
O documentário ‘Ava Kuña, Aty Kuña: mulher indígena, mulher política‘, da produtora Z&S Filmes, de Jundiaí (SP), acaba de conquistar o Silver Award no SmallRig Awards, festival chinês dedicado a produções audiovisuais com impacto social. Esta é a 11ª premiação internacional recebida pela obra, que aborda a resistência política e cultural das mulheres indígenas brasileiras, com foco na Grande Assembleia Guarani Kaiowá.
O reconhecimento no festival presidido por Ruby Yang, cineasta vencedora do Oscar, destaca a excelência técnica e narrativa do curta. Mas o verdadeiro diferencial está na forma como o filme foi construído: de maneira coletiva, sensível e politicamente engajada, conectando saberes indígenas com o universo do cinema.

Roteiro coletivo e protagonismo real: “Me senti segura para criar”
O documentário foi resultado de uma imersão profunda entre a equipe técnica e as lideranças indígenas participantes. A doutoranda e roteirista Yvoty Rendyju descreve o processo como transformador.
“Não sabia nada de cinema e roteiro, e a equipe da Z&S investiu em capacitação desde o início. Conversamos sobre como os filmes, em geral, depreciam a imagem dos indígenas, então fomos para as filmagens com muito cuidado e respeito. Me senti responsável pela construção do conceito narrativo e, ao final, fiquei feliz com o resultado. Tudo apareceu como eu gostaria”, destacou.
Segundo Yvoty, a experiência não só possibilitou a criação de um filme, mas abriu um novo caminho profissional e afetivo: “Me apaixonei pelo cinema. Hoje sou roteirista e trabalho na área com dignidade. A equipe jundiaiense nos apresentou a um novo mundo e trouxe alegria e empoderamento para mim como doutora e cineasta indígena”.
Um cinema que escuta, cura e constrói pontes
A diretora Julia Zulian reforça que a intenção do filme é romper com estereótipos e colocar as mulheres indígenas no centro da narrativa, com autonomia e verdade. “Queremos que o público não indígena enxergue essas mulheres como guardiãs de saberes e protagonistas de suas próprias histórias. E que os indígenas se vejam representados, para fortalecer o surgimento de novas lideranças”.
Para ela, o cinema é uma ferramenta potente, mas também um ritual de cura e um grito de guerra:
“Cada prêmio e exibição é uma vitória contra o apagamento. Nosso processo foi colaborativo do início ao fim, e é essa conexão que queremos inspirar no mundo”.
Representação e resistência na tela
Ava Kuña, Aty Kuña retrata a assembleia Kuñangue Aty Guasu como símbolo da organização política das mulheres Guarani Kaiowá. A obra evidencia a luta contra o patriarcado, o racismo e as ameaças ambientais que colocam em risco os territórios originários, como a poluição e o uso de transgênicos.
Além de Yvoty Rendyju e Julia Zulian, o documentário foi realizado com a participação de ativistas e coletivos indígenas como Nikita Nhandeva, Sol Terena, Benilda Kadiwéu e o grupo Koa Kuera, consolidando uma prática de criação conjunta que respeita os saberes tradicionais.
Yvoty resume o espírito do projeto com uma citação do cineasta guarani mbya Ariel Ortega:
“Para nós, o mais importante é a construção de uma amizade verdadeira. E foi isso que conseguimos com essa equipe”.

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