patrícia e Daniel. Eu acredito que o modelo de mandato coletivo não é uma moda ou uma experiência passageira, é uma resposta real à crise de representação que o Brasil vive há tanto tempo. O Mandato Coletivo mostra que dá pra fazer política de outro jeito, com mais escuta, mais participação e mais gente tomando parte das decisões que afetam suas vidas.

Já existem vários mandatos coletivos incríveis pelo Brasil, especialmente dentro do PSOL, que vêm mostrando que esse modelo funciona, que é combativo e profundamente popular. O Cardume faz parte disso, e o meu sonho é que essa ideia se espalhe ainda mais, que inspire outras cidades e novas lideranças a acreditarem que ninguém transforma nada sozinho.

No primeiro momento, queremos ser exemplo que inspire. Junto a isso, buscamos fazer um mandato aberto aos nossos companheiros e coletivos, sendo um instrumento de aprendizagens e ação. Acreditamos que isso fortalece o ecossistema político local.

Para a população: qual seria a melhor forma de acompanhar o trabalho de vocês — e de participar, sugerir ideias, cobrar ações — no dia a dia?

[Carol]: Usamos muito as redes sociais oficiais para divulgar nossa agenda, os projetos que estamos votando, as fiscalizações e vistorias, as audiências públicas e as ações nos bairros. Os nossos perfis no Instagram/Facebook são: @carollemosdocardume, @henriqueparradocardume e @patriciatorricellidocardume.

Pode mandar mensagem direto lá, que a gente responde e, se for o caso, passa o contato pessoal pra conversar melhor.

Temos grupos de whatsapp para divulgação das ações. É só mandar uma mensagem solicitando a entrada para: 11 94714 4032.

Os nossos e-mails institucionais são: [email protected], [email protected], [email protected]

Além disso, mantemos o Gabinete Aberto. É só chamar e agendamos uma conversa. Outra forma é participando nas reuniões e audiências públicas que realizamos, bem como acompanhando as sessões da Câmara toda terça-feira a noite.

Cada mensagem, sugestão ou cobrança é importante. Então nos siga nas redes, participe das conversas e ajude a gente a fazer uma Jundiaí mais justa, humana e coletiva.