Com a queda do Império Soviético que se sustentava na planificação da economia, os liberais retornaram ao debate econômico após a desmoralização com a Grande Depressão de 1929 e suas consequências, que teve origem na ausência de regulamentação estatal nas relações de mercado.
Com uma nova roupagem e capitaneado por duas figuras sem expressão que ocupavam cargos de decisão como Margaret Thatcher na Inglaterra e Ronald Reagan nos Estados Unidos. A globalização da economia era a nova ordem mundial e o liberalismo como doutrina, a qual tem na livre concorrência a logica para equilibrar as curvas de oferta e demanda, sabe lá em qual ponto. Nesse pensamento o Estado é vilão pela sua postura interventora, negando todas as suas interferências positivas.
Os americanos se postaram como donos do mundo e passaram a determinar a direção que cada nação deveria seguir com uma série de recomendações com o objetivo de desenvolver e ampliar o novo liberalismo econômico. E pior ainda pressionou as instituições como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial a impor a cartilha neoliberal como pré-requisito necessário para a concessão de novos empréstimos e cooperação econômica e além desses braços de pressão, tem as suas despesas governamentais e o desenvolvimento de tecnologias exclusivas como instrumentos de imposição ao mundo.
Em uma reunião na cidade de Washington, que envolveu instituições e economistas de perfil neoliberal, além de alguns pensadores e administradores de países latino-americanostraçaram dez bases às quais tinham como objetivo fazer reformas nas estruturas estatais, as quais fossem favoráveis às elites financeiras. Entre essas medidas, a mais urgente era retirar o domínio do governo das companhias estatais, até mesmo os monopólios estratégicos para o avanço da sociedade e da economia E o parlamento brasileiro não titubeou em formular Leis para que os gestores seguintes tratassem de fazer as bondades, inclusive alardeando para a sociedade carente de serviços de qualidade que o processo de privatização era um passo para o paraíso.
Mineração, Siderurgia e metalurgia foram os primeiros a caírem nas mãos dos barões do setor, alguns casos tiveram sucesso devido às competências competitivas dos adquirentes, mas o valor da aquisição foi duvidoso e o destino da granatambém. Mas não podemos esquecer as ingerências da mineradora Vale nos desastres de Mariana e Brumadinho. A telefonia com a mudança de matriz tecnológica era uma mina de outro e foi fatiada para as famílias poderosas próximas ao Rei que estava no Palácio e nem esquentaram o banco da administração e entregaram o negocio para os estrangeiros, abocanhando os lucros com a revenda e décadas depois o que oferecem é um serviço caroe de péssima qualidade se comparado que outras realidades.
A farra continuou com as rodovias, apenas os trechos de grandes fluxos foram vendidose tem casos de sucessos, entretanto a contestação está justamente nos preços dos pedágios e são raros os casos com valores justos. Saliento que esses setores pouco favorecem a sociedade, pois encarecem a produção, aumenta o custo para o consumidor fina, baixa remuneração aos trabalhadores e a mão do estado continua presente para punir apenas os micros infratores.
Após três décadas o processo continua e ao invés de melhorar, vem piorando, pois estão chegando aosserviços de primeira necessidade e não combina gestão focada em lucros, com a oferta de qualidade nos serviços públicos. Os trens metropolitanos sãoexemplos de precariedade, pois os cortes de custos para alcançar a margem de lucro desejadadesequilibram o sistema e estabelecem o caos e o rompimento do contrato pode ser a única solução,pois regiões metropolitanas de São Paulo, Rio e Salvador enfrentam rupturas diárias derivadas da redução de custos operacionais.
Esse caos não é exclusivo do setor de logística ferroviária, pois ogoverno do Estado de Goiás teve que subsidiar uma operadora de energia privada para não ter que assumir a gestão de uma empresa sucateada, pois o consorcio nunca fez investimentos nem sequer emmanutenção. O Rio de Janeiro está analisando a possibilidade de intervir na Light que foi leiloada com a promessa de energia farta e barata. E necessário lembrar que já houve intervenções necessárias em aeroportos e rodovias.
E dias piores estão por vir, com a doação daprincipal geradora de energia elétrica para o trio de bilionários famosos por supostas fraudes na Light e Lojas Americanas e os sinais são visíveis com a edição de peças publicitarias fantasiosas na mídia com foco na afirmação da marca. Outro problema a ser enfrentado pela sociedade são os gargalos criados dentro da Petrobras o que pode dificultar as estratégias da companhia para favorecer a coletividade.
Afirmo que a mais grave das decisões dentro do alinhamento brasileiro ao arcabouço do Consenso de Washington foi à decisão do Parlamento em entregar o controle do Banco Central aos financistas da Wall Street, pois é o que precisavam para sugar às energias das empresas e das famílias brasileiras com a rigidez monetária camuflada de combate a inflação. Entregar setores estratégicos para a sociedade ao setor privado é um compromisso do Rei com os amigos ricos e para melhorar condiciona as demandas públicas ao monopólio em vigor.
Fica a reflexão sobre a contradição liberal ditada pelo Consenso pois ao invés de livre concorrência, presenciamos a formação de grandes monopólios e monopsóniosglobalizados, muitos dos quais formados por fusões, aquisições e raros por competências, mas todos financiados com grana pública o que pode ser visto como a boa intervenção.
Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam necessariamente as ideias ou opiniões do Tribuna de Jundiaí. Everton Araújo é brasileiro, economista e professor.