
Ele tinha 16 anos quando passou pela Fundação Casa pela primeira vez, pelo crime de roubo. Passou um tempo na unidade de Franco da Rocha, mas foi reincidente e voltou novamente, dessa vez para a unidade de Jundiaí, após praticar roubo de cargas. Na segunda vez, por pouco não morreu baleado.
“Eu me entreguei na hora, mas poderia ter sido eu ali, morto, junto com o meu amigo que não se entregou. Foi aí que eu acordei para a vida. A vida é uma só, tem que acordar”, afirmou o morador de Várzea Paulista, Willian Expedito Cezaretti, hoje com 21 anos e dono do seu próprio salão de cabeleireiro e barbearia.
O Tribuna de Jundiaí conheceu a história de Willian durante uma visita à Fundação Casa. Ele estava no local para bater um papo com os internos da instituição, a fim de mostrar seu exemplo e motivar os menores a levar uma vida diferente quando saírem da internação.
“Não é fácil lá fora, vários te chamam para voltar. Quando você tem dinheiro, todo mundo é seu amigo. Quando você não tem, ninguém quer saber. Quando eu saí daqui nem chinelo eu tinha, mas eu saí, meu amigo nem aqui pôde estar. E vocês hoje podem estar aqui, diferente dele. A vida ainda é longa”, disse aos internos.
William, durante a visita, mostrou orgulhoso o seu diploma de cabeleireiro emoldurado. Foi a partir da sua profissão que hoje ele conquistou uma vida digna, mesmo morando no mesmo bairro onde tinha as companhias para o crime.
O interesse pela profissão surgiu ainda na Fundação Casa, que é um espaço que visa ressocializar e aplicar medidas socioeducativas aos menores infratores. No local, aprendeu alguns tipos de cortes, mas se especializou somente ao sair.
O salão já existe há quatro anos. De lá para cá, as conquistas foram inúmeras. E todas, como ele pontuou, feitas dentro da honestidade e por meio do seu próprio esforço.
“Hoje consigo tirar um bom dinheiro por dia. Já reformei a barbearia, mobiliei minha casa, comprei meu carro, minha moto, dirijo habilitado, tudo certinho… Por isso quero passar para eles que todo mundo tem potencial de mudar. No crime, você pode ter uma Ferrari e perder a qualquer momento. Mas por mais que você comece por baixo, na honestidade e com Deus, você só tem a ganhar”, afirmou.
Atualmente, Willian tem um filho de 1 ano e 7 meses e garante que hoje enxerga a vida de uma forma muito diferente. “É só gratidão”, continuou.
Durante a visita, o jovem, que costuma fazer trabalho voluntário com crianças do bairro, cortando o cabelo delas gratuitamente, também cortou o cabelo de um dos internos da instituição. Durante o processo, deu uma série de conselhos para ele, que completou 18 anos e sairá em breve da Fundação Casa.

“Estou dando conselhos como um amigo. Você não vai ter passagem, zerado, vai ter como arrumar um emprego bom, arrumar um estudo. Se continuar assim, só terá consequências ruins”, disse Willian ao outro jovem.
Reincidência
Dados estaduais mostram que o número de reincidência – ou seja, de jovens que saem da instituição e retornam – é de 23%. No entanto, o diretor da Fundação Casa de Jundiaí, Márcio Valério Ruiz Alves, diz que nem sempre a reincidência significa que aquele jovem está marcado para sempre para o crime.
“O Willian, por exemplo, passou duas vezes aqui e foi na segunda que ele conseguiu refletir a respeito. A partir disso, ele conseguiu alcançar todas essas conquistas. Temos outros exemplos que passaram por aqui mais de uma vez e tem uma vida totalmente diferente”, pontuou o diretor da instituição.
Ele ainda afirmou que, a maior parte deles, está na Fundação Casa pelo crime de tráfico de drogas. “A estrutura familiar é algo que conta muito, assim como a necessidade que a mídia coloca de conquistar dinheiro e muitas coisas. Isso chama a atenção, especialmente pela facilidade de conseguir dinheiro por meio do tráfico. Muitos também têm problemas com drogas, o que desencadeia muitas questões”, continuou.
A Fundação Casa visa dar novas oportunidades para esses menores. Além das aulas regulares, a unidade de Jundiaí oferece cursos de panificação, informática básica e DJ. Além disso, os funcionários estão sempre “plantando sementes” para os internos.
“Aqui, nós lançamos sementes e não sabemos se vai dar frutos ou não. Aqui o que nós fazemos é de coração, por amor à profissão”, afirmou a professora de português, inglês e artes dos internos, Célia Montero.
No caso do Willian, os frutos foram muitos. “Eu vim dirigindo com meu carro, com a janela aberta, sentindo o vento bater, sabendo que hoje é tudo diferente”, finalizou o jovem.
 
					 
			
		 
			
		 
			
		 
			
		 
			
		 
			
		