Pessoas brindando com bebidas em bar
Foto: pixelshot/Canva

Os recentes casos de intoxicação por metanol em bebidas adulteradas no Estado de São Paulo ascenderam um alerta em Jundiaí. No estado, já são mais de 170 notificações e duas mortes confirmadas. Na cidade, três casos estão sob investigação pela Secretaria Estadual da Saúde, o que intensifica a preocupação com a segurança dos destilados entre comerciantes e consumidores.

Risco de perda de confiança e retração nas vendas

A Câmara de Dirigentes Lojistas de Jundiaí (CDL) classificou o cenário como de alto risco. A crise pode abalar negócios que trabalham corretamente. “Uma crise de confiança pode se instalar rapidamente, afetando bares, restaurantes e distribuidoras que trabalham de forma correta”, afirma a entidade em nota divulgada ao Tribuna de Jundiaí.

De fato, alguns bares de Jundiaí apontam queda de até 50% nas vendas de bebidas destiladas, reflexo do receio generalizado do consumidor. “A confiança é o ingrediente principal do setor gastronômico. Por isso, nosso esforço é preservar essa confiança com informação, orientação e transparência”, destacou a CDL.

A entidade intensificou ações educativas junto aos associados e emitiu alertas públicos para que rótulos suspeitos sejam denunciados de imediato. “Denunciar é um ato de responsabilidade, não apenas com o próprio negócio, mas com todos. A prevenção começa com a atitude de cada empresário”, reforça.

Qual o cenário nos bares de Jundiaí?

O bar Café Tequila, tradicional em Jundiaí com quase 30 anos de atuação, reforçou, em entrevista ao Tribuna de Jundiaí, seu compromisso com a procedência segura das bebidas comercializadas.

“O Café Tequila sempre teve fornecedores homologados pelas marcas. Somos muito criteriosos no recebimento de bebidas verificando notas e lotes de cada item.”, explicam os gestores do bar.

Bar Café Tequila, de Jundiaí
Foto: Reprodução/Instagram

Eles reforçam que nunca fizeram negócios com fornecedores informais. “Nunca tivemos interesse em comprar bebidas fora dos nossos fornecedores. São quase 30 anos que temos parcerias com as melhores marcas do mercado”, destacam.

“Quanto ao oferecimento de bebidas com origem duvidosa e baratas demais, não abrimos margem para qualquer conversa ou interesse.”

A credibilidade construída ao longo dos anos é o principal escudo contra rumores. “Nosso melhor alerta é a credibilidade que temos no mercado. Nossa equipe tem a capacidade de orientar sobre qualquer dúvida que nossos clientes tenham e orientá-los caso queiram informações sobre como identificar bebidas suspeitas.”

Mudança de comportamento dos consumidores

Além disso, o bar confirma que os casos de intoxicação por metanol já alteraram o comportamento de parte do público em Jundiaí. “Já notamos uma mudança nos hábitos de consumo em que muitas já preferem consumir cervejas ao invés de destilados”, relatam os responsáveis.

Mesmo com a retração nas vendas de bebidas fortes, o bar diz que opera apenas com produtos 100% originais e seguros. “Confiamos plenamente em nossos fornecedores e sabemos o que estamos vendendo aos nossos clientes. Essa preocupação deve ficar com quem não trabalha com bebidas originais e de procedência duvidosa..”

Voz do consumidor: atenção redobrada

Conversamos com Pâmela Palharin, publicitária de 29 anos, que compartilha a mudança de postura no consumo após a repercussão dos casos de metanol:

“A notícia sobre o metanol me fez prestar mais atenção aos detalhes que antes eu não costumava observar, como o preparo das bebidas, os rótulos e até a fiscalização nos bares que frequento”, comenta.

Normalmente, não temos o hábito de ler as ‘plaquinhas’ de vigilância sanitária, o alvará de funcionamento, a certificação de qualidade… No entanto, é justamente esse tipo de fiscalização que garante que o bar está adequado para funcionar.”

“Embora eu não tenha o costume de tomar destilados, sempre me senti segura ao pedir uma bebida alcoólica em algum bar. No entanto, após o episódio do metanol, passei a evitar ainda mais os destilados e até meu consumo de álcool diminuiu. Sou apreciadora de vinhos e adoro explorar vinícolas pela cidade, mas agora tenho receio até com esse tipo de bebida, principalmente por serem processos artesanais. Não sabemos exatamente como é feita a produção, e isso gera uma insegurança.”

Uísque
Foto: Chetty/ Depositphotos

“Neste momento, acredito que não há muito o que os bares possam fazer para ‘garantir’ que os produtos vendidos são fiscalizados adequadamente. O ideal seria encontrar um método simples e eficiente para identificar se a bebida está contaminada com metanol. Por enquanto, optei por consumir mais cerveja e comprar minhas bebidas em lugares mais confiáveis, como supermercados, onde sinto que há mais segurança quanto à procedência dos produtos.”

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Fiscalização, rastreabilidade e responsabilidade na cadeia

Para a CDL de Jundiaí, toda a cadeia de distribuição (importadores, distribuidores e transportadoras) deve atuar com transparência e rastreabilidade. “Defendemos relações comerciais baseadas em confiança mútua, documentação regular e rastreabilidade. Sem isso, o risco se multiplica”, alerta a entidade.

A CDL também recomenda que empresários avaliem seguros de responsabilidade civil e incluam cláusulas contratuais específicas com fornecedores. “Uma única ocorrência pode comprometer a reputação construída em anos de trabalho. Por isso insistimos tanto na prevenção, porque proteger a imagem é proteger o próprio negócio. O custo da negligência é sempre mais alto do que o da responsabilidade.”

Ação conjunta e prevenção contínua

A entidade defende que o poder público de Jundiaí mantenha uma atuação coordenada e permanente, com fiscalização intensiva, campanhas educativas e canais de denúncia acessíveis.

Como proteger-se

De acordo com o Governo do Estado, o metanol é uma substância tóxica, incolor e com odor semelhante ao etanol. Seu consumo pode causar cegueira, insuficiência respiratória e até morte. As autoridades recomendam:

  • Verificar lacres, selos fiscais e procedência das bebidas
  • Evitar produtos de origem desconhecida ou com preços muito baixos
  • Exigir nota fiscal com lote e dados do fornecedor