
Todos estão correndo o dedo pelo feed de notícias das redes sociais, enquanto isso, alguns jovens viram mais uma página de um livro. Cena cada vez mais rara de se ver, mas ainda tem quem prefira guardar os celulares na bolsa, e se dedicar à leitura entre estações de trem ou enquanto espera o ônibus.
Vinícius é um deles. Com 31 anos, ele vai a São Paulo todo dia a trabalho. A viagem que leva mais de uma hora é acompanhada pelo seu amigo inseparável – o livro. Seu gênero preferido é biografia. “Eu gosto de descobrir o passado para compreender o presente. Quero muito saber como o meu artista favorito fez determinada música, quão inspirado ele estava pra compor aquele álbum que eu tanto gosto. É uma experiência riquíssima”, explica.
O hábito começou ainda cedo, com bons exemplos em casa. A mãe gostava de ser livros e revistas, especialmente os que faziam parte do Movimento Negro, a irmã lia Turma da Mônica e na adolescência começou a ler a revista Capricho, o pai, fã de Notícias Populares foi, sem saber, o maior incentivador de Vinícius. “Na época eu nem sabia ler direito, mas eu adorava sentar do lado do meu pai com o meu gibi enquanto ele lia o seu jornal, só pra fazer pose que estava lendo também”.
Segundo a professora de Língua Portuguesa, Claudia Cortez, que atua em escolas estaduais há pelo menos 19 anos e hoje, leciona para o ensino médio, o papel da família como exemplo e incentivadora do hábito da leitura desde a infância, como aconteceu com Vinícius, é de suma importância. “O gosto da leitura começa pelo manuseio do livro, pelas gravuras, pela história contada ainda pelos pais”, conta.
Realidade
De 144 alunos, 25% são leitores, conta a professora. “Hoje, minha prática é incentivar e não obrigar” – e para isso, Cláudia utiliza diversas estratégias.
Além de trabalhar pequenas leituras como contos e crônicas ao longo do ano para tornar a prática mais familiar ao aluno, ela também mistura a literatura a outras linguagens artísticas. Em aula, os alunos são incentivados a dramatizarem a história lida ou a desenharem cenas do livro. A professora também leva os jovens ao teatro para que possam interpretar a obra sob outra perspectiva.

O spoiler é outra tática de Claudia e que, surpreendentemente, tem funcionado. Os livros baseados em fatos reais “A Mala de Hana” e “Diário de Anne Frank” não só despertaram a curiosidade dos alunos por representarem momentos da história mundial, mas também porque a professora de Língua Portuguesa deu uma ajudinha, contando fatos que aconteceriam no livro.
“Eu acho que é muito a questão de como o professor vende a ideia do livro. Eu envolvo o aluno e tento lançar a curiosidade não do que vai acontecer, mas do que vai continuar. Dessa forma, eles vão tomando gosto. Mas o hábito de ler é, realmente, um trabalho muito árduo”.
Desenvolvendo o hábito
Isabela Cristófaro é prova viva de que nunca é tarde para começar a ler. Diferente de Vinícius, o interesse pela leitura chegou aos 17 anos, depois de participar de um curso técnico em fotografia e outro, pela Prefeitura de Jundiaí, de criação literária, com foco na produção de poesia, crônica e conto.
Agora, aos 24 anos de idade, ela lê, em média, 10 livros por ano. Filosofia, livros que remetam a acontecimento históricos e clássicos da literatura brasileira são seus preferidos e, como Vinícus, aproveita a ida para o trabalho, de trem, para adiantar suas leituras.
“O que eu mais gosto é do universo que tem por de trás de todas as histórias. De vez em quando é importante fugir da realidade, dos problemas, da rotina e me transportar para um outro lugar”, comenta.
Em algumas vezes, no entanto, Isabela mostra que os livros também são uma forma de viver a mesma realidade, mas de uma forma diferente.
Depois de ler a primeira e a segunda fase do autor Machado de Assis, Isabela visitou a Rua do Ouvidor, presente nas histórias do escritor brasileiro. “Nos livros, eu me transportava para aquele endereço; quando eu estava lá, os romances sempre vêm à mente e eu revivo a história – mais uma vez”.

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