Mulher maquinista de trem
Foto: Arquivo Pessoal

No Dia Internacional da Mulher, histórias como a de Nilda Souza mostram a revolução da presença feminina em áreas tradicionalmente dominadas por homens. Há mais de 20 anos, ela é maquinista dos trens da CPTM e se tornou inspiração para muitas mulheres que desejam ingressar no setor ferroviário.

Desde criança, Nilda já demonstrava interesse pela profissão. “Meu pai tinha uma banca de jornal em frente à antiga estação da Barra Funda e sempre me levava junto. Ele gostava muito de trens e sempre me mostrava o maquinista. Isso fez crescer em mim um grande interesse pela função”, relembra. Mas foi apenas aos 20 anos, incentivada por um amigo, que ela prestou concurso para a empresa. Ela conta que ficou com medo de tentar se candidatar para maquinista, mas era seu maior interesse. Ainda assim, optou por agente operacional antes de me sentir segura para dar esse passo.

Desafios de ser mulher e maquinista

O começo da carreira não foi fácil. Com filhos pequenos e um ambiente desafiador, ela enfrentou dificuldades. “Nos primeiros dias, chegava a ficar com dor de barriga. Medo de atropelar alguém, de errar, de ser reprovada… Mas eu fui com medo mesmo”. O treinamento e a monitoria a ajudaram a ganhar confiança, mas os desafios continuaram ao longo da jornada.

Mulher maquinista de trem
Foto: Arquivo Pessoal

A dúvida sobre sua competência era constante. “Teve situações em que duvidaram da minha capacidade. Faziam piadas, sugeriam que eu deixasse certas tarefas para outros. Mas eu sempre me impus: ‘Eu vou conseguir, deixa que eu faço'”. Com perseverança, Nilda foi ganhando respeito e mostrando que era tão capaz quanto qualquer outro profissional.

Hoje, o ambiente mudou, e Nilda sente que conquistou seu espaço. “Aprendi a conquistar meus colegas e a ter respeito através do diálogo, mostrando o outro lado. Trabalho com uma equipe muito boa e sou bem respeitada. A empresa está mudando sua visão, promovendo mais mulheres para cargos de liderança e investindo em diversidade”.

Maquinista é inspiração para outras mulheres

Mesmo com os avanços, a maquinista destaca que a resistência à presença feminina no mercado de trabalho ainda existe. “A quantidade de mulheres ocupando espaços de poder ainda é pequena. Embora esteja aumentando, ainda é uma luta constante”. Ela busca contribuir para essa mudança, participando de projetos de fortalecimento e valorização da mulher.

A maquinista se orgulha de ser uma inspiração para outras mulheres. “Recebo muitas mensagens no Instagram perguntando sobre a profissão. Quando trabalho na estação do Brás, muitas pessoas me abordam para saber sobre os desafios da carreira”.

Mulher maquinista de trem
Foto: Arquivo Pessoal

O maior exemplo de sua influência, porém, veio de casa. “Minha filha se inspirou em mim e se tornou maquinista. Hoje, ela é supervisora de Centro de Controle na CCR. Um momento inesquecível foi vê-la operando um trem em um evento do qual participei. Meu coração ficou muito feliz“.

‘Não percebemos a importância do nosso papel’

Entre tantas experiências marcantes, uma se destaca pela reflexão que proporcionou. “Em um evento cristão, o pastor mencionou que havia alguém ali que carregava almas no trabalho. Aquilo me tocou.”

“No dia seguinte, na minha cabine, pensei: ‘Meu Deus, eu levo almas, eu levo pessoas‘. O que fazemos pode se tornar tão automático que não percebemos a importância do nosso papel”.

Para o futuro, Nilda tem um novo objetivo: ajudar a formar novos maquinistas. “Gostaria muito de participar de treinamentos, de ensinar, de ajudar outras pessoas a entrarem na função. Isso me deixaria muito feliz”. Com sua trajetória de superação e dedicação, ela segue mostrando que as mulheres podem estar onde quiserem — inclusive no comando de um trem.