
No Dia das Mães, histórias emocionantes revelam a força de mulheres que enfrentam jornadas intensas para cuidar de filhos com Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Ser mãe já é um ato de entrega profunda. Quando essa maternidade vem acompanhada do diagnóstico de TEA, a missão se torna ainda mais desafiadora. Um levantamento da Genial Care revela que 86% das pessoas cuidadoras de crianças autistas no Brasil são as próprias mães — um dado que expõe a realidade de exaustão, solidão e julgamento enfrentada por tantas mulheres.
O Tribuna de Jundiaí conversou com duas dessas mães, moradoras da cidade, que compartilham suas vivências com coragem e sensibilidade.
Uma jornada de descobertas e resiliência
Rita Benutto, 50 anos, mãe de Bernardo, de 10, vive na Vila Hortolândia. Desde cedo, ela percebeu que o filho apresentava comportamentos diferentes. “Bernardo, sempre foi diferente, mamava sem me olhar, na introdução alimentar ele não aceitava nada. De 5 pra 6 anos ele começou espelhar o comportamento da Avó com Alzheimer.”
O diagnóstico de TEA com TDAH levou anos. Nesse tempo, Rita enfrentou preconceito e a dor de ver o filho ser julgado. Mas, com firmeza e apoio de familiares, conseguiu construir uma rotina equilibrada.

“Eu não me importo, tenho consciência de quem é o Bernardo e do que ele precisa, e não deixo de fazer as minhas coisas, ter meus momentos.”
Sobre a condição do filho, ela é enfática: “Já ouvi algumas vezes ‘amo meu filho, mas não amo o autismo’, então não dá pra separar, o Bernardo é único do jeitinho que ele é.”
A mensagem que deixa para outras mães é de esperança e autonomia:
“Vamos dar ferramentas para que eles possam ser o mais independentes possível, espero que amanhã eu não seja mais necessária pra ele se virar.”

Diagnóstico, solidão e amor incondicional
Renata Fernanda Tamega Prandini, 34 anos, confeiteira e moradora do Jardim das Carpas, é mãe de Gabriel, de 5 anos. Os primeiros sinais vieram por meio da regressão da fala. “Gabriel com 1 ano e meio estava começando a falar algumas palavras básicas… e ele começou a regredir.”

A busca por ajuda foi solitária. Só uma neurologista particular ouviu suas preocupações. A rede de apoio foi praticamente inexistente.
“Apoio mesmo, somente da minha mãe. E hoje eu entendo isso, pois só quem é mãe de verdade, não gostaria de ver filho sem tratamento.”
Mesmo casada, Renata sente a sobrecarga emocional e física. “Pra mim, é meio complicado ainda. Eu acabei me deixando bastante de lado para cuidar dos meus filhos. Acaba que não ‘sobrando tempo’ para me cuidar.”

Ela também aponta a falta de informação como um obstáculo. “Ainda existe falta de informação de como é o caminho até o diagnóstico, quais direitos as pessoas autistas têm.”
Apesar dos obstáculos, a maternidade transformou Renata.
“A minha vida mudou muito, e pra melhor. Hoje eu consigo entender e ser mais paciente e acolhedora… Eu acredito que o propósito do Gabriel ser meu filho foi esse, me tornar uma pessoa melhor.”

E conclui com uma mensagem poderosa: “A vida de mãe atípica é difícil. Luta atrás de luta, mas é tão bom ver o desenvolvimento deles, o carinho e amor que eles nos dão. Cada abraço deles é aquela recarregada de energia, sabe.”

Exaustão invisível e necessidade de apoio
As histórias de Rita e Renata refletem uma dura estatística: segundo a comunidade materna Portal Mommys, 49% das mães de crianças com TEA se sentem em um “limbo emocional” e 80% afirmam estar exaustas, mesmo sem diagnóstico clínico.
Outro dado da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostra que o Brasil tem 11 milhões de mães solo, quase seis vezes mais do que pais solo. Dessas mulheres, 72% vivem sozinhas com seus filhos, sem rede de suporte familiar.
Essa realidade escancara a necessidade de políticas públicas eficazes, maior acolhimento da sociedade e, acima de tudo, empatia.
Um convite à reflexão neste Dia das Mães
Neste Dia das Mães, mais do que flores ou homenagens simbólicas, é hora de reconhecer a luta diária dessas mulheres que cuidam sem descanso, enfrentam o preconceito e, ainda assim, encontram amor e propósito em cada gesto. São elas que carregam o mundo nos braços — muitas vezes, em silêncio. E merecem ser vistas, ouvidas e apoiadas.