Empresa em Itupeva disponibiliza uma hora de aula por semana para alunos durante expediente
Empresa em Itupeva disponibiliza uma hora de aula por semana para alunos durante expediente

Uma empresa de Itupeva decidiu ceder uma hora da semana para que seus colaboradores possam ter aulas de português e matemática, após enxergar que eles tinham algumas dificuldades nos conteúdos dessas matérias. As aulas, todas as sextas-feiras, são opcionais – mas a maior parte dos funcionários participa, interage com a professora e mostra muita vontade de aprender.

O Tribuna de Jundiaí conversou com o empresário Umberto Martino Facchinei, da Villa Cerroni, empresa de especiarias, sais e temperos, responsável por ceder esse horário semanal de estudo para seus funcionários. Para ele, isso é algo que deveria ser comum.

“Vejo que não estamos fazendo mais do que devemos. A gente entendeu que não deve existir essa coisa pesada de patrão e empregado. Mais do que colaboradores, eles são também sócios dessa empresa e o trabalho de todos é necessário para tudo fluir”, contou.

Como observou a dificuldade deles em alguns conceitos de português e matemática, a primeira coisa que pensou foi em incentivar o estudo. “A maior parte dos funcionários aqui são mulheres. Que horas seria? Sabemos que elas enfrentam dupla jornada de trabalho, com os afazeres domésticos e os filhos, e que é muito difícil que consigam estudar”, pontuou.

Foi então que surgiu a ideia de contratar uma professora para que os funcionários possam estudar remuneradamente e de forma opcional. A professora escolhida foi uma de Ensino Fundamental I, para que pudesse relembrar conceitos simples – e muito importantes – da língua portuguesa e da matemática.

A professora, Paula Bogajo, elogiou a iniciativa. “Apesar de todos saberem a importância do estudo, muitos empresários lavariam as mãos e não se importariam em trazer, para a empresa, uma formação ou algo que tenha o intuito de ampliar o conhecimento e repertório dos funcionários. As pessoas falam sobre engajamento social, mas quantos estão dispostos a abrir mão de uma hora da produção para isso?”, questionou.

“Quantos estão dispostos a abrir mão de uma hora da produção para isso?”, disse professora (Foto: Letícia Rodrigues/Tribuna de Jundiaí)

Até o momento, já foram quatro aulas. A professora garantiu que os alunos mostram muita vontade de aprender. “Todos têm uma grande vontade de estarem aqui. A aula é livre e a maior parte deles comparecem. Eles tiram dúvidas, participam”, continuou.

Na matemática, as maiores dúvidas são em relação à contas como divisão e multiplicação. Em português, o intuito dos funcionários é melhorar a ortografia, a gramática e a comunicação.

Na sala de aula estão alunos de vários lugares: tem gente da região, do nordeste e até mesmo uma aluna venezuelana. Além disso, eles têm diferentes graus de escolaridade. Com isso, a professora pretende, aos poucos, ver a dificuldade dos alunos e formar grupos de acordo com a necessidade de cada um deles.

Alunos de vários lugares: na lousa, a funcionária venezuelana resolve uma conta de divisão (Foto: Letícia Rodrigues/Tribuna de Jundiaí)

Para a funcionária Jamily Ellen, as aulas estão sendo ótimas. “É muito bom, já que faz tempo que paramos de estudar. Consigo relembrar muita coisa e entender melhor. E ela também aborda conteúdos como cultura, sotaques, história, tudo de uma forma muito lúdica e divertida”, relatou.

Já o funcionário Weverton Silva afirma que o que aprende ali consegue repassar em casa, para seus filhos. “A gente pensa que é besteira, mas vai relembrando um monte de coisa. O que aprendi aqui, já ajudo meus filhos no dever de casa. Além disso, já nem estou usando muito a calculadora”.

Jamily e Weverton aprovam as aulas e estão animados com os conteúdos abordados (Foto: Letícia Rodrigues/Tribuna de Jundiaí)

Outros planos

Agora, a empresa pretende levar outras iniciativas para os funcionários. Uma delas são momentos para a prática de ginástica laboral, com o intuito de melhorar a postura dos funcionários a partir de alongamentos. Um dos planos futuros é também a criação de uma biblioteca, para que eles possam criar um grupo de leitura.

Com isso, o intuito da empresa é criar um laço mais próximo entre o patrão e o colaborador. “Eu já fui funcionário, em um tempo em que éramos tratados no ‘chicote’. Temos o intuito de tirar esse lado negativo do patrão”, afirmou Umberto.

O empresário Umberto Facchinei: “já fui funcionário” (Foto: Letícia Rodrigues/Tribuna de Jundiaí)

Em Itupeva desde 2016, a Villa Cerroni tem rótulos próprios e também produz especiarias para empresas como a Walmart e o Pão de Açúcar. A empresa foi fundada em 1999 e hoje conta com 50 funcionários registrados.