
O painel “Criança e Clima – Riscos Climáticos Extremos”, realizado durante o 2º Encontro Brasileiro de Cidades das Crianças e 2º Fórum Internacional das Infâncias 2024, trouxe à tona uma questão urgente: a necessidade de discutir os impactos das mudanças climáticas sobre as crianças e a responsabilidade dos adultos nesse processo.
O peso da responsabilidade
Realizado na Sala Glória Rocha, o painel, diferentemente dos demais eventos da programação, não contou com a participação das crianças. A decisão, segundo o gestor de Cultura, Marcelo Peroni, se deve ao fato de que a temática exige uma reflexão profunda por parte dos adultos. “A grande questão é não colocar um peso que não é delas. Essa responsabilidade cabe a nós”, afirmou.
Jundiaí: incorporando as mudanças climáticas nas políticas para a infância
Peroni destacou ainda que a temática das mudanças climáticas foi incluída como o nono eixo norteador do trabalho voltado para as crianças em Jundiaí. Essa iniciativa demonstra o compromisso da cidade em integrar a questão climática às políticas públicas voltadas para a infância, se unindo aos outros oito eixos já existentes: promover a participação, garantir a autonomia, direito à educação, direito à saúde, direito à cultura, direito ao brincar, ferramentas de desenvolvimento e redes internacionais.
Vulnerabilidade brasileira e os impactos das mudanças climáticas nas crianças
Durante o painel, mediado por Úrsula Troncoso, do Ateliê Navio, especialistas abordaram os desafios e as urgências relacionados às crianças e às mudanças climáticas. Julia Gouveia, da Plan Internacional – CLICA, ressaltou a vulnerabilidade do Brasil às mudanças climáticas, tanto por suas características geográficas quanto por sua extensão territorial.
“Quando se fala em mudanças climáticas, é importante considerar que o Brasil é um país extremamente vulnerável, não só pelas características geográficas, mas também por sua extensão. De 1961 a 2020 houve um aumento de eventos extremos, como secas, ondas de calor e chuvas torrenciais. Nos últimos 20 anos, mais de 125 milhões de brasileiros foram afetados por eventos climáticos”, alertou Julia.
O futuro em risco: números alarmantes e a ansiedade climática
Os dados apresentados por Julia evidenciam a gravidade da situação: “Mais de 40 milhões de crianças brasileiras estão em risco devido a desastres climáticos. Além disso, normas sociais impõem às meninas papéis desiguais, nos quais elas ficam em posições de gerenciar tarefas como agricultura e coleta de recursos naturais.”
Thamires Pedra Rica, da Allma Hub, levou o público a refletir sobre a importância de se discutir o tema, mesmo que ele seja incômodo: “Por que fazemos o que fazemos? Por que estamos aqui falando de desemparedamento, do brincar, de inteligência emocional? Entre as buscas por respostas, olhar para o clima, sustentabilidade e relação das crianças com o clima precisa estar na nossa lista de atividades. A ansiedade climática é uma realidade. As crianças não estão aqui porque não é uma conversa confortável. Mas precisamos sair daqui com um retorno para elas, com reflexões que possam envolvê-las nesse diálogo.”
Mudanças climáticas: ameaça à saúde e ao bem-estar das crianças brasileiras
Juliana Gatti, da Árvores Vivas – CLICA, apresentou dados alarmantes da UNICEF (2022), que revelam a dimensão do problema no Brasil: 8,6 milhões de crianças e adolescentes em risco de falta de água; 7,3 milhões expostos a riscos de enchentes fluviais; 1,8 milhão vulneráveis a enchentes costeiras; 24,8 milhões sob risco de poluição ambiental; 13,6 milhões expostos a ondas de calor; e 27,8 milhões vulneráveis aos efeitos de pesticidas e agrotóxicos.
“Mudanças climáticas exacerbam riscos e problemas de saúde preexistentes em crianças. Flutuações no clima, qualidade do ar e disponibilidade alimentar afetam diretamente o bem-estar infantil”, frisou Juliana.
Ação urgente: recomendações para mitigar os impactos nas cidades
Diante desse cenário preocupante, JP Amaral, coordenador do Programa Criança e Natureza, do Instituto Alana, apresentou recomendações cruciais para que os municípios minimizem os impactos das mudanças climáticas sobre as crianças. Entre as medidas, destacam-se: fortalecer a infraestrutura de serviços de saúde, escolas e creches; integrar a educação climática aos currículos escolares; criar programas de atenção especial para crianças sobre os efeitos das mudanças climáticas; e implementar estratégias para a redução de riscos.
Saiba mais
A programação completa do 2º Encontro Brasileiro de Cidades das Crianças e 2º Fórum Internacional das Infâncias 2024, que segue até sábado (17), está disponível no link: https://jundiai.sp.gov.br/2o-encontro-brasileiro-cidades-das-criancas-e-forum-internacional-das-infancias-2024/