
Outubro chegou e com ele a cor rosa, que representa a campanha de conscientização do câncer de mama. No estado de São Paulo, em 2023, 20.470 mulheres foram diagnosticadas com câncer de mama, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA).
Muitas dessas mulheres acabam passando pelo tratamento e realização da mastectomia total – quando a mama é retirada, incluindo o tecido mamário, mamilo e aréola -, para a cura ou controle da doença.
O processo muitas vezes é a única alternativa da paciente que enfrentou o câncer de mama e pode deixar danos na autoestima da mulher. Pensando nisso, a tatuadora de Jundiaí Lilian Gazzi percebeu a carência do trabalho de reconstrução de aréolas e passou a oferecer o serviço.
“Na época em que me interessei nem era tatuadora, mas trabalhava em estúdio de tatuagem e percebi que existia uma carência para esse tipo de trabalho. Há 13 anos, quando comecei, só haviam profissionais homens e as pacientes não se sentiam à vontade”, recorda.
Lilian detalha que a situação é bem delicada e que, muitas vezes, as mulheres que passam pelo procedimento não querem nem tirar a roupa na frente do companheiro, quanto menos na frente de um profissional homem, destacando a sua importância dentro do cenário profissional.
Hoje, a tatuadora conta com a recomendação de alguns profissionais de saúde para que as pacientes recuperem sua autoestima e passem a se reconhecer na frente do espelho.
“Após a retirada e o tratamento, finalmente a paciente enfrenta sua última batalha, que é a reconstrução da mama. Porém, mesmo após esse último estágio, ela ainda não reconhece a mama porque está sem Aréola. Então, hoje em dia, o próprio médico sugere e encaminha as pacientes para o profissional de sua confiança”, detalha.
Lilian conta que, apesar da medicina ter evoluído significativamente, ainda não há nada que possa atribuir a reconstrução das aréolas nas pacientes que tiveram câncer de mama e que, por isso, os médicos fazem o encaminhamento para concluir todo o trabalho do cirurgião.
O “toque final” para pacientes que enfrentaram o câncer de mama
Para a psicóloga Thaíse Goes Carneiro, a reconstrução dos mamilos por meio da tatuagem pode ser transformadora para pacientes que enfrentaram o câncer de mama. “O processo de mastectomia não afeta apenas a saúde física da mulher, mas também provoca uma desconexão com sua imagem corporal. A ausência de mamilos pode simbolizar, para muitas, uma perda da feminilidade e identidade”, explica.
Thaíse também detalha que a reconstrução da aréola não é somente o toque final, mas também é uma forma simbólica de resgatar uma parte importante física que, para muitas, foi retirada pelo câncer de mama.
“A sensação de retomar o controle sobre seu corpo, após ele ter sido “invadido” pelo câncer, fortalece a autoestima e promove o sentimento de que essa etapa está, de fato, sendo superada”, afirma a psicóloga.
A tatuagem de reconstrução é uma ótima alternativa da paciente seguir em frente e deixar sentimentos como vergonha, ansiedade e insegurança para trás. Thaíse destaca que, além da tatuagem, é fundamental que as mulheres façam acompanhamento terapêutico e recebam apoio da família.
“Nesse Outubro Rosa, vale lembrar que o caminho para a recuperação do câncer de mama vai além da cura física e projetos como estes, são ferramentas valiosas na reconstrução emocional dessas mulheres, oferecendo, através da tatuagem mamária, um novo olhar sobre si mesmas, repleto de força, coragem e esperança”, comenta.
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Realismo na pele
O processo de criação destas obras é feito com base no aspecto da pele, avaliando as cicatrizes, a escolha da agulha e a profundidade de aplicação, assim como as técnicas variam de acordo com a pessoa, visando machucar o menos possível.
Já os desafios artísticos ficam por conta da habilidade do profissional em reproduzir a aréola mais sintética possível, aplicando técnicas que trazem um efeito tridimensional, tornando-a tatuagem mais natural possível.
Sobre o pagamento, Lilian conta que quem tem condição paga completa, que não consegue pagar tudo é parcial e, para aquelas em situação de vulnerabilidade, o serviço é totalmente gratuito.
“Se ela pode pagar integralmente, ela paga, mas se ela pode pagar somente o material, ela paga. Se ela não pode pagar nada, ela não vai pagar. Geralmente, as pacientes que chegam até o estúdio elas querem pagar por completo”, afirma.
Lilian também conta que atende em campanhas nas cidades de Campinas, Limeira e Piracicaba, em São Paulo, neste mês para doar o seu dia “por caridade e amor” em instituições de apoio às pacientes com câncer.
“Sou privilegiada por esse trabalho e por tanto aprendizado. Dessa forma eu honro muito cada superação alcançada”, finaliza. Acompanhe o perfil da tatuadora no Instagram @liligazzitattoo.