
Você sabia que Jundiaí já teve Bruxas? A pesquisadora Narayan Porto, da Universidade de São Paulo (USP), baseou a sua tese de mestrado, em 2019, no estudo sobre “bruxas paulistas” do século 18. O projeto foi mencionado por um professor de filologia, na graduação em Letras, que foi inicialmente feito por outros pesquisadores da mesma universidade.
Mas a curiosidade de Narayan pelo tema aumentou após encontrar documentos na Cúria Metropolitana de São Paulo durante sua pesquisa. Nestes documentos, eram descritas acusações de bruxaria ligadas a duas mulheres de Jundiaí.
De acordo com a pesquisadora, o manuscrito original de 1754, relata sobre as rés Thereza Leyte e Escholástica Pinta da Silva, respectivamente mãe e filha. Ambas, segundo o documento, foram recebidas pela Justiça Eclesiástica de Jundiaí.
A acusação das bruxas de Jundiaí
Ambas teriam sido acusadas de terem feito pacto com o diabo, além de terem matado por meio de feitiços, o primeiro marido de Escholástica, Manoel Garcia.
Ainda segundo os estudos de Narayan, as acusações de bruxaria foram articuladas pela família de Manoel. No documento foi relatado que Escholástica teria causado feridas nas pernas do marido e o deixado cego, apenas ao tocá-lo.
Além disso, também é documentado que Manoel teria ficado enjoado após comer e que um sapato com pedaços de sua camisa foi encontrado, enterrado.
“Existia uma disputa, pois o Manoel morreu sem deixar nenhum testamento. Ele tinha alguns escravos indígenas, só que ele morreu e não deixou nada escrito. Então, para quem iriam esses escravos? Aí os parentes dele articularam tudo isso, contrataram um feiticeiro escravo, de origem africana, chamado Francisco, para levantar boatos contra essas mulheres”, explicou Narayan.
“Quando se levantava uma denúncia, ouvia-se testemunhas, e se a questão fosse resolvida aqui, tudo bem. Se achassem que o caso deveria ser encaminhado ao Santo Oficio Português, aí sim a pessoa seria encaminhada para Portugal. Lá, o réu seria preso, interrogado, torturado e uma sentença seria aplicada”, explicou a pesquisadora.
“O pai da Escholástica, marido da Thereza, quando começou o boato, mandou prender o escravo e feiticeiro Francisco por levantar esses boatos e ele foi açoitado em praça pública. Ou seja, a família era muito influente e conhecida na cidade. Existia essa hierarquia.”
Embora os documentos não citem a cor das mulheres acusadas, a pesquisadora acredita que o contexto familiar em que estavam inseridas reforça a ideia de que eram mulheres brancas. Para ela, o desfecho da história seria outro se elas fossem negras ou indígenas.
“[Têm pessoas] que iam parar na mesa de interrogatório por fazer uma oração diferente, misturar orações, falar o nome de um santo. Tinha a ver sim com uma estrutura de poder”.
Feitiçaria?
No século 18, o principal delito procurado pela Justiça Eclesiástica era as práticas supersticiosas, consideradas feitiçarias. Segundo a tese de Narayan, não era preciso muito para ser acusado por isso na época, ainda mais pela influência da religião.
“Se a pessoa buscava ervas, tratamento alternativo, além de Deus, já está errado. Esse estereótipo de feiticeira caía muito mais sobre as mulheres do que os homens. Para ser considerada bruxa, bastava ser mulher. Temos a imagem do feiticeiro, mas ele passava muito mais a visão de curandeiro. A mulher não, ela era a bruxa’, explica a pesquisadora.
“Se as rés do processo foram acusadas de matar Manoel, por meio de feitiços, Francisco foi solicitado para que o curasse também por meio de feitiços. Logo, a feitiçaria tinha ação positiva, mas também negativa”, completa.
Para Narayan, sua pesquisa e o estudo dos documentos que encontrou sobre bruxaria em Jundiaí têm a intenção de resgatar parte da história que estava esquecida.
Informações são do G1.
 
					 
			
		 
			
		 
			
		 
			
		 
			
		 
			
		