
Nesta quarta-feira (18), Dia do Orgulho Autista, o Tribuna de Jundiaí conversou com a educadora Karen Merlim, de Jundiaí (SP), que compartilhou sua trajetória como mulher autista, mãe de uma criança também autista e profissional da educação inclusiva. Karen recebeu o diagnóstico apenas na vida adulta, o que, segundo ela, transformou completamente sua percepção de si mesma e de sua história.
Ela é autora do livro ‘Autismo: Antes e Após o Diagnóstico Tardio – Reflexões e Desafios de uma Jornada de Autodescoberta‘, publicado pela Editora Ipê das Letras. A obra reúne relatos, reflexões e propostas para uma educação mais humana e inclusiva.

Criado há 20 anos nos Estados Unidos por um grupo de pessoas com Síndrome de Asperger, o Dia do Orgulho Autista foi celebrado pela primeira vez em 18 de junho e, desde então, se internacionalizou. A data é uma importante oportunidade para ampliar a conscientização sobre a neurodiversidade e promover o respeito às diferenças. No Brasil, o Movimento Orgulho Autista Brasil (MOAB) lançou a campanha “Sou autista, sou defiça”, reforçando a luta por mais acessibilidade e inclusão para a comunidade autista.
Diagnóstico tardio: alívio e reencontro
Para Karen, descobrir o autismo na fase adulta foi como encontrar a peça que faltava em um grande quebra-cabeça. Ela conta que, durante anos, viveu com rótulos e culpas, sem compreender plenamente suas próprias limitações e singularidades.
“O diagnóstico veio como um alívio, mas também como um convite ao reencontro comigo mesma”, afirma. “Passei a entender meus limites, minha forma única de perceber o mundo e, sobretudo, a ressignificar minha história com mais compaixão e menos autocobrança”.
Maternidade atípica e o olhar da inclusão
Mãe de Luca, de 11 anos, que também é autista, Karen relata que sua vivência como mãe a aproxima ainda mais da realidade de outras famílias e fortalece seu trabalho como diretora de escola e consultora em educação inclusiva.
“Ser mãe de uma criança autista me deu um olhar que ultrapassa qualquer teoria”, diz. “Isso me transforma em uma profissional mais sensível, mais empática e mais combativa. Luto para que a escola seja um espaço realmente acessível não apenas no papel, mas na prática”.

Orgulho como ato de resistência
Segundo Karen, o Dia do Orgulho Autista é uma data para afirmar identidades e resistir às tentativas de normatização.
“É o reconhecimento de que eu posso existir como sou, sem precisar mascarar meu jeito de ser para caber em padrões. Celebrar o orgulho autista é dizer, em alto e bom som: ‘nós existimos, resistimos e temos muito a contribuir’”.
Ela destaca a importância de respeitar as singularidades dos estudantes e reforça que a verdadeira inclusão começa com escuta, respeito e compromisso diário.
Desafios da educação e o combate ao capacitismo
Apesar dos avanços, Karen reconhece que ainda há muito a ser feito. Ela aponta que o sistema educacional ainda valoriza a padronização e não oferece o suporte necessário para alunos autistas e suas famílias.
“Muitos autistas são rotulados como ‘difíceis’, ‘desinteressados’ ou ‘problemáticos’, quando, na verdade, apenas precisam de outra abordagem”, afirma. “Falta formação continuada para os profissionais, apoio às famílias e políticas públicas eficazes”.
Além disso, ela critica o capacitismo presente na sociedade, que ainda impede o acesso pleno à cidadania e aos vínculos afetivos.
Livro como ferramenta de acolhimento e transformação
Karen fala sobre a publicação do seu livro, resultado de sua experiência como mulher autista, mãe e educadora.
“Ele nasceu do desejo de transformar minhas vivências em uma narrativa que pudesse tocar corações e abrir consciências”, conta. “É também minha contribuição para a construção de um mundo em que a diferença não seja apenas tolerada, mas acolhida como potência”.
A obra serve como um chamado a outras mulheres, mães e profissionais: “Você não está sozinha”.
Neste Dia do Orgulho Autista, histórias como a de Karen Merlim reforçam a importância da escuta, da empatia e do compromisso com a diversidade – dentro e fora das escolas.

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