
O que você faria ao ver uma área verde ser incendiada repetidamente, tomada por pasto seco, gado solto e à beira da completa degradação? O engenheiro, mestre em economia e doutorando em administração Carlos Morandi, morador de Jundiaí e diretor do Impact Coalition Institute, decidiu agir.
A área afetada, com 30.108,200 m², está localizada entre os bairros Vale Azul, Jardim Califórnia e Jardim Tarumã. Trata-se de uma Área Municipal de Equipamento Urbano e Comunitário (AEUC), reservada para equipamento público mas inviável para construção, por estar em uma região de nascente e conter 8.000 m² remanescentes de Mata Atlântica, o que a classifica também como Área de Preservação Permanente (APP).
“Hoje, cerca de 22.000 m² estão desmatados, resultado de quatro grandes incêndios nos últimos três anos”, explica Carlos. A situação se agravou com a presença irregular de 16 cabeças de gado e 6 cavalos, observados em 2023, o que aumentou a erosão e dificultou a regeneração natural da área.

Projeto de reflorestamento em Jundiaí nasce da mobilização comunitária
O estopim do projeto aconteceu em 11 de julho de 2022, quando um incêndio devastador atingiu a área. “Tomada por pasto alto, as chamas se espalharam rapidamente. Sem previsão de chegada do Corpo de Bombeiros, eu e vizinhos usamos mangueiras e escadas para conter o fogo, que ameaçava as casas coladas ao muro divisório”, relembra Carlos.

A experiência se repetiu com ainda mais intensidade meses depois, com três focos de incêndio simultâneos. A sucessão de eventos mobilizou os moradores, que decidiram estruturar um plano: um projeto de reflorestamento em quatro fases, ao longo de três anos, com o plantio de até 4 mil mudas de árvores nativas da Mata Atlântica.
A primeira fase já está prevista para setembro de 2025, com o plantio de 800 mudas, e conta com suporte técnico do engenheiro ambiental Renato, da consultoria Árvores da Cidade. O grupo consolidou o plano de ação em um documento técnico de 56 páginas.

Comunidade aprova investimento e espera anuência da Prefeitura
Mesmo sem a garantia legal para plantar na área municipal, os moradores do condomínio Terras de Jundiaí se mobilizaram. Em assembleia condominial, mais de 50 famílias votaram a favor da reserva de R$ 84 mil para custear a primeira fase do reflorestamento.
“O medo de novos incêndios e o risco da presença do gado sensibilizaram os moradores. Foi a maior participação em uma assembleia desde a fundação do condomínio”, relata Carlos.
Entre os benefícios previstos pelo projeto estão:
- Controle da erosão e recuperação do solo;
- Proteção dos recursos hídricos, com a conservação da nascente do Tarumã;
- Valorização da paisagem e do bem-estar coletivo;
- Regulação do microclima e melhoria da umidade do ar;
- Redução do ruído urbano com presença de vegetação;
- Captura de carbono, auxiliando no combate às mudanças climáticas;
- Prevenção de novos incêndios, com a eliminação do pasto seco e retenção de umidade.
Iniciativa pode servir como modelo para toda a cidade
O projeto já recebeu apoio do vereador Henrique Parra, do mandato do Coletivo Cadurme, e do secretário municipal de Planejamento Urbano e Meio Ambiente, André Ferrazzo. A Prefeitura, por meio da UGPUMA, protocolou o despacho PMJ.0016248/2025 para reclassificar a área como Área Livre de Uso Público (ALUP), permitindo legalmente o reflorestamento. No entanto, o processo ainda está em trâmite e não há garantias de autorização até o início das chuvas, em outubro.
Enquanto aguardam o parecer, os moradores seguem com os preparativos técnicos. Além disso, esperam que outras regiões da cidade repliquem o projeto. “Pelo cadastro fiscal do GeoJundiaí, há dezenas de outras áreas similares, classificadas como AEUC e desocupadas, que poderiam ser restauradas. Em Campinas, já foram plantadas mais de 500 mil mudas desde 2021. Jundiaí pode trilhar esse caminho”, afirma Carlos.
Para ele, a Jornada Ambiental iniciada no condomínio Terras de Jundiaí pode se tornar um piloto de políticas públicas sustentáveis, inclusive com o envolvimento de escolas, voluntários e empresas em busca de compensação de passivos ambientais junto à CETESB. “Nosso projeto não usa dinheiro público, resolve um problema ambiental e ainda ajuda a cidade a cumprir metas de reflorestamento. Falta apenas vontade política para destravar o processo.”
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