Frigorífico
Foto: Freepik

Desde o ano passado, os brasileiros vêm enfrentando dificuldades para colocar carne na mesa. Com 18% de aumento no preço do alimento em 2020, a carne continua registrando alta em 2021. De acordo com especialistas ao G1, os motivos dos aumentos vão de problemas climáticos a custos.

Só em fevereiro deste ano, o preço da carne subiu 1,72% comparado a janeiro. Neste período, o corte com maior variação foi o lagarto comum, que aumentou 3,60%. Os preços do contra filé e da alcatra também subiram, 2,06% e 3,05% consecutivamente.

Segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), publicado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nos últimos 12 meses, o alimento registra a alta de 29,5%. Seguindo na contramão dos preços dos cortes bovinos, a carne de porco caiu 2,05%. Assim, a alternativa encontrada pelos brasileiros é o consumo de carne de frango e ovo para complementar as refeições.

“Esse mês o ovo também teve uma alta variação, justamente porque, com o aumento do preço dessas outras proteínas, o consumidor acaba buscando alternativas de alto valor biológico, mas com o valor agregado um pouco menor”, explica o assessor técnico da Comissão Nacional de Bovinocultura de Corte da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Ricardo Nissen.

De acordo com especialistas, o aumento nos preços das carnes pode ser menor com cortes de custos dos frigoríficos e um consumo reduzido na quaresma. No entanto, caso o retorno do Auxílio Emergencial seja aprovado, a demanda de compra do alimento deve aumentar e, assim, fazer com que os preços subam novamente.

Especialistas explicam

Segundo Ricardo Nissen, uma das explicações para o aumento do preço das carnes é a pouca disponibilidade de gado para abate. Ele explica que esse fator existe desde antes de 2019, quando era registrada uma presença maior de fêmeas no abate. Dessa forma, resultou em uma menor quantidade de bezerros que, hoje em dia, diminuiu a oferta do animal para o abate.

Além disso, no final de 2020, aconteceu uma seca maior que a esperada, o que atrasou a produção do boi de pasto. Sem isso, o animal não recebe nutrientes suficientes para o desenvolvimento. Assim, o produtor deve investir em suplementos para resolver o empecilho.

A produção pecuária também está mais cara, por causa da desvalorização do real. Assim explica André Braz, coordenador do Índice de Preço do Consumidor (IPC) da Fundação Getúlio Vargas (FGV – IBRE).

“A carne brasileira sofre duas ações do dólar. Ele tanto favorece a exportação, porque quanto mais a gente exporta, a gente recebe em dólar (…) Essas vendas aumentam quando a nossa moeda desvaloriza porque todos querem comprar do Brasil. Mas, por outro lado, essa desvalorização cambial também aumenta os custos da pecuária e da criação de outros animais”, comenta.

“Isso onera o pecuarista. Se, por um lado, ele consegue vender melhor porque está vendendo em dólar, por outro ele tem custos pressionando a cadeia produtiva”, afirma Braz.

Felizmente, Ricardo Nissen explica que, mesmo com a menor oferta, o Brasil segue sendo um grande produtor e consegue suprir a demanda interna. “A gente é o segundo maior mercado produtor de carne bovina do mundo. A questão é: a gente tá colocando menos carne no mercado. Mas não vai faltar carne, só tem uma pressão maior”, afirma.

[tdj-leia-tambem]

Como será daqui para frente?

Tendo menos animais para o abate e com intenções de reduzir custos, os frigoríficos decidiram dispensar funcionários. De acordo com Nissen, essa decisão acaba freando o preço das carnes para os consumidores.

“Quando você reduz a sua capacidade de abate, você reduz a sua ociosidade, seus custos, você consegue manter uma planta frigorífica com menos abate e isso acaba reduzindo a pressão por compra de boi gordo no mercado”, explica.No entanto, esse fator não reflete rapidamente no mercado. O técnico explica que, mesmo com menos abate nos frigoríficos, segue sendo difícil adquirir os animais, que demandam pagamento alto. Nissen acredita que o prazo para o aumento da demanda e queda do preço deve ser de cerca de um mês.

Enquanto isso, André Braz acredita que o preço da carne continuará subindo nos próximos dias. Ainda assim, o coordenador considera a possibilidade de uma queda na procura pelo produto, devido ao período da quaresma.