Larissa tem alopecia, doença marcada pela ausência de pelos e cabelos. (Foto: Reprodução/Instagram)
Larissa tem alopecia, doença marcada pela ausência de pelos e cabelos. (Foto: Reprodução/Instagram)

O cantor MC Gui é um dos assuntos mais comentados do Twitter nesta semana. Acusado de bullying, ele protagonizou uma cena que causou revolta nas redes sociais.

Durante as férias com a família na Disney, o funkeiro, enquanto estava em um trem que levava até um dos parques do complexo, filmou, sem autorização, uma criança que usava peruca. Rindo com os amigos e apontando o celular para a menina, visivelmente constrangida, ele diz “Mano, olha isso”.

Depois de ter shows cancelados e prejuízo na venda de produtos que levam seu nome, o cantor publicou um vídeo em seu Instagram se desculpando pelo comportamento e informando que não tinha a intenção de constranger ninguém; o material foi apagado tempo depois.

MC Gui pediu desculpas pelo comportamento, depois de ter shows cancelados. (Foto: Reprodução/POP Mais)

Nas redes sociais, a história contada é que a criança, chamada July, tem câncer e passa por tratamento de quimioterapia. Por isso, a ausência do cabelo e sobrancelhas.

A pequena Larissa Moraes Medeiros, jundiaiense de 11 anos, diz que o que ocorreu com July é muito comum. A Lari, como é conhecida pelas crianças que a seguem nas redes sociais, fala em seus canais sobre como é ter alopecia, doença marcada pela queda de cabelos.

“Isso já aconteceu muito comigo. Quando eu estava no ônibus, no trem, as pessoas riam, apontavam”, lembra ela, do tempo em que não usava a peruca. “Era como se eu não fosse humana”.

A pequena Lari explica que não apenas ela ficava triste, mas a mãe também sofria com os olhares de estranhamento. “Eu precisei ser firme”.

A jundiaiense acompanhou a repercussão do vídeo em que MC Gui constrange a criança e, mesmo com a pouca idade, ela tem muito a dizer. “Ele fez isso porque, embora ela estivesse usando a peruca, era possível ver a falta de cabelo e sobrancelhas. Isso é uma coisa muita feia de se fazer com uma criança. Uma atitude muito inadequada”, afirma.

Embora distante geograficamente de July, Lari deixa um recado a ela e a todas as crianças que passaram por isso. “O segredo é não ligar, pois situações assim vão acontecer outras vezes. Passe por cima”. Ao MC Gui, um conselho sábio: “Se coloque no lugar do outro. É muito ruim passar por isso”.

Empatia

O significado do dicionário é claro. Ter empatia é a ação de buscar agir ou pensar da forma como uma outra pessoa pensaria ou agiria nas mesmas circunstâncias. Em poucas palavras, é se colocar no lugar do outro.

Para a psicóloga cognitivo-comportamental, Renata de Lucca Zezza, a empatia é um dos mecanismos para identificar se a pessoa está praticando bullying. “Se eu sei que a pessoa não gosta daquela brincadeira, se eu não a conheço e se eu me colocar no lugar dela e perceber que eu também não iria gostar, e mesmo assim, a provocação acontecer, então aí não é apenas uma brincadeira, é bullying”, explica.

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A profissional relata também que crianças que sofreram com provocações podem, enquanto adultos, desenvolver diversos tipos de transtornos. “Se você sofreu bullying por ser magro ou gordinho durante a infância, anos mais tarde isso pode refletir em transtornos alimentares, como a anorexia, a compulsão alimentar ou a bulimia”.

Por isso é tão importante que pais e professores observem crianças e adolescentes, a faixa etária que mais sofre com o bullying. Mudanças de comportamento, isolamento, tristeza profunda, insegurança, baixa autoestima e medo de ir à escola são sinais de que o jovem pode estar sofrendo.

“O que o MC Gui fez, muita gente faz o tempo todo”

Assim como a pequena Larissa, Renata é taxativa. “Olhar, zombar, rir, fotografar, filmar alguém que está em situação diferente daquela considerada normal. Isso acontece o tempo todo”.

Segundo ela, o que July sofreu muita gente sofre. No caso da menina, se os boatos se confirmarem, o constrangimento pode influenciar em seu tratamento. “A tristeza dentro de uma doença como o câncer prejudica muito a recuperação. Ela pode se desmotivar”, explica.

Os efeitos nocivos do bullying reforçam a necessidade de um acompanhamento psicológico. Renata indica que, no consultório, o primeiro passo é identificar se o jovem realmente sofreu bullying e em que situação isso aconteceu, o que fez a família procurar pelo atendimento.

Depois disso, se inicia um trabalho de reconstrução. “Provavelmente, essa pessoa foi exposta, essa pessoa perdeu a autoestima, essa pessoa sofreu”.

Tão importante quanto tratar a vítima, prevenir o comportamento do agressor é fundamental. Para isso, a combinação exercício da empatia e educação é recomendada.

“Orientem seus filhos, mostrem a eles o que é ter empatia. Ensinem a eles que não machuquem o outro, porque eles não gostam de ser machucados também”, conclui.