
Após uma carreira consolidada como cabelereira, Joana Camargo teve contato com a cocaína e o crack e tornou-se uma pessoa em situação de rua, segundo ela, iniciando uma “história complicada e horrível que durou dez anos”. Além de se afastar de sua família, ela perdeu seu carro, casa e até mesmo seu salão de beleza. Em julho deste ano, ela completa oito anos desde que se casou e saiu das ruas. Atualmente ela trabalha com serviços gerais na Organização da Sociedade Civil (OSC) SOS Cristão, que presta serviço à Prefeitura de Jundiaí para o acolhimento de pessoas em situação de rua na modalidade abrigo, onde pode conviver e compartilhar suas histórias com pessoas que tiveram trajetórias semelhantes às suas.
“Depois que cheguei ao Centro Pop, que é a porta de entrada para o atendimento, conheci toda a rede vinculada à Unidade de Gestão de Assistência e Desenvolvimento Social (UGADS) e também os serviços de saúde, como o Centro de Atenção Psicossocial (Caps). Eu lutei para me encaixar de novo na sociedade, mas só consegui com o apoio da rede. Eu via o apoio terapêutico e psicológico que me davam e as expectativas que todos tinham de mim, para que eu saísse das ruas, e isso me incentivava. E hoje consigo estar do outro lado e incentivar também estas pessoas”, comemora.
Renata Mangieri, assessora da UGADS, reiterou a importância do acesso das pessoas à rede para a construção do processo de saída das ruas. “Além de muito inspiradores, os depoimentos corroboram com objetivo da campanha ‘Menos Esmola, Mais Dignidade’, sobre a importância de que as pessoas em situação de rua sejam encaminhadas para os equipamentos e serviços da Rede Pop Rua, rede socioassistencial de atendimento à população em situação de rua. Por isso reiteramos que as pessoas conheçam toda a rede de atendimento para essas pessoas e que façam os devidos encaminhamentos”.
João Carlos da Silva, que também trabalha na OSC como monitor, é ainda mais enfático sobre a sua experiência com as ruas e com as drogas. “Saí das ruas há sete anos, depois de 20 anos. Agora finalmente eu posso dizer que eu vivo, pois antes eu só vegetava. Comecei a usar drogas muito cedo, aos 17, e isso me levou à prisão e às ruas, e a fazer tudo o que existe de errado. Contei muita mentira para conseguir dinheiro fácil, mas isso me humilhava”.
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A Jundiaí João chegou em 2013 e permaneceu em situação de rua até aceitar o acolhimento. “É muito difícil parar, mas não é impossível. São só necessários vontade e apoio. E, no meu caso, o apoio veio do abrigo. Quando estava para terminar o meu prazo de permanência, o serviço notou que eu tinha um propósito, que eu estava evoluindo, e decidiram prorrogar. Hoje consigo pagar o aluguel da minha casa e não preciso pedir para ninguém para tomar banho e para comer. Aos 38 anos, posso dizer que cuido das pessoas da mesma forma que muita gente cuidou de mim. Finalmente estou aprendendo a viver e sentindo-me feliz”.
Sempre que alguém identificar pessoa em situação de rua solicitando ajuda financeira ou apoio, a orientação da campanha “Menos Esmola Mais Dignidade” é que ela seja direcionada para o Centro Pop.
Para o acolhimento institucional da população em situação de rua, a Prefeitura disponibiliza mais de cem vagas mensais, nas modalidades Casa de Passagem, Abrigo e República, atualmente, por meio de parceria com as OSC SOS, SOS Cristão e Casa Santa Marta. A equipe técnica é formada por psicólogos, assistentes sociais, arte-educadores, terapeutas ocupacionais, cuidadores, monitores, cozinheiros e motoristas.