
O presidente Jair Bolsonaro disse nesta segunda-feira (15), que o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) “começa a ter a cara do governo”. A declaração ocorreu após pedido de demissão em massa no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), com a saída de 37 servidores.
Ele ainda afirmou que o ministro Milton Ribeiro, da Educação, garantiu que o Enem será realizado sem impactos pelas demissões. “O Milton é do ramo. Ele mandou uma mensagem há pouco e disse que a prova do Enem vai ocorrer na mais absoluta tranquilidade”, disse Bolsonaro, durante entrevista na Expo Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. “Começam agora a ter a cara do governo as questões da prova do Enem. Ninguém precisa agora estar preocupado com aquelas questões absurdas do passado, o tema da Redação não tinha nada a ver com nada. Realmente é algo voltado ao aprendizado.”
Priscila Cruz, presidente do Todos pela Educação, afirma que Bolsonaro atua de olho na reeleição, quando alega que as questões “começam agora a ter a cara do governo”. “Os itens (as questões) utilizados no Enem, bem como em outros exames e avaliações realizados pelo Inep, são exaustivamente formulados, pretextados e combinados em cadernos de provas para que o grau de dificuldade e competências avaliadas sejam equivalentes”, pontua.
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“A fala do presidente pode ser caracterizada como indício de que houve interferência do governo na prova, ferindo a credibilidade do resultado”, afirma Priscila. Para a presidente do movimento Todos pela Educação, a situação reforça a necessidade de que o Instituto Nacional de Estudos Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira seja um órgão independente do Ministério da Educação, a fim de evitar possíveis ingerências de qualquer corrente ideológica em seu trabalho. “Quem avalia resultados educacionais não pode ser subordinado a quem implementa políticas educacionais.”
O ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), afirmou, em publicação no Twitter nesta terça-feira (16), que é ilegal a declaração de Bolsonaro, e segundo ele, que é professor Doutor, as universidades que adotam a prova podem, inclusive, questionar os itens que confrontam a pesquisa e a ciência.