
O Dia Mundial do Combate ao Bullying é datado em 20 de outubro e tem como objetivo alertar e informar sobre as violências verbais, psicológicas e físicas, sofridas por crianças e adolescentes dentro das escolas ou na internet.
No município de Jundiaí (SP), foram registrados 220 casos de bullying, prática reconhecida como criminosa, com picos nos meses de janeiro, março, abril, julho e setembro, segundo dados da Infographya.

E nesta data, a psicóloga Gabriela Monteiro, que atua no Espaço Open Mind, em entrevista ao Tribuna de Jundiaí comenta sobre o que leva uma criança ou adolescente a praticar bullying, impactos na vida adulta da vítima e como os pais devem agir ao notar um comportamento estranho.
O que leva uma criança ou adolescente praticar bullying com os colegas?
O agressor que pratica bullying, em muitos casos, envolve terrores psicológicos e agressões físicas às vítimas e, segundo Gabriela, isso acontece devido a necessidade de poder e controle. “O agressor busca exercer controle sobre os outros para se sentir superior ou poderoso. Isso pode ser uma forma de compensar sentimentos de impotência”, explica.
E além disso, as motivações de tais violências podem ser insegurança e baixa autoestima; imitação de comportamentos apreendidos em casa, ou seja, a criança ou adolescente que crescem em ambientes instáveis, abusivos e com violência, tem tendência em reproduzir esse comportamento; pressão social e desejo de aceitação – praticando agressões para se encaixar em um grupo ou ganhar status social; e ausência de empatia, que pode estar relacionada a problemas emocionais.
“O comportamento agressivo de alguém que pratica bullying pode ser influenciado por uma combinação de fatores psicológicos, emocionais e sociais”, destaca a psicóloga.
“Meu maior medo é que meus filhos sofram bullying na escola”
O Tribuna de Jundiaí conversou com uma das vítimas da agressão psicológica, que não preferiu se identificar. C. M., de 29 anos, que sofreu bullying por anos na escola, conta que a angústia, sofrimento e dor vivida nesse período afetou em sua vida adulta.
“O bullying é o principal motivo da minha total falta de autoconfiança e da minha autoestima. Isso não me afetou somente na infância e adolescência, mas os reflexos me seguem até hoje”, diz.
C. M. conta que ela não se enxerga por si, mas sim pelos olhos do agressor e as humilhações e violências acabam se tornando uma realidade. “Alguma parte de nós que não havia insegurança, passa a ter por conta do que ouvimos”, completa.
“Meu maior medo é que meus filhos sofram bullying na escola ou que façam com alguém o que fizeram comigo”, afirma.
A psicóloga Gabriela destaca que os impactos do bullying na vida adulta podem ter significados variados, afetando tanto o bem-estar emocional quanto o comportamento social. “Muitas vezes as experiências de bullying durante a infância ou adolescência deixam cicatrizes que perduram, influenciando a maneira como uma pessoa se relaciona consigo mesma e com os outros”, como foi o caso de C. M., por exemplo.
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Monteiro destaca que os principais impactos são: baixa autoestima e sentimento de inferioridade; ansiedade e depressão; dificuldades em relacionamentos; comportamentos autodestrutivos; e transtornos de estresse pós-traumático (TEPT) – para muitos, a experiência pode ter sido traumática ao ponto de causar sintomas de TEPT, como flashbacks, pesadelos e hipervigilância.
A vítima que sofre de TEPT pode ter pesadelos recorrentes de retornar à escola e passar pelas mesmas situações de bullying devido aos traumas não resolvidos. “Na psicologia, isso está relacionado à forma como o cérebro processa experiências emocionalmente intensas, especialmente aquelas que envolvem medo, humilhação ou impotência. Esses pesadelos refletem a dificuldade em processar ou integrar completamente as experiências traumáticas. A escola, por ser um ambiente de formação social e emocional crucial, pode se tornar um símbolo poderoso desses medos e dores. Durante o processo do sono, ao trazer essas memórias à tona, revela que a pessoa ainda está tentando lidar com as emoções ligadas ao bullying”.
“Os efeitos podem variar dependendo de fatores como a intensidade do bullying, o tempo em que a pessoa foi alvo e a rede de apoio que teve”, alerta a psicóloga, destacando que o acompanhamento com um profissional é imprescindível para lidar com essas questões.
Ambiente seguro e acolhedor ajudam vítimas de bullying a superá-lo
Gabriela explica que, quando uma criança ou adolescente passa pelo bullying, a intervenção dos pais e responsáveis é importante para lidar com a situação e minimizar os impactos emocionais com um ambiente seguro e de escuta com demonstração de empatia.
E para isso, os pais devem conversar abertamente sobre o bullying, fortalecer a autoestima e confiança dos jovens, ensinar habilidades de enfrentamento, estabelecer uma comunicação com a escola, monitorar o uso de tecnologia – em casos de cyberbullying -, promover um círculo de apoio social e manter uma comunicação direta com a escola.
Caso seja necessário, Gabriela destaca que a ajuda profissional pode contribuir positivamente para o enfrentamento. “Se o bullying estiver afetando gravemente a saúde mental da criança ou adolescente, como causando ansiedade, depressão ou retraimento social, considere a ajuda de um psicólogo. Terapia pode oferecer um espaço seguro para que o jovem elabore suas emoções e desenvolva ferramentas para lidar com a situação”, finaliza.