
Servidora pública há 25 anos, Adriana Aparecida Biazin, exibe um sorriso com a certeza da importância de seu trabalho. Telefonista da Prefeitura de Cabreúva, ela assume diariamente a linha de frente e atende servidores e munícipes em seu parrudo aparelho PABX.
O ofício que Adriana se dedica há tanto tempo ainda continua sendo sua grande paixão. Já aposentada, ela sequer pensa em parar e diz com orgulho: “sou literalmente louca pelo que faço”.
O sonho de trabalhar como telefonista é antigo. Começou com um desejo de trabalhar na Telesp (antiga estatal de telefonia), mas não conseguiu. “Mas realizei o sonho de ser telefonista”, garante com satisfação estampada no rosto.
Todos os dias, Adriana atende, em média, o impressionante número de 400 chamadas. São 8 mil ligações por mês. Quase 100 mil em um ano. Mais de 2 milhões de telefonemas após um quarto de século.
Milhares e milhares de atendimentos e 25 anos depois, Adriana tornou-se numa agenda viva da Prefeitura de Cabreúva. Sabe, de cabeça, todos os números de sua extensa lista. São dezenas de ramais e números de demais serviços da cidade. Todos memorizados e sempre à ponta da língua.
O dom e o bom humor contagiante concedeu a servidora bons amigos, dentro e fora da Prefeitura.
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Dona Emerlinda, uma senhorinha que tem o hábito de ligar na Prefeitura quando se depara com qualquer impasse, é um destes exemplos. De tanto ligar, as duas mulheres construíram uma relação de amizade.
Adriana admite: é quase impossível não se envolver emocionalmente diante de alguns casos.
“Quando tem família com algum ente falecido em casa, eles ligam aqui porque não sabem o que fazer. Ou ainda uma mãe que liga pedindo ajuda, porque o filho está doente. A gente percebe, depois de tanto tempo, quando a história contada vem da alma. E não tem jeito… a emoção fala mais alto e eu faço tudo o que está em meu alcance pra tentar amenizar esse tipo de aflição”.
O início
Nos anos 90, quando para atuar como telefonista com carteira assinada, dependia de curso e certificado, Adriana dedicou suas manhãs de sábado para concluir essa etapa e alcançar seu sonho.
No primeiro dia de aula, assim que chegou, Adriana foi avisada de que não havia mais lugar para a aula. Mesmo com o comprovante de pagamento e inscrição, ela foi alocada em um cantinho. Não demorou muito para sair de lá.
Atendendo ao pedido de uma colega de sala, a professora Ana, telefonista de um grande hospital à época, a notou e pediu que, com seu talento, orientasse outras alunas do curso. Em pouco tempo, Adriana saltou de aluna à professora. Passou com êxito pelos desafios postos à frente.
Primeiro, operou como ninguém um equipamento KS, muito usado na época. Depois sentou-se em uma grande mesa e assim como as telefonistas mais antigas, conectou cabos e mais cabos em um extenso painel cravado de furinhos, de onde luzes piscavam aos olhos a cada chamada.
Adriana ajudou a professora a lecionar, conseguiu a documentação necessária e ainda teve seu dinheiro de volta.
E com essa mesma vontade e motivação, mesmo tanto depois, ela assume o telefone todos os dias.