Mais de 1 milhão de vagas para trabalho doméstico foram fechadas na pandemia

A pandemia causada pela Covid19 tem afetado todo o mundo e com a situação cada vez mais grave, existe uma categoria de trabalho em especial no Brasil que sofreu drasticamente, a das empregadas domésticas. Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), no último trimestre de 2019, 6,3 milhões pessoas trabalhavam na categoria, enquanto no mesmo período em 2020, o número despencou para 4,9 milhões.

Quem continuou trabalhando enfrentou ainda o risco de contaminação pelo coronavírus, durante o descolamento ou no próprio ambiente de trabalho. A pesquisadora do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) Luana Pinheiro explica que o trabalho doméstico envolve relações interpessoais em uma casa que não é a da empregada, onde ela não tem qualquer controle sobre os movimentos. “É uma condição de segurança bastante frágil, em que a doméstica muitas vezes se torna a ponte para levar o vírus para dentro de sua casa e para a periferia”, pontua.

A pesquisadora lembra que ainda que a primeira morte por Covid no Brasil foi de um porteiro de 62 anos em São Paulo e, no Rio de Janeiro, de uma empregada que teve contato com a patroa infectada pelo vírus, que tinha retornado recentemente de uma viagem à Itália. “Não é coincidência que o vírus tenha entrado no país por meio das populações de mais alta renda e que as primeiras mortes tenham sido de trabalhadores que ocupam posições precárias”, destaca Luana, que acredita e defende que as domésticas deveriam estar em grupos prioritários de vacinação.

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Posição do Sindoméstica

Para garantir as medidas de segurança das trabalhadoras, o Sindoméstica (Sindicato das Empregadas e Trabalhadores Domésticos da Grande São Paulo) fez a recomendação aos empregadores para que priorizassem o isolamento das funcionárias, além de sugerirem meios para reduzir o impacto de demissões, como antecipação de férias, licença remunerada e implantação de banco de horas.

Depoimento

A doméstica Eliana Maria de Moura, de 36 anos, era mensalista e trabalhava para dois aposentados. No início da pandemia, ela ficou nove meses em isolamento, recebendo o salário, depois passou a trabalhar uma vez por mês e em fevereiro, foi demitida. “Eu fiquei muito assustada, mas no fundo sei que eles continuaram comigo até quando foi possível”, relata Eliana.

Ela segue aguardando a liberação do seguro-desemprego e pensa em um curso de cuidados com animais e buscar uma colocação em um pet shop. “Estou ficando desesperada. Vou para todos os lados procurar emprego, mas está tudo fechado. Mesmo nas casas de família estão com receio”, afirma.

Eliana Maria de Moura. (Foto: Arquivo pessoal – Divulgação R7)

A advogada do Sindoméstica, Nathalie Rosário de Alcides, acredita que em muitos casos, a demissão ocorreu porque os patrões também foram afetados pelo desemprego e pela queda de renda, o que tornou os desligamentos inevitáveis.

Contrato informal

As garantias de proteção são mais facilmente cumpridas quando se fala de contratos formais de trabalho. O problema, segundo os especialistas, são os informais, como as diaristas. Segundo o Sindoméstica, para cada três trabalhadores domésticos empregados, apenas um tem registro em carteira.

O IBGE estima que dois terços das domésticas informais em atividade no país, cerca de 2,5 milhões pessoas, receberam o auxílio-emergencial em 2020. O número provavelmente é maior porque os dados não computam as trabalhadoras demitidas.

Questão de saúde

A diarista Edite de Souza Ananias, de 57 anos, optou por cumprir o isolamento social por conta própria, a fim de proteger ela e a família. Hipertensa, ela trabalhava em duas casas até o início da pandemia. “Fiquei com muito medo e achei melhor parar de trabalhar. Graças a Deus, continuei recebendo os pagamentos por cinco meses e meu marido, que segue trabalhando, mantém a casa”, relata.

A trabalhadora optou por não solicitar o auxílio. “Eu sei que tem pessoas que precisam muito mais do que eu”, afirma. Edite, que faz aulas de zumba dentro de casa e caminha pelo condomínio para passar o tempo, diz que pretende voltar a trabalhar. Só tem uma condição: “Depois de ser vacinada”.

Edite de Souza Ananias. (Foto: Arquivo pessoal – Divulgação R7)