
Valdinéia Aparecida do Nascimento, intérprete de Jundiaí, lançou seu livro “Descobrindo um mundo diferente” no último sábado (26), durante a terceira edição do Simpósio sobre Surdo-Cegueira, Autismo e Deficiências Múltiplas. O livro fala sobre a realidade da inclusão de crianças surdocegas.
O evento que ocorreu no auditório Pedro Fávaro da Faculdade de Medicina de Jundiaí (FMJ), além de receber o lançamento, tratou também da necessidade de uma maior inclusão na sociedade de pessoas com necessidades especiais.
Valdinéia e intérprete tátil de Gustavo Henrique Mariano Gonçalves, aluno da Emeb Antônio de Pádua Giaretta, do Jardim Carlos Gomes. O menino de 12 anos é surdocego congênito, tem Síndrome de Peters e é protagonista da obra lançada.
“O Gustavo é um exemplo de evolução social e pedagógica e já consegue se comunicar bem”, definiu a professora.
[tdj-leia-tambem]
O livro conta passagens da vida do jovem misturadas com personagens fictícios. Valdinéia conheceu Gustavo – morador do Jundiaí-Mirim – no primeiro ano do simpósio, em 2017. “Ele era agressivo, além dos problemas de nascença. Agia desta forma por não ser compreendido em sua comunicação. Era a forma que encontrava para se defender, sem falar no isolamento, que foi mudado um ano e meio depois, com o trabalho de libras táteis. Gustavo usa as mãos como ferramenta de comunicação”, revelou.

Gustavo está feliz com o lançamento. Samuel e Jéssica, pais do adolescente traduziram essa mistura de sensações. “Este é um momento de realização e de descoberta para mim”.
Valdinéia reforçou a importância de livros que envolvam a educação inclusiva, especial sobre a surdocegueira. “Não existe um material como esse, destacando que existe transformação a partir da comunicação”, emendou Valdinéia, que também é pedagoga, psicopedagoga e tradutora e intérprete de libras.
Iniciativa
O simpósio nasceu há dois anos como forma de divulgação da surdocegueira, como explicou a diretora da Emeb, Adriana Menezes Tonholo.
“Quem tem esta deficiência pode ser atendido numa escola regular, como a nossa, porém devemos pensar na infraestrutura do colégio para melhor atender este aluno”, disse. “O Brasil precisa saber como lidar com pessoas com deficiência. Em seguida, é necessária a criação de políticas públicas que atendam aos anseios destes indivíduos”, completou Adriana.
Valdinéia também falou aos participantes. Ao lado de Sandra Samara Pires Farias, mãe da também surdocega congênita Janinne Pires Farias, de 27 anos, elas falaram sobre a realidade e a inclusão da deficiência.
Janinne mora na cidade baiana de Barreiras e veio a Jundiaí especialmente para participar da iniciativa da FMJ. Ela é professora de braile e faz faculdade de Pedagogia. Foi a primeira surdocega congênita do Brasil a ingressar numa instituição pública de ensino superior.
“Estar em Jundiaí faz com que eu me sinta muito bem. Os surdocegos podem sim participar de todos os eventos que desejarem”, resumiu a jovem em gestos “traduzidos” pela mãe.