
Pluribus, nova série criada por Vince Gilligan (mesmo nome por trás do sucesso Breaking Bad) estreou em 7 de novembro no Apple TV+ e rapidamente se tornou a produção mais assistida da história da plataforma. Com novos episódios lançados todas as sextas-feiras até 26 de dezembro, a série ganhou destaque não apenas pela audiência, mas também pela proposta provocadora.
Estrelada por Rhea Seehorn no papel da protagonista Carol, a produção conta ainda com nomes como Karolina Wydra, Carlos-Manuel Vesta, Miriam Shor e Samba Schutte. Em entrevista ao g1, Gilligan explicou que a ideia central da trama parte de uma mulher considerada “a pessoa mais triste do mundo”, que decide salvar a humanidade da felicidade.
Uma distopia onde ser feliz é regra
Na narrativa, um vírus alienígena transforma a humanidade em uma consciência coletiva de felicidade forçada. Sem guerras, crimes, ganância, religiões ou posses, o mundo aparenta ser perfeito. No entanto, Carol Sturka, uma escritora amargurada e uma das poucas pessoas imunes ao vírus, passa a lutar contra essa mente coletiva para preservar a individualidade humana.
A premissa levanta uma questão inquietante: viver feliz 100% do tempo seria realmente desejável? Embora a ausência de conflitos pareça tentadora, a série sugere que eliminar emoções consideradas negativas também significa perder parte essencial da experiência humana.
A cobrança pela felicidade na vida real
Essa reflexão extrapola a ficção. Em entrevista exclusiva ao Tribuna de Jundiaí, a psicóloga Thaise Góes Carneiro, que atua na região de Jundiaí, explica que a pressão social para estar sempre bem pode trazer impactos significativos à saúde mental.
Segundo ela, sob a perspectiva da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), essa exigência constante cria crenças disfuncionais, como a ideia de que é preciso estar feliz o tempo todo ou de que há algo errado quando isso não acontece.
“Essas crenças geram um padrão de autoexigência irrealista, que ignora a natureza humana das emoções”, afirma.
A psicóloga ressalta que, na prática, esse comportamento aumenta os níveis de ansiedade, favorece quadros depressivos e leva à invalidação emocional.
“A pessoa aprende a negar, reprimir ou sentir vergonha de emoções consideradas negativas, como tristeza, raiva ou medo. Quanto mais se tenta forçar a felicidade, maior tende a ser o sofrimento psicológico”, explica.
Culpa, frustração e ansiedade: um ciclo silencioso
Thaise Góes Carneiro destaca ainda que a crença de que é preciso estar bem o tempo todo contribui diretamente para sentimentos de culpa, frustração e ansiedade. De acordo com ela, na TCC, o sofrimento não está apenas nos acontecimentos, mas na forma como eles são interpretados.
“Quando a pessoa acredita que deveria estar sempre bem, qualquer oscilação emocional passa a ser vista como fracasso pessoal”, pontua. Pensamentos automáticos como “não dou conta” ou “todo mundo consegue, menos eu” alimentam um ciclo de sofrimento, no qual a dor inicial é agravada pela autocrítica intensa. “A pessoa sofre não apenas pelo que sente, mas por achar que não deveria sentir”, resume.
Quando buscar ajuda psicológica
A psicóloga explica que momentos emocionalmente difíceis fazem parte da vida e são respostas naturais a perdas, frustrações e mudanças. No entanto, é preciso atenção quando o sofrimento se intensifica ou se prolonga. Persistência por semanas ou meses, impacto no trabalho, nos relacionamentos e no autocuidado, além de pensamentos rígidos e comportamentos de isolamento, são sinais de alerta.
“Nesses casos, buscar ajuda psicológica não é sinal de fraqueza, mas de autoconhecimento e cuidado com a saúde mental”, afirma Thaise.
Segundo ela, a psicoterapia ajuda a flexibilizar crenças, desenvolver estratégias de enfrentamento e compreender que não estar bem o tempo todo não é um erro, mas parte da experiência humana.