Funcionário da Comgás
Foto: Divulgação/Comgás

O que era uma despesa doméstica previsível se transformou em dor de cabeça e indignação para centenas de moradores de Jundiaí. Desde agosto, consumidores têm relatado um aumento expressivo nas contas de gás natural fornecido pela Comgás. Em alguns casos, as tarifas ultrapassam os R$ 500 em um único mês, sem aviso prévio de reajuste ou alteração contratual.

Em comum, os relatos trazem valores incompatíveis com o consumo real, oscilações bruscas nas cobranças e, em alguns casos, até faturas duplicadas. A situação levou parte dos clientes a registrar reclamações na própria concessionária e no Procon, mas, até o momento, muitos aguardam explicações convincentes.

De R$59 para R$546 em um mês

A moradora Gisele Floriano, residente no Residencial Allegro, no bairro Ponte São João, conta que as contas sempre estiveram dentro do padrão — até agosto.

“Moramos eu e meu marido, sendo que ele viaja e passa quase a semana inteira fora. Ou seja, o maior consumo é meu, que também trabalho o dia inteiro e quase não cozinho em casa. Me mudei para o condomínio em janeiro de 2025″, conta, em entrevista exclusiva ao Tribuna de Jundiaí.

“Até julho o consumo estava dentro do esperado. Mas, em agosto a conta foi de R$ 546,02. Em julho eu havia pago R$ 59,35.”

Ao reclamar na Comgás, a empresa realizou uma releitura, mas informou que “não havia irregularidades”. No mês seguinte, a fatura despencou para R$ 14, o que reforçou a desconfiança da moradora sobre erro no cálculo.

“Agora em outubro nova cobrança abusiva: R$ 530,40. A empresa informou que o aumento do consumo é decorrente do período de sazonalidade (inverno, férias). A minha rotina continua a mesma (…). Acionei a Ouvidoria da empresa e ainda não tive retorno. (…) Hoje (23 de outubro), recebi uma conta com novo valor: R$ 385,54, ou seja, a Comgás admitiu que o valor estava incorreto. Mesmo com a redução, o valor ainda está muito acima da média.”

Outros condomínios também foram afetados

A situação não é isolada. No Condomínio Practice Club House, na Rua do Retiro, a síndica Glória Almeida confirmou que as contas mensais médias, antes de R$ 60 mil, chegaram a R$ 100 mil em outubro — e em duplicidade.

“Em 14 de Outubro chegou a fatura de R$ 100 mil, e quatro dias depois, em 18 de Outubro, uma nova conta de R$ 100 mil, em duplicidade. Depois da reclamação, estão fazendo estorno para as próximas faturas da duplicidade.”

De acordo com ela, o condomínio absorveu temporariamente o custo para não repassar a cobrança aos moradores até a resolução do caso. Ainda assim, ressaltou a preocupação com os condôminos: “Reclamaram sim, mas se eu tivesse colocado no boleto as duplicidades das contas as queixas seriam maiores.”

O condomínio, que abriga cerca de 4 mil moradores, ainda aguarda um posicionamento formal da concessionária. A moradora Thalita Leite, que vive no mesmo condomínio, relata que percebeu o aumento apenas ao comparar os boletos do condomínio.

“Meu custo de gás foi de R$ 56,81 em julho, para R$ 103,38. (…) Na semana do vencimento, a síndica do prédio disse em mensagem que o condomínio tinha procurado a Comgás e que aguardava um posicionamento.”

O que diz a Comgás

Em nota exclusiva enviada ao Tribuna de Jundiaí, a Comgás reconheceu “inconsistências pontuais” nas cobranças de alguns clientes do Condomínio Allegro e afirmou que encaminhou os casos para correção.

“Após as devidas análises, identificamos inconsistências pontuais na cobrança de alguns clientes do Condomínio Allegro e encaminhamos imediatamente para atualização em conta. Os clientes identificados serão avisados por e-mail e também terão a sinalização nas suas contas.”

A empresa ressaltou que erros são exceções dentro do volume total de faturas mensais, destacando que atende mais de 2,7 milhões de clientes em 96 municípios. “Trabalhamos de forma contínua para assegurar a qualidade dos serviços prestados e, sempre que identificamos a necessidade de ajustes, mobilizamos todos os recursos disponíveis para realizar as correções com agilidade e eficiência.”

Sobre o Condomínio Practice, a Comgás alegou que baseou as cobranças de julho e agosto em estimativas médias, pois o leiturista não conseguiu acesso aos medidores. De acordo com a empresa, a leitura presencial de setembro acumulou o consumo dos três meses, resultando em uma cobrança mais alta:

“As faturas de julho e de agosto consideraram uma estimativa com base na média de consumo dos últimos doze meses (…). Em setembro, foi feita a leitura presencial, que identificou o consumo real acumulado dos três meses. (…) Essa regulamentação garante que o cliente seja cobrado pelo volume exato de gás que ele efetivamente consumiu.”

Procon orienta consumidores a formalizarem queixas

Embora muitos consumidores ainda aguardem retorno da empresa, o Procon Jundiaí confirma que recebeu diversas reclamações relacionadas à Comgás nos últimos meses. O órgão orienta que todos os casos sejam formalizados com cópia das faturas e protocolos de atendimento, permitindo a abertura de processo administrativo caso as irregularidades persistam.

Reação em cadeia

A polêmica das faturas de gás vem provocando reações em grupos de moradores e redes sociais, onde consumidores compartilham capturas de tela e relatos de aumentos semelhantes. Muitos relatam que os valores não correspondem aos hábitos de consumo e pedem maior transparência da concessionária sobre critérios de leitura e estimativa.