Dólar
A moeda norte-americana avançou mais de 2% e renovou máximas recentes (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

O dólar fechou em forte alta na sexta-feira (5), acima de 2%, cotado a R$ 5,4328, no maior valor em quase dois meses. O Ibovespa recuou 4,31%, aos 157.369 pontos, registrando a maior queda desde fevereiro de 2021. O pregão, que tinha potencial para ser guiado pelos dados de inflação nos Estados Unidos, acabou sendo dominado por notícias vindas de Brasília, após a sinalização de que Flávio Bolsonaro pode disputar a Presidência em 2026.

A possibilidade de substituição de Jair Bolsonaro pelo filho provocou uma reavaliação imediata dos investidores, frustrando expectativas de uma chapa considerada mais competitiva, formada por Tarcísio de Freitas e Michelle Bolsonaro. Esse rearranjo aumentou a percepção de incerteza sobre o cenário eleitoral e pressionou os ativos brasileiros, levando o dólar à disparada e o Ibovespa à reversão abrupta de sinal.

Tensão eleitoral domina a cena econômica

No início da tarde, mesmo com o ambiente externo favorável após o índice PCE dos Estados Unidos vir em linha com o esperado, o mercado brasileiro mudou de direção. A leitura predominante foi de que a possível entrada de Flávio Bolsonaro na disputa tende a fragmentar a base bolsonarista e dificultar a formação de uma frente unificada de oposição.

Aliados do ex-presidente vinham defendendo, nos últimos meses, uma composição com Tarcísio na cabeça de chapa e Michelle Bolsonaro como vice, arranjo considerado pelo Centrão como a opção mais competitiva à direita. No Palácio do Planalto, essa combinação também era vista como o principal contraponto ao projeto de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Analistas interpretaram a mudança como negativa para o mercado. Marcos Praça, diretor de análise da Zero Markets Brasil, avaliou que a candidatura de Tarcísio seria mais previsível pela base eleitoral consolidada e pela projeção política já construída. Para ele, a possibilidade de candidatura de Flávio pode abrir espaço para disputas internas e reduzir a previsibilidade do quadro eleitoral.

Apesar do cenário de forte volatilidade, algumas avaliações seguem otimistas no médio prazo. Felipe Tavares, economista-chefe da BGC Liquidez, destacou que, independentemente do ruído político, a bolsa brasileira mantém um pano de fundo favorável, com preços atrativos, ciclo de cortes de juros próximo e expectativa de um ambiente mais propício a reformas. Ele acrescentou que a superquarta da próxima semana pode reforçar esse movimento, caso a diferença de juros beneficie o câmbio e estimule o mercado acionário.

PIB fraco reforça expectativa de corte de juros

No cenário doméstico, o PIB do terceiro trimestre mostrou avanço modesto de 0,1%, refletindo perda de ritmo nos serviços e no consumo das famílias. O resultado consolidou a percepção de que o Banco Central poderá iniciar cortes de juros já em janeiro.

PCE confirma alívio inflacionário nos EUA

Nos Estados Unidos, o PCE avançou 0,3% em setembro ante agosto, repetindo o mesmo ritmo do mês anterior. Em 12 meses, o índice registrou alta de 2,8%, em linha com as estimativas. O núcleo do indicador também subiu 0,2% no mês e 2,8% no ano, ligeiramente abaixo das projeções.

O resultado reforçou as expectativas de que o Federal Reserve pode começar a cortar juros já na próxima semana. O índice de sentimento do consumidor, medido pela Universidade de Michigan, também ajudou a melhorar o humor externo ao subir para 53,3 pontos em dezembro, acima das previsões.

Desempenho acumulado

O dólar acumulou alta de 1,83% na semana e no mês, e queda de 12,09% no ano. Já o Ibovespa recuou 1,07% na semana e no mês, mas tem alta de 30,83% no acumulado de 2024.

Bolsas globais

Em Wall Street, os índices abriram com leves ganhos diante da expectativa de corte de juros. O Dow Jones subiu 0,06% na abertura, o S&P 500 avançou 0,13% e o Nasdaq registrou alta de 0,27%.

As bolsas europeias encerraram o dia de forma mista, acompanhando a perspectiva de política monetária mais flexível nos EUA e as negociações por um possível acordo de paz entre Rússia e Ucrânia. Enquanto o STOXX 600 subiu 0,01% e o DAX avançou 0,61%, o FTSE 100 caiu 0,45% e o CAC 40 recuou 0,09%.

Na Ásia, os mercados fecharam positivos, favorecidos pelo otimismo com o setor de tecnologia chinês e medidas de estímulo à produção de chips. O SSEC avançou 0,70% e o CSI300, 0,84%, enquanto o Hang Seng subiu 0,58%. O Nikkei, porém, recuou 1,05%.