Hoje, Paulo está na entrada e faz parte da banda que acompanha o cantor Djavan. (Foto: Leca/ Reprodução redes sociais Paulo Calasans)
Hoje, Paulo está na entrada e faz parte da banda que acompanha o cantor Djavan. (Foto: Leca/ Reprodução redes sociais Paulo Calasans)

Violão, violino, violoncelo, flauta, clarinete. Esses são só alguns dos instrumentos que ficavam espalhados pela casa em que o músico Paulo Calasans cresceu, em Jundiaí. “Meu pai tocava em muitos grupos e orquestras. Ele sempre trazia algo novo para casa”, relembra o músico.

A família, composta pelo pai, mãe, Paulo e mais dois irmãos, morou na Senador Fonseca, e de lá, foram para a rua Bandeirantes, mas criaram raízes mesmo na Vila Rio Branco. Lá, a música quase que brotava das paredes. Estava em todo lugar. Do piano para o violão, do violão para o baixo, do baixo para a flauta: cada irmão dava uma voltinha e alternavam os instrumentos.

“Os ensaios dos grupos que meu pai fazia parte aconteciam em casa”, explica Paulo, saudoso, trazendo à memória os momentos da infância. “Até hoje, quando visito minha família em Jundiaí, vou ao bairro e fico admirando nossa antiga casa”, brinca o artista.

Ainda na adolescência, Paulo foi convidado a tocar em uma banda, que se apresentava nos clubes da cidade. Ele compartilhava as apresentações com suas aulas no Conservatório de Tatuí, onde foi estudar violino – ou, pelo menos, o propósito era esse. Mas ele revela que, ali naquela época, ele já assumia o piano para brincar com os colegas.

Nem um extenso túnel do tempo pode detalhar o que foi a juventude do instrumentista. Entre grandes nomes e compositores, ele se aperfeiçoou, mergulhou ainda mais neste mundo de tons e acordes, até encontrar com Nana Caymmi e passar a viver de música.

Mudou-se para São Paulo e, aos 24 anos, passou a fazer parte de um grupo instrumental ao lado de Nico Assumpção, gênio brasileiro no contrabaixo. O trabalho lhe concedeu um contrato com a Warner e Paulo começou, então, a participar da gravação de CDs de vários artistas brasileiros.

Gal Costa, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Jorge Vercillo. A lista é tão longa ou maior do que a dos instrumentos que Paulo tocava com tanto apreço na infância.

Convidado por Djavan a compor a banda, o jundiaiense se mudou para o Rio de Janeiro e assumiu os teclados em 1988, quando permaneceu por um curto período. Em 1995, ele retornou ao grupo e ficou até 2001, quando saiu das estradas para passar mais tempo com a família.

“Eu percebi que meus filhos estavam crescendo e que não estava em casa na maior parte do tempo; por isso, saí do Djavan e me dediquei a outros projetos”, explica Paulo.

O músico deu lugar ao diretor. Ele passou a dirigir shows de artistas e gravações de discos, mas nada que o tirasse do lar por um longo período.

Nove anos depois de sua saída, em uma tentativa de reestruturar a banda com nomes antigos, Paulo foi convidado mais uma vez a integrar o time de músicos de Djavan. Com os filhos mais velhos, ele voltou para a estrada, onde está até hoje.

Nas próximas duas semanas, cruza Norte, Nordeste e Sudeste. “A vida de músico não acaba nunca. Eu sou muito grato por tudo o que vivi até hoje, mas sempre tenho o desejo que fazer melhor amanhã, de tocar melhor”.

E quem acha que a música tomou todo o tempo de Paulo, se engana. Fernanda e Renata são as filhas mais velhas e jundiaienses, Laura e Bia, paulistanas, e Pedro, o mais novo com seis anos, o único carioca. Malu, Gabriela e Heloísa, as netas, chegaram para aquecer o coração do avô.

“É difícil dizer o que mais marcou a minha vida, minha carreira. Eu não me arrisco, pois sei que sempre haverá mais momentos do que posso lembrar”, conta Paulo.

Mesmo assim, ele destaca que conhecer o ídolo Milton Nascimento foi um prazer muito grande. Participar de um especial de Natal com Roberto Carlos, dividir os palcos com Gal Costa e bater um papo com Quincy Jones, produtor do Michael Jackson, nos bastidores, foram outras oportunidades que ficaram registradas e assim permanecerão.

“’Isso está acontecendo mesmo?’ era só o que passava pela minha cabeça. Tão natural, mas tão surreal”, brinca.

Longe dos holofotes, ele também tem centenas de boas lembranças. “Dia desses minha filha, que mora em Lisboa, me ligou e disse o quanto ela sente saudades de me ver em casa, fazendo arranjos para as músicas”, lembra Paulo.

Com carinho e nostalgia similar, Paulo recorda dos momentos da infância na Vila Rio Branco. A música que atravessava os cômodos e reunia a família e amigos, hoje é encontro de multidões.

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