
Em uma decisão que dividiu o mercado financeiro e reacendeu o debate sobre o custo do crédito no país, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou nesta quarta-feira (18) a taxa Selic de 14,75% para 15% ao ano. O novo patamar é o mais alto desde julho de 2006, quando, no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Selic chegou a 15,25%.
A medida mantém o ciclo de alta iniciado em setembro do ano passado e marca a sétima elevação consecutiva da taxa básica de juros. Apesar de boa parte dos analistas apostar na interrupção das altas, o colegiado optou por mais um aperto monetário, justificando a decisão com base no combate à inflação persistente e acima da meta oficial.
Segundo o Boletim Focus, divulgado na segunda-feira (16), a expectativa de inflação para 2025 recuou de 5,44% para 5,25%, ainda distante da meta central de 3%, com intervalo de tolerância entre 1,5% e 4,5%.
Brasil tem a segunda maior taxa real de juros do mundo
Com a nova taxa, o Brasil passa a ocupar o posto de segunda maior taxa real de juros do planeta, segundo levantamento da MoneYou e da Levante Intelligence. A taxa real de juros é calculada subtraindo-se a expectativa de inflação da taxa nominal da Selic. Com inflação projetada em 5,25% e a Selic a 15%, o juro real brasileiro atinge 9,64% ao ano.
Essa taxa é considerada um dos principais indicadores para investidores internacionais, já que aponta o ganho “real” de aplicações em renda fixa após o desconto da inflação.
Confira o ranking dos países com maiores taxas reais de juros:
- Turquia – 14,44%
- Brasil – 9,64%
- Rússia – 7,63%
- Argentina – 6,7%
- África do Sul – 5,54%
- Indonésia – 4,31%
- Filipinas – 4,23%
- México – 3,75%
- Colômbia – 3,69%
- Índia – 2,66%
Enquanto alguns desses países enfrentam instabilidades políticas ou crises inflacionárias severas, o Brasil volta a figurar entre os países com os juros reais mais elevados mesmo com inflação relativamente controlada.
Composição do Copom e influência política
O Copom é composto por nove membros: o presidente do Banco Central e oito diretores. Em 2025, sete desses cargos são ocupados por indicados do presidente Lula, o que confere ao atual governo a maioria no colegiado responsável pelas decisões sobre a Selic.
A votação desta quarta-feira foi unânime, indicando coesão entre os membros sobre a necessidade de manter a política monetária restritiva.
Por que a Selic importa?
A Selic é o principal instrumento do Banco Central para controlar a inflação. Ao subir a taxa, o BC torna o crédito mais caro, desestimulando o consumo e os investimentos, o que tende a conter os preços. Por outro lado, juros altos também freiam o crescimento econômico e impactam especialmente a população mais pobre, que depende de crédito para consumo básico ou financiamento.
Além disso, a Selic influencia diretamente outras taxas do mercado, como empréstimos, financiamentos e aplicações financeiras, afetando desde o crédito consignado até os rendimentos da poupança e da renda fixa.
Reações do mercado e próximos passos
A decisão do Copom dividiu analistas. Enquanto alguns bancos consideravam o cenário já propício para interromper a escalada dos juros, outros projetavam exatamente o que se concretizou: uma nova alta. Agora, o mercado voltará suas atenções para os próximos encontros do Comitê, que serão realizados nas seguintes datas:
- 29 e 30 de julho
- 16 e 17 de setembro
- 4 e 5 de novembro
- 9 e 10 de dezembro
Com o atual patamar de juros e o avanço de medidas fiscais e tributárias em discussão no Congresso, economistas avaliam que o segundo semestre de 2025 será decisivo para definir o rumo da política monetária e os reflexos sobre o crescimento econômico do país.