
A Serra do Japi, em Jundiaí, ganha ainda mais protagonismo com a estreia do documentário de Júlia Mendes Pereira Checchinato, de 24 anos. Bióloga e apaixonada pela natureza desde pequena, Júlia transformou sua vivência na Serra em uma jornada audiovisual encantadora e necessária.
O curta, desenvolvido com apoio da Fapesp, Fundação Roberto Marinho e parte do edital Comunicar Ciência, foi desenvolvido em duplas por estudantes de graduação e retrata a vida dos curiosos sapinhos pingo-de-ouro, minúsculas criaturas coloridas e cheias de segredos evolutivos.
Ao Tribuna de Jundiaí, Júlia, que assina o projeto ao lado de uma colega da Unicamp, Juliane Lopes, e em parceria com o Laboratório de História Natural de Anfíbios Brasileiros, conta:
“Os pingos-de-ouro são sapinhos muito especiais e carismáticos. É impossível ver um e não ficar impressionado com o tamanho e cor do bichinho. E quanto mais você aprende sobre eles, mais você vê o quão malucos eles são no sentindo evolutivo: os ossos brilham na luz UV, são surdos ao próprio canto, tem coração de peixe e produzem o mesmo veneno dos baiacus… parecem alienígenas!”

Produção que mistura ciência, aventura e magia
Inspirado nos clássicos documentários da TV, o episódio tem clima de fantasia. “A Serra do Japi parece uma floresta mágica, então adotamos esse tom de ‘filme da Disney’ nas músicas e na narrativa”, explica a documentarista. O público pode esperar emoção, humor e cenas marcantes, como o momento em que se vêem os ovinhos de sapos se movendo, num sonho do protagonista da história.
Apesar da estética encantadora, o curta traz um alerta sério: os anfíbios estão desaparecendo em ritmo acelerado, vítimas de alterações climáticas, destruição de habitat e fungos letais.
“Pouca gente fora do meio acadêmico sabe disso”, destaca Júlia. “E além de tudo, esses animais ainda sofrem muito preconceito e são associados a lendas e sentimentos ruins.”
Outra coisa inesperada que aconteceu nas gravações, que na verdade Júlia considera como um sinal de alerta: elas encontraram dois pingos-de-ouro mortos.
“É muito difícil de encontrar um pinguinho sem vida na floresta, pois por serem minúsculos eles se decompõem muito rápido. É possível que tenha ocorrido um fenômeno parecido com o que aconteceu em 2019: por conta da seca extrema, os pingos-de-ouro (que são terrestres, mas dependem da umidade para sobreviver) se aproximaram dos corpos d’água e tiveram contato com o fungo Bd (Batrachochytrium dendrobatidis), o que é letal para eles”, explica.
A Serra do Japi como palco e protagonista
Escolher a Serra do Japi para iniciar sua trajetória como documentarista não foi acaso. “Eu nasci e cresci no pé da Serra do Japi. Sempre tive um vínculo afetivo com essas montanhas”, conta Júlia.
Ao longo da graduação, a bióloga e documentarista descobriu o valor científico do local, que abriga espécies endêmicas e ameaçadas, como o próprio pingo-de-ouro e a rãzinha Hylodes japi, acompanhando os campos de outra bióloga, a Joyce Delprá Cachulo.
As filmagens na mata renderam mais do que belas imagens, proporcionaram encontros memoráveis. “Quase todos os dias fui recebida pelos saguis-caveirinha”, lembra ela, referindo-se a uma das espécies que aparecem logo no início do curta. Entre surpresas e descobertas, até mudanças no roteiro foram necessárias. “A natureza acabou não lendo o script e decidiu fazer as coisas do jeito dela”, brinca.

Ciência que inspira e transforma
Formada pela Unicamp, Júlia conta que adorava mostrar para as pessoas o que vivia em campo, porém, a ideia de seguir no audiovisual parecia distante, até ela descobrir que outros ex-alunos da Unicamp já tinham trilhado esse caminho. Hoje, Júlia incentiva quem também quer comunicar ciência de forma acessível.
“Você não precisa do melhor equipamento do mundo para contar uma história legal.”
E o recado é claro: contar histórias como a dos sapinhos pingo-de-ouro é também uma forma de proteger a natureza e reconectar as pessoas com a biodiversidade ao redor. Especialmente quando essa natureza está logo ali, na Serra do Japi.
“Cursos são muito importantes, mas também tem bastante conteúdo gratuito na internet ensinando a editar e captar vídeos com várias dicas e insights legais. Procure referências de profissionais para você se inspirar e se surgir a oportunidade, entre em contato pra trocar uma ideia e fazer perguntas. Não tenha vergonha!”, finaliza a bióloga.

📝 Participe do nosso grupo exclusivo de vagas de empregos e receba diariamente as novidades direto no seu WhatsApp! Acesse e faça parte da nossa comunidade 👉 https://bit.ly/Tribuna-de-Jundiaí-Emprego-4
[tdj-leia-tambem]