Motoboy Carlos Alberto Saraiva. (Foto: Divulgação)
Motoboy Carlos Alberto Saraiva. (Foto: Divulgação)

As agressões verbais sofridas pelo motoboy Matheus Pires pelo morador de um condomínio residencial em Valinhos, na última sexta-feira (7), não foi um caso isolado. Graças às imagens gravadas por um vizinho o episódio ganhou repercussão nacional e escancara a forma como muitos profissionais desta categoria são tratados.

As ofensas do agressor como “você é um lixo” ou “semianalfabeto”, além do ato racista em que o agressor, que é branco, aponta para o braço, são exemplos em que muitos entregadores de aplicativo sofrem no seu dia-a-dia.  

O motoboy Carlos Alberto Saraiva, de 34 anos, revela que casos parecidos como o sofrido por Matheus em Valinhos acontecem muito em Jundiaí, tanto pelos usuários dos aplicativos como pelos donos dos estabelecimentos.

“Jundiaí é uma cidade boa para trabalhar, mas há muitas pessoas que fazem pouco caso com o nosso esforço. Somos marginalizados, mas estamos organizados e lutando por uma melhor condição de trabalho”, afirma.

Carlos Alberto trabalha cerca de 12 horas por dia para ganhar uma média de R$ 70. Segundo ele, os aplicativos pagam uma média de R$ 10 por cada 11 km rodados. “Fica difícil pagar as contas”, reclama.

Além do baixo salário e dos perigos no trânsito, a rotina do motoboy também envolve o contato com pessoas ignorantes. “O que aconteceu é lamentável. Triste ver a nossa categoria sendo marginalizada desse jeito”, diz.

Trabalho digno

Para o motoboy de Várzea Paulista, Jamerson de Almeida Araújo, mais conhecido como Teco, de 37 anos, o trabalho como motoboy é bom, mas lamenta o comportamento discriminatório de muitas pessoas. 

“Infelizmente tem pessoas que sentem prazer em nos humilhar, principalmente quando fazemos entregas em condomínios de alto padrão”, revela.

Teco costuma acordar cedo para iniciar a jornada do dia. Primeiro ele leva a mulher para o trabalho e, só então, inicia as entregas em sua Honda CG 125 cc, que ele tem há 11 anos. Ele diz que costuma rodar uma média de 200 a 300 km por dia. Seu prazer é chegar em casa a salvo e brincar com a filha de 5 anos.

“Temos família e trabalhamos dignamente como qualquer outro, mas no nosso caso colocamos nossa vida e dedicação para atender a sociedade, seja no sol, chuva e as vezes até deixamos de comer para ganhar tempo nas corridas. Infelizmente, muitas pessoas não valorizam o nosso trabalho”, lamenta.

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Mobilização

Paulo Lima, o Galo, liderança dos motoboy. (Foto: Scarlett Rocha)
Paulo Lima, o Galo, liderança dos motoboys na capital. (Foto: Scarlett Rocha)

A greve nacional dos entregadores de aplicativos que já aconteceu por duas vezes neste ano é uma amostra de como a categoria está organizada. Uma das lideranças do movimento é o motoboy Paulo Lima, conhecido como Galo.

Em entrevista ao Tribuna de Jundiaí, Galo reforça que o caso de Valinhos é rotineiro. “Acontece todo dia e toda hora”.

Ele lamenta que o que aconteceu com o motoboy de Valinhos tenha sido tratado como um caso isolado de racismo e classismo. “Não é um caso isolado e tem que servir de lição para que a categoria fique ainda mais unida”, conclui.