
Os braços já não têm a mesma agilidade de antes, mas o olhar continua apurado. Depois de ser fotografado, ele dá a dica para a edição. “Você recorta aqui”, aponta na tela da câmera.
Júlio Montheiro, de 52 anos, há três já não está no mercado de trabalho, mas os registros de suas décadas de carreira estão pela casa em que mora com a esposa, em Jundiaí.
Uma caixa com dezenas de câmeras antigas, outras mais novas preservadas em estojos com lentes, pastas e caixas com fotos de exposições ocupam um dos guarda-roupas de casa.
Fotógrafo do Jornal de Jundiaí e do já extinto Bom Dia, ele também deu aulas e ministrou workshops na Polo Cursos, Casa da Cultura, Centro de Educação e Lazer para Melhor Idade (CELMI), Fatec e Câmara Municipal.
Hoje, depois de cinco AVCs, mora em um apartamento com Sônia Rezende, que cuida do marido em tempo integral.
“Fomos unidos pela fotografia”, comenta a companheira.
Ela, amante de boas fotos, descobriu o trabalho de Júlio através de uma amiga que frequentava um de seus cursos.
“Eu me apaixonei pelo trabalho dele, e depois que o conheci, por ele também”.
Sem o movimento das pernas e com mobilidade reduzida nos braços, o fotógrafo, extremamente lúcido e saudoso, fala com um pouco de dificuldade sobre os anos que atuou como fotojornalista e professor.
“Gostava muito de retratos. Preto e branco, colorido… Se a foto fosse boa”, lembra da preferência.
E com certeza eram.
Vansan Neto, um dos alunos que tiveram a oportunidade de conhecer de perto todo talento de Júlio, lembra das aulas do mestre.
“Ele passou muito além de como mexer em uma máquina, ele ensinou também a filosofia por trás da fotografia. Ele nos ensinou a procurar pelo momento certo e estar pronto para ele”, destaca o ex-aluno, hoje colega de profissão.
Interligados pela fotografia
Assim como Sônia conheceu Júlio através de seu trabalho, os registros do antigo fotógrafo criaram outros belos acasos.

Alunos que se tornaram professores; gerações de famílias que se renderam às aulas de Montheiro; filha e genro com câmeras também penduradas no pescoço. Ele criou uma extensão de sua família por meio da fotografia.
“Pagamos o aluguel, compramos medicamentos, fraldas e pagamos a fisioterapia e acupuntura auricular”, explica Sônia. Gastos que beiram R$ 4 mil por mês.
A alimentação, por sua vez, é provida pela filha Mariana, de 26 anos, filha do primeiro casamento. Ela também organiza rifas em sua conta no Instagram e abriu uma vaquinha online permanente para ajudar o pai.
Júlio ainda tem o caçula, Guilherme, hoje com 20 anos.
Dias melhores
Com os resquícios de quem trabalhava em clima de redação de jornal, com pressa, Júlio tenta se recuperar. As sondas já não são mais necessárias, a quantidade de convulsões também diminuiu consideravelmente; com a ajuda da fisioterapia e força de vontade, o braço direito começa a ser sustentado de novo.
Agora avô de Oliver, um menino risonho de nove meses, ele confessa ser coruja. “Se pudesse ser mais, eu seria mais”, brinca.
A alegria não abandonou o bom e experiente Júlio. Bem-humorado e de bem com a vida, como sempre foi reconhecido pelos alunos e colegas de profissão, ele se sente grato por todos aqueles que ocupam o seu lugar nessa corrente do bem.
Vansan Neto fez questão de afirmar que, mesmo com tantos cursos e graduação no currículo, foi Júlio Montheiro o professor que o pegou pela mão e caminhou junto. Essa é a hora, enfim, de seus pupilos fazerem o mesmo com o mestre.
Estamos todos juntos nessa caminhada.
Para ajudar Júlio, clique aqui.




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