Bandeira do Brasil e bola de futebol
Foto: GoldStock/Canva

O Brasileiro é apaixonado por futebol, acredito que essa paixão tem varias origens e a mais consistente está nas facilidades com as quais se podem montar uma partida. Se não tiver bola e gramado oficial, a molecada com muita criatividade improvisa a arena, confecciona a bola, estabelece as regras, escala os times e o espetáculo está garantido. Todos sonhando em ser um jogador de futebol, e ter o “glamour” dos seus ídolos que atuam nos grandes clubes do País.

Lamentavelmente essa emoção está sendo corroída pelo monopólio da Federação Internacional de Futebol (FIFA), que com o apelo de globalizar e democratizar o esporte, está é dificultando o acesso principalmente aos jovens das periferias. Essa barreira física está crescendo, pois os espaços públicos como as ruas e os campos das prefeituras estão a cada vez mais perigosos, obvio que esse é um problema social do Brasil, mas a FIFA poderia ajudar a solucionar com contrapartidas.

O obstáculo psicológico também é outro impedimento a ser considerado, esse é exclusividade FIFA, pois os meninos e meninas pobres ficam acanhados em jogar descalços e com bolas de meia, e criam suas realidades paralelas motivadas pelas facilidades de acesso as mídias globalizadas, as quais expõem uma infinidade de produtos e serviços para essa prática esportiva, o que provavelmente levam essas classes sociais a acreditar que somente será possível a pratica do futebol com esses acessórios e os serviços agregados. Isso é uma das causas da elitização da alegria do povo brasileiro, basta observar que não tem mais campos de várzea nas grandes cidades e os espaços baratos nos estádios foram extintos.

Em um passado recente, qualquer cidadão debatia nas esquinas a possível convocação da seleção nacional, os nomes dos jogadores eram familiar, e a preferência estava relacionada ao seu time de coração. Entretanto tudo vem mudando rapidamente, e a globalização pode ser percebida nas ruas pois é comum encontrar pessoas vestindo camisas de clubes estrangeiros, e idolatrando craques de outras nacionalidades, induzidos pelo marketing que promove o comércio e ofusca a atividade esportiva.

Isso não é uma exclusividade brasileira, fico imaginando a dificuldade dos franceses e ingleses em pronunciar os nomes dos jogadores que carregam a sua bandeira na copa do mundo da FIFA. No jogo Suíça e Camarões, um negro camaronês marcou o gol da seleção do país da Europa rica e não foi um tento contra, esse africano foi seduzido pelo capital. Esse fenômeno “patriótico” está ocorrendo também em outros esportes e na próxima Olimpíada será comum a presença de atletas de alto nível de origem pobre carregando a bandeira das nações nobres, sem saber ao menos balbuciar uma frase do hino que está sendo entoada na sua premiação.

A usura dos organizadores desses eventos é tamanha, que algumas nações estão perdendo o interesse em promover. Mas estão adaptando o “produto” as necessidades do cliente, e tem atraído o interesse de governos populistas e até de ditadores que usam o espetáculo para distrair a população e manter seus projetos de poder. O brasileiro pobre está perdendo o interesse por seus ídolos nobres, acredito que estão percebendo que nada muda e a cada quatro anos os seus sonhos ficam mais distantes.

E como tudo nesse mundo globalizado está atrelado ao dinheiro, está caindo na realidade que não vale a pena essa emoção falsa e quem realmente alcança a felicidade material são os jogadores que estão dispostos a representar quem melhor lhe remunerar. A globalização do capital além de excluir a maioria da população está corroendo as emoções promovidas pelos seus representantes no esporte e demonstrando que a ideia de “patriotismo” está atrelada a “Pátria Dinheiro”. Será que temos que concordar com o filosofo alemão Karl Marx de que os operários não têm pátria?

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Everton Araújo é brasileiro, economista e professor.