
Durante a Cúpula das Américas em junho de 2022, o Presidente Bolsonaro, sempre abusando de suas habilidades em camuflar os problemas, disse ao Presidente dos Estados Unidos Joe Biden que o Brasil alimenta um bilhão de pessoas no mundo, exaltando o agronegócio brasileiro. Seria algo muito positivo se realmente esse setor fosse autossuficiente na sua cadeia produtiva e contribuísse para o desenvolvimento sócio econômico do país.
Entretanto é um segmento dependente dos fartos subsídios da sociedade, os quais somente
contribuem para o aumento do latifúndio, e no fortalecimento da monocultura agro exportadora, estimulada também por uma moeda domestica desvalorizada e por isenção irrestrita de impostos. Uma agricultura diversificada é essencial para a soberania de uma nação, justamente por fortalecer células de produção familiar e estimular a formação de cooperativas.
Esse modelo de organização da produção permite também que os nativos tenham acesso à renda e a relação com o meio ambiente é respeitosa, ao contrario da maioria dos grandes produtores que continuam usando os recursos naturais como predadores, similar aos ciclos da era colonial. O Presidente da Republica que bajula os oligarcas da agroindústria é o mesmo que não tem sensibilidade para exigir contrapartidas desse setor para aliviar a fome de milhões de brasileiros.
Essa atividade é responsável pela geração de muitos empregos bem remunerados na sua cadeia produtiva, porem em outras nações e internamente os empresários reclamam da legislação trabalhista que protegem os desgraçados que são explorados na produção agrícola. As grandes favelas que estão nascendo na mesma velocidade que um grão de milho em cidades grandes nas regiões produtoras é consequência do desequilíbrio nesse fluxo produtivo.
Como fiz referência à compensação social, cabe citar o exemplo da indústria da construção civil, também muito importante para a sociedade e não tem isenção de tributos na extensão da cadeia de suprimentos mesmo sendo o maior gerador de empregos no país e ainda contribuem com a comunidade destinando um percentual do valor do empreendimento para promoção do desenvolvimento da localidade.
É assustador a agonia de uma grande parcela da sociedade brasileira que estão catando lixo para se alimentar. Os assalariados com a renda corroída pela inflação estão consumindo resíduos da indústria de proteínas animal, como soro de leite, ossos bovinos, carcaças e pele de frango, isso quando encontram em oferta. Essa deficiência na alimentação de crianças e jovens
poderá causar problemas no desenvolvimento desses humanos, de físicos a cognitivos.
Ate existem tentativas para amenizar o problema, mas sem sustentação por ausência de projetos e sim usados com populismo para angariar votos. Reduzir o preço dos combustíveis para carro de passeio poderia ser positivo se tivesse impacto sobre o transporte da produção e bens, evidentemente pode ser uma estratégia para esconder uma das causas da inflação e manter a exponencial de lucros dos acionistas das petrolíferas. É lamentável o comportamento do Chefe da Nação ao louvar a comida no prato do estrangeiro e não se importar com os seus compatriotas famintos.
É similar a um familiar que ao partilhar a herança, enganou a todos os herdeiros abocanhando toda a fortuna, e passa a ostentar a sua riqueza junto aos nobres, enquanto os manos continuam na miséria. O Presidente Bolsonaro deveria fazer uma reflexão sobre uma frase de Abraham Lincoln, “você não consegue escapar da responsabilidade de amanhã esquivando-se dela hoje”.
Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam necessariamente as ideias ou opiniões do Tribuna de Jundiaí.
Everton Araújo é brasileiro, economista e professor.