
Há alguns anos, as comunicadoras Deh Bastos e Paula Batista eram crianças negras. A experiência vivida na infância as motivou a criar, já adultas, como mãe e madrasta, respectivamente, o projeto “Criando Crianças Pretas”, iniciativa que cria ambientes de diálogo para falar sobre a educação inter-racial nos primeiros anos de vida.
Dizer que tratar deste tema ainda na infância é a solução para que o racismo, enfim, desapareça, seria uma afirmação incerta, mas conversar com as crianças e construir uma mente anti-racista já representa um bom começo.
“Não existe resposta certa”, diz Deh Bastos, mãe de José, de um ano e seis meses. “Nosso trabalho é, justamente, de levar o questionamento para famílias e educadores. Nós provocamos o diálogo”, explica.
Paula Batista afirma que as crianças aprendem a ser racistas, muito devido ao racismo estrutural, presente na sociedade e nem sempre tão perceptível aos olhos.
Por isso, é importante que os pequenos sejam ensinados desde o início.
“Nós acreditamos no poder das crianças, por isso, entendemos que elas precisam saber que o racismo existe: as crianças negras precisam saber sobre o empoderamento e crianças brancas precisam ser ensinadas a ser anti-racistas”.
Para desenvolver o material e fazer o projeto acontecer, elas buscam referências em si mesmas, em suas trajetórias. “Faltou conscientização. Nós não fomos ensinadas a lidar com os episódios de racismo que sofremos na infância”, explica Deh.
“Por isso, o nosso trabalho é para crianças, mas utilizando a família, educadores e outras pessoas que possuam laços afetivos com os pequenos”.
Para isso, a dupla aposta em uma comunicação empática, que provoca a troca de experiências e opiniões. O bate-papo franco pode ser aplicado em qualquer ambiente que queira discutir questões inter-raciais: empresas, escolas ou entre pais e familiares.
“É um trabalho de desconstrução e construção de ideias em conjunto e que causa reflexão. O objetivo é que os participantes pensem sobre isso e tenham vontade de agir”, explica Paula.
Deh é taxativa: “Nós utilizamos leveza e simplicidade na fala, mas o tema está longe de ser assim. O racismo mata. O racismo é crime. E ele precisa ser encarado dessa forma”.
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