
Há tempos que um dos temas dominantes nos debates sobre a economia mundial tem sido a luta econômica e a influência diplomática entre os Estados Unidos e a China. Alguns economistas acreditavam que o gigante asiático se tornaria a maior economia do planeta no final de 2023, mas não correu. A economia estadunidense é madura e tem bases muito solidas, o campo e a indústria continuam inovando e a demanda efetiva da sociedade permanece estimulando a oferta de bens e serviços. O Estado por sua vez tem suas pontas de poder muito ativas atuando estrategicamente por todo o planeta e vem adiando a quase inevitável conquista chinesa.
As recorrentes crises do capitalismo no século passado tendo como epicentro os Estados Unidos forçaram a Nação a criar “mecanismos” para corrigir as rotas da economia e evitar as catástrofes econômicas. As aspirações burguesas da sociedade estadunidense fecundadas antes mesmo da revolução construtivista implantaram a cultura da propriedade privada alicerçada por um arcabouço de regras bem definidas. Arquitetaram um Estado com tentáculos poderosos capaz de subsidiar Inovações, invenções e estimular empreendimentos estatais e particulares flexíveis para dominar cadeias de suprimentos globais e com o reforço das demandas do governo impor suas estratégias de dominação imperialista.
O relatório do Departamento do Comércio do EUA divulgado nos últimos dias de novembro desse ano corrente surpreendeu até os mais otimistas dos analistas, o relato indicou que a economia continuou a crescer, apesar dos receios de uma recessão que persistem desde o final de 2022. O Produto Interno Bruto (PIB) aumentou a uma taxa anualizada de 5,2% no último trimestre, informou o Bureau de Análise Econômica (BEA). Foi o ritmo de expansão mais rápido desde o quarto trimestre de 2021. Dilatação nos gastos do governo e aumentos de salários na massa de trabalhadores estimulou o setor privado a gastar em novos empreendimentos para aumentar a capacidade de oferta e equilibrar a economia em um ponto justo, o que obviamente facilita a administração da politica monetária pelo Federal Reserve e pode aumentar a base de créditos. É importante dizer que taxa de juros da economia é função de produtividade dos recursos de produção, sem isso movimentos de queda é irresponsabilidade das autoridades monetárias.
Os empresários estadunidenses continuam acreditando nos princípios da teoria Keynesiana que levam em conta a demanda efetiva na hora de determinar a sua produção, e assim o equilíbrio no mercado de trabalho não pode ser restaurado com reduções de salário, como ocorrem em outras regiões do mundo, principalmente em países subdesenvolvidos, nos quais os empresários acreditam que a origem das crises são os ganhos dos trabalhadores e tem algum fundamento devido à baixa produtividade. Entretanto é importante apontar a ausência do setor privado na contribuição para a formação de capital humano nessas regiões e o Brasil é um exemplo, pois não tem nenhuma entidade privada produzindo capital humano, exatamente como ocorre nos Estados Unidos.
Os fundamentos das economias diferem quanto à dependência das variáveis da demanda para determinar o movimento do PIB e a organização das estruturas da oferta agregada pra atender a procura. Estados Unidos o crescimento econômico ocorre com os impulsos do consumo das famílias, o qual é responsável por dois terços do PIB, formando o cenário para orientar o investimento privado. A China por sua vez ainda depende dos gastos do governo em infraestrutura para estimular o crescimento, apesar do avanço rápido do mercado consumidor doméstico, o qual já está determinando a lógica da economia do continente, a China passando a ser um grande mercado consumidor de bens e serviços. Ambos os países tem estratégias similares para o comércio exterior, importando matérias primas e disputando o mercado global com produtos industrializados.
Essa breve análise serve para observar a fragilidade de nações populosas como Brasil, Indonésia, Nigéria, Irã, Paquistão e Índia que devido às dificuldades em distribuir rendas sobrevivem com uma massa morta de consumidores proveniente da ocupação informal e a precarização no mercado formal de trabalho. O Estado brasileiro desde a Era Vargas vem tentando construir alternativas produtivas para o Brasil, mas esbarra na ausência de renuncia da coletividade, que adotou uma filosofia de sucessos sem esforços.
Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam necessariamente as ideias ou opiniões do Tribuna de Jundiaí. Everton Araújo é brasileiro, economista e professor.
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