Muita gente almeja a carreira dos sonhos, benefícios e qualidade de uma vida estável, e o jundiaiense Hugo Mendes tinha tudo isso em 2016, como coordenador de projetos internacionais. Desde o início da vida adulta, Hugo trabalhou em grandes companhias, com convênio médico, plano de carreira e tudo mais.
Ele saiu de casa aos 16 anos de idade, após a morte da mãe. Chegou a se mudar para o Nordeste pela primeira vez em uma das oportunidades. “Minha casa era de frente pro mar, mas eu pouco ia pra praia”, dizia. Depois deste período, Hugo voltou para Jundiaí e se mudou para o Jardim Paulista.
“No meu quarto tinha até uma banheira, a porta do quarto dava na piscina. Meu vale-alimentação da época era quase o que eu consigo no mês hoje em dia. O fim de semana passava voando.”
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Mas não era o que ele queria. Hugo dizia que a vida que levava o tirava a coisa mais importante: tempo.
Início da jornada da sua vida
Assim, com uma Kombi, R$ 2,5 mil reais e a companhia de sua fiel escudeira, a cadela Brisa, Hugo deixou Jundiaí e deu início à jornada da sua vida. Ainda em 2017, a dupla já havia percorrido mais de 14 mil quilômetros e conhecido 15 estados brasileiros.
“Comecei de novo. Hoje, minha casa é menor que aquela de madeira de quando eu saí da casa dos meus pais, 12 anos atrás. Hoje moro numa Kombi. Tudo o que tenho está dentro dela e ainda assim sobra muita coisa que nunca uso. Mas hoje eu me permito, todo tempo do mundo”, comentou em uma entrevista dada em 2017.
Até 2020, Hugo havia passado por 24 estados brasileiros e conhecido os cinco continentes. Mas não foi fácil levar a vida que sempre quis. Hugo e Brisa passaram fome e sede durante as aventuras pelo mundo e buscava algum trabalho em toda cidade que paravam.
“Fiz coisas que nunca havia sequer pensado em fazer, trabalhei na louça, na faxina, diária de servente, trabalhei de voluntário, cerca no meio do mato”, publicou em seu Facebook, em outubro deste ano.
A perda de sua companheira
No dia 15 de janeiro de 2019, a companheira de viagem de Hugo morreu enquanto a dupla estava hospedada em Pipa, no Rio Grande do Norte. “Eita cachorrinha valente! Eu vou morrer de saudades”, lamentou Hugo nas redes sociais, na ocasião.
Alguns meses antes de falecer, Brisa enfrentava dificuldades por causa de um tumor na coluna. Nesta época, Hugo se desfez da sua amada Kombi e passou a morar em Pipa com a cadela. “Por ela, precisei de um cantinho fixo para sua recuperação.”
Recomeço
Por isso, durante a estadia, Hugo abriu um hostel ecológico e espaço cultural na praia. Foi ali que Hugo conheceu sua esposa, Stella Souza. Em Pipa, o casal criava o filho, Sol. Em paralelo com os trabalhos da pousada da família, Hugo ainda trabalhava como gerente em um hotel da cidade.
Na tarde desta terça-feira (17), Hugo e a família aproveitavam o dia de folga para descansar na praia, quando uma parte de uma falésia despencou e atingiu os três. De acordo com testemunhas, Stella ainda tentou salvar o filho, que foi encontrado debaixo do soterramento ainda respirando. No entanto nem Hugo, nem Stella, nem Sol, sobreviveram ao acidente.
Nas redes sociais, amigos e pessoas que acompanhavam a trajetória de Hugo manifestaram pesar pela morte da família.
“Inacreditável, Hugo! A felicidade que você mostrava me contagiava aqui, cara… Que Deus, sua mãe e a Brisa recebam e cuidem de você e sua família. Vai em paz”, dizia um dos posts.
“Deus quer os bons com ele… Por isso veio buscar vcs 3. Suas palavras era simplesmente de encher os olhos de lágrimas.. e hoje elas foram reais! Tivemos o imenso prazer de conhecer, e compartilhar lindos momentos.. foi inspiração para nosso mundo viajante! Que Deus ilumine, e dê forças para os que ficam! Com certeza foram em paz e já imagino que teve reencontro com a Brisa! Foi tão bom.. que foi direto pro céu!”, homenageou uma conhecida do casal.
